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Brasil sentiria separação da Escócia, diz embaixador do Reino Unido

Brasil sentiria separação da Escócia, diz embaixador do Reino Unido

Divulgação/Embaixada do Reino Unido no Brasil

Alex Ellis

O embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, acordou nesta sexta-feira (19) aliviado com a vitória do “não” à independência da Escócia no referendo realizado no dia anterior. Ativo no Twitter (@AlexWEllis), fez questão de postar na rede social que estava feliz "por ainda hoje representar o mesmo país que ontem”.
Em entrevista ao G1, Ellis conta que, apesar do resultado, é preciso trabalhar muito para cumprir as promessas feitas ao Parlamento escocês e, principalmente, se esforçar para eliminar o espírito separatista da Escócia.
Sem comentar as possíveis consequências da saída da Escócia do Reino Unido – já que, segundo ele, é algo que não vai acontecer – o embaixador explica que o Brasil poderia sentir impactos dessa separação.
Alguns dos setores atingidos seriam o programa Ciência Sem Fronteiras, que dá bolsas de estudo para que brasileiros estudem no exterior, e investimentos feitos na área de exploração de petróleo e gás.
Em discurso proferido no mês passado, no Rio de Janeiro, Ellis explicou que a exploração em águas profundas realizada na costa brasileira contaria com a experiência de empresas que já aplicam essa tecnologia no Mar do Norte, na costa escocesa, em um esforço de negócios “britânico, não inglês ou escocês", mas não comentou o impacto direto e financeiro.
Autonomia para a Escócia
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, prometeu nessa sexta-feira que “assim como o povo da Escócia terá mais poder sobre seus assuntos, os povos da Inglaterra, Gales e Irlanda do Norte devem ter um poder maior sobre os seus" e deu a questão do referendo como encerrada. “Chegou o momento para nosso Reino Unido unir-se e seguir adiante”, em um discurso feito em Londres.

De acordo com o embaixador, a Escócia recebeu grande autonomia a partir de 1997, com o ex-primeiro-ministro Tony Blair, e agora, segundo as promessas feitas pelos partidos pró-união, o governo terá aumento na liberdade de gastos, que inclui a autorização para elevar o recolhimento de impostos sobre rendimentos e melhor repartimento nos gastos do Sistema Nacional de Saúde.
O que vai entrar em discussão a partir de agora, segundo Ellis, é o poder de voto de parlamentares escoceses para projetos que impactam somente as outras três nações – Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. Uma comissão será montada para debater o assunto e resolvê-lo antes das eleições parlamentares britânicas, previstas para acontecerem em maio de 2015.
Reino Unido fora da União Europeia
Sobre como será combatida a rixa entre os grupos que apoiaram o “não” e o “sim”, Ellis afirma que a poeira só vai baixar se os resultados forem respeitados e todos os partidos cumprirem o que foi prometido. “O Reino Unido está crescendo mais uma vez. É preciso respeitar a vontade política e entender as vozes diferentes que existem para avançar”.

Apesar desta questão já ter sido resolvida, o sentimento separatista pode prevalecer na região sob efeito do referendo marcado por David Cameron para saber se a população quer que o Reino Unido permaneça ou não na União Europeia. A data ainda não foi definida, mas a ideia é que a manutenção do país no bloco só acontecerá sob duas condições: a reforma da União Europeia e a renegociação das relações com os britânicos.
“Não há uma posição do governo britânico sobre isso, mas sim a posição do Partido Conservador (ao qual pertence o atual primeiro-ministro). Então, tudo que acontecerá sobre essa questão vai depender do resultado das eleições de 2015. É preciso um debate maduro e democrático [sobre o tema], mas não é possível fingir que não há tendências que existem dentro do país”, complementa, Ellis.