Para os camponeses e as camponesas esse é um importante momento para a reflexão e resolução dos problemas centrais na vida de cada alagoano. "
Reunindo cerca de 500 Sem Terra, o último encontro da Coordenação Estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Alagoas, aprovou uma carta aos oito candidatos ao Governo do Estado.
Para os camponeses e as camponesas esse é um importante momento para a reflexão e resolução dos problemas centrais na vida de cada alagoano. "Os períodos eleitorais devem ser momentos de debate sobre as grandes questões estruturais da sociedade alagoana e brasileira, apontando a natureza de nossos problemas e as soluções necessárias", pontuam na nota.
Dividida em dois eixos gerais, terra e assentamentos, a carta traz os principais elementos que vão nortear as lutas e o diálogo no período de mandato do próximo governo estadual, entre eles a exigência da desapropriação das fazendas endividadas com órgãos do governo, indícios de trabalho escravo e as terras às margens do Canal do Sertão para fins de Reforma Agrária, assentando as famílias que vivem acampadas. Também cobram a construção de agroindústrias para o beneficiamento da produção e infraestruturas nos assentamentos do estado.
Débora Nunes, da Coordenação Nacional do MST, destacou o compromisso do Movimento de permanecer em luta em todo o estado, independente do governador eleito, na defesa de uma vida digna para os trabalhadores rurais. "Nenhum governo fez nada de graça para os trabalhadores e trabalhadoras, o que conquistamos até aqui foi com muita organização e muita disposição de lutar. Apresentamos esse documento aos candidatos com as nossas urgências para o estado, mas reafirmando nosso compromisso em seguir em marcha na construção da Reforma Agrária Popular", afirmou.
Carta do MST aos candidatos ao Governo de Alagoas
Somos frutos de uma realidade marcada por profundas desigualdades e contradições politicas, econômicas e sociais que fazem do nosso estado campeão nos piores índices socioeconômicos do nosso país. Um estado que trás na sua essência o abismo gerado pela exploração secular da cana-de-açúcar, que produziu algumas poucas famílias muito ricas, concentradoras da terra e riquezas e alguns milhões de alagoanos desprovidos das condições mínimas de existência com dignidade.
Neste momento eleitoral, assistimos a estes problemas todos os dias através dos programas eleitorais dos senhores candidatos, e para além de tais constatações entendemos que os períodos eleitorais devem ser momentos de debate sobre as grandes questões estruturais da sociedade alagoana e brasileira, apontando a natureza de nossos problemas e as soluções necessárias.
Há 30 anos no Brasil e 27 em Alagoas, o MST tem contribuído com a democratização da terra, através da luta pela Reforma Agrária. Fruto desta luta, milhares de pessoas não estão na periferia das cidades à mercê da violência social, contudo ainda falta muito para garantirmos a efetiva cidadania e o cumprimento do nosso papel de camponeses, contribuindo de forma permanente na construção de uma sociedade justa, igualitária e democrática.
Assim apresentamos as questões que seguem aos candidatos, as quais orientaram o dialogo e a luta da nossa organização no próximo período:
TERRA:
1. A terra precisa ser democratizada e cumprir com sua função social. A responsabilidade da ação constitucional de reforma agrária é de responsabilidade da União, contudo entendemos que o governo estadual deve envolver-se, buscando e propondo ações para resolver as questões e demandas para o assentamento de todas as famílias acampadas, propomos como medidas:
1.1 Destinação das terras que margeiam o Canal do Sertão para fins de Reforma Agrária;
1.2 Desapropriação pelo governo estadual de áreas para fins sociais objetivando assentar famílias acampadas, evitando despejos, violência e a aglomeração de mais trabalhadores nas favelas urbanas;
1.3 Desapropriação de fazendas endividadas com os bancos públicos e órgãos do governo, bem como das áreas onde houver identificação com exploração de trabalho escravo e as que não cumpram a função social.
1.4 Arrecadação de terras griladas e devolutas, pois como já está sendo mapeado, há um grande avanço dos latifúndios sobre terras públicas (que precisam ser retomadas);
1.5 Solidarizamo-nos com a luta e às reivindicações, para a imediata demarcação e legalização de todas as áreas indígenas e quilombolas e as de posse de ribeirinhos, pescadores e comunidades tradicionais, como estabelece a Constituição Federal de 1988.
1.6 Apuração e punição aos mandantes e assassinos dos trabalhadores e trabalhadoras no campo alagoano.
ASSENTAMENTOS:
2. O assentamento deve ser um território de organização, produção, reprodução e garantia de nossa vida, lugar de defesa e construção de um modelo de agricultura, com a produção de alimentos saudáveis e acesso aos bens sociais e culturais. Para isso, é necessário assegurar condições estruturais de fortalecimento da organização social e da produção que garanta condições dignas de vida às populações camponesas:
2.1 Construção de um programa de mecanização que possibilite o acesso a implementos agrícolas nos assentamentos para fomento à produção;
2.2 Criação de uma Politica de recuperação e preservação de sementes crioulas através de bancos comunitários de sementes e politica de fomento a produção em escala de sementes e posterior distribuição aos agricultores;
2.3 Apresentação de um Programa de Irrigação para os assentamentos da reforma agrária, em especial, do Agreste e Sertão, para fortalecer a atividade agrícola e pecuária;
2.4 Infraestruturas necessárias para a produção e a vida social nos assentamentos: estradas, abastecimento de água para consumo e produção, melhoria no fornecimento de energia elétrica para consumo familiar e garantia de energia para a produção;
2.5 Garantia de construção de agroindústrias de pequeno e médio porte para beneficiamento da produção, agregando valor e aumentando a renda das famílias;
2.6 Viabilizar a realização das Feiras da Reforma Agrária;
2.7 Politica de aquisição de alimentos para hospitais, presídios e outros;
2.8 Construção da Escola Agroecológica da Reforma Agrária para formação técnico profissional da juventude camponesa;
2.9 Garantia da Escola Itinerante para as crianças acampadas;
2.10 Construção de unidades poliesportiva e de lazer nos assentamentos;
2.11 Construção de Escolas Polos de Ensino Médio na zona rural
2.12 Criação de Lei Estadual de proibição ao uso de agrotóxicos e a produção de alimentos com o uso de sementes transgênicas, em especial do milho;