Apesar do cenário de retração no 1º semestre, perspectiva é boa para as aplicações de maior risco.
Quando a saúde da economia não vai bem, a primeira reação do investidor é recuar. Mas nem sempre um cenário de vacas magras indica que os lucros tendem a evaporar. O momento é propício não só para aplicar em renda fixa, mas também para ousar em investimentos mais arriscados, avaliam analistas ouvidos pelo iG.
O Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre confirmou o que era temido pelo mercado: um encolhimento de 0,6%. Somado à queda de 0,2% dos três primeiros meses do ano, o resultado sinaliza para a estagnação da economia. Quase por ironia, a Bolsa de Valores tem dado alegria desde o início do ano, após longo período de apagão. De janeiro a agosto, subiu 17%.
Parte desses ganhos reflete o bom humor do mercado com a possibilidade de mudanças na política econômica em 2015, seja qual for o presidente eleito. Mas outro fator, mais consistente, também alimenta esse otimismo na renda variável, na opinião do sócio da Órama Investimentos, Álvaro Bandeira.
Para o especialista, o pior já aconteceu. “Nossa expectativa é de que a situação melhore daqui para frente”. As demissões na indústria automotiva, o esfriamento do crédito e os cortes nos investimentos corporativos podem virar coisas do passado, acredita o analista.
Por esse motivo, sustenta Bandeira, é momento de aumentar a exposição a aplicações de risco (renda variável), em vez de ficar na defensiva. Isto é, alocar uma parte maior do patrimônio em renda variável. O ensinamento é seguir uma das regras básicas do investidor: mirar sempre o futuro, jamais olhando pelo retrovisor.
O diretor da Easynvest, Amerson Magalhães, concorda que, apesar do cenário incerto na economia, o investidor mais arrojado encontra um momento favorável para aumentar sua exposição no mercado de ações.
No primeiro semestre, de 11 investimentos, apenas dólar e euro tiveram desempenho negativo. Títulos indexados à inflação, por exemplo, renderam quase 8% desde o início do ano.
Fundos multimercados também são uma boa opção para ampliar a exposição ao risco, na opinião do analista da Órama. Bandeira recomenda apostar em ações ligadas ao segmento de commodities – beneficiado pela expansão da economia global e pela demanda de investimentos em infraestrutura – e papéis de grandes bancos, assim como ações do setor educacional, em processo de consolidação e favorecido por fusões.
O VP de investimentos da Sul América Investimentos, Marcelo Mello, recomenda cautela com aplicações de maior risco, “Independentemente do presidente eleito este ano, investimentos agressivos como fundos de ações e multimercados podem sofrer no curto prazo, em razão de um cenário volátil nos próximos meses”, diz.
Na visão do especialista, um ambiente de crescimento baixo e inflação acima do centro da meta ainda causam incertezas e volatilidade aos mercados. Contudo, diz Mello, se o mercado conseguir segurar a inflação e estimular o crescimento, os fundos ou ativos atrelados à Bolsa podem se destacar.
“O mais importante é que esse tipo de investimento leva mais tempo para maturar e o investidor deve avaliar se tem perfil para isso”, diz.
Proteção do patrimônio deve ser a mesma
Para Magalhães, da Easynvest, não é só em momento de retração do PIB que o investidor deve pensar em proteger seu patrimônio. Mas se o cenário atual causa preocupação excessiva a quem tem perfil mais conservador, a recomendação é apostar em papéis de renda fixa pós-fixados, que acompanham a oscilação da taxa de juros.
“Podem ser títulos públicos como as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) ou privados, como um CDB (Certificado de Depósitos Bancários) indexado ao CDI e aplicações de renda fixa indexadas à taxa Selic”, recomenda Magalhães.
Com a inflação controlada em julho (alta de apenas 0,01%) e a Selic mantida em 11% pela terceira vez este ano, sem viés de alta, já existe um movimento no mercado que aposta em uma possível redução da taxa de juros – apesar de analistas não acreditarem nessa possibilidade.
Isso tem incentivado um volume maior de compras de títulos pré-fixados do Tesouro Direito, as LTNs (Letras do Tesouro Nacional) e papéis de longo prazo como as NTNs (Notas do Tesouro Nacional), que são beneficiadas quando a Selic cai no curto prazo.
Como opções mais seguras para proteger o capital, Mello, da Sul América, sugere as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliárias), que são isentas de Imposto de Renda e pagam juros atrelados à Selic. “Além disso, os fundos de renda fixa podem ser uma boa opção”.
Momento não é propício para investir em imóveis
O recente esfriamento nas vendas de imóveis tem afastado investidores deste mercado. Uma pesquisa do portal Zap em parceria com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), divulgada em agosto, mostrou que o número de pessoas que comprariam com o objetivo de investir caiu de 48%, no primeiro trimestre desse ano, para 34%, de abril a junho.
A queda real de preços (alta abaixo da inflação) dos imóveis foi amenizada pela estagnação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em julho, que ficou em 0,01%. Com isso, até agosto, a evolução dos preços foi de 0,8 ponto percentual acima do índice, de acordo com o FipeZap.
“O momento não é tão favorável para investir. Os dados econômicos ampliaram o risco de desemprego e inadimplência, o que pode gerar um efeito negativo nos investimentos imobiliários”, acredita Magalhães, da Easynvest.
Para Bandeira, analista da Órama, a queda nos preços dos imóveis ainda tem espaço para desacelerar, motivo pelo qual é recomendável esperar um pouco mais para que o mercado chegue ao fundo do poço. “Acredito que após as eleições o quadro imobiliário estará melhor definido”, diz.