Pedido de prisão temporária foi feito pela polícia após identificar suspeito.
A Justiça do Rio de Janeiro aceitou e expediu, na noite de segunda-feira (10), o pedido de prisão temporária do homem suspeito de ter acendido o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes. Ele foi identificado após ajuda de Fábio Raposo, que confessou ter participado da ação e está preso desde domingo (9). Leia a íntegra da decisão judicial ao final desta reportagem.
Até as 6h desta terça-feira (11), o suspeito não havia se apresentado na 17ª DP (São Cristóvão), onde é feito o inquérito policial. Esse era o prazo para o suspeito se apresentar espontaneamente em qualquer delegacia. Como ele não se entregou, policiais podem ir às ruas nesta terça para cumprir o mandado de prisão.
O delegado Maurício Luciano, que conduz as investigações, disse que levou uma foto do suspeito para Fábio Raposo, que está à disposição da Justiça, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste do Rio, onde cumpre prisão temporária de 30 dias. Ele reconheceu o autor do disparo. Os dois vão responder por homicídio doloso qualificado, pelo uso de artefato explosivo, e também pelo crime de explosão. Se condenados, a pena pode ser de até 35 anos de prisão.
Segundo o delegado, o autor do disparo tinha intenção de matar. "Foi um homicídio intencional. Não foi um atentado à liberdade de imprensa. Infelizmente, o Santiago estava na linha de tiro. A intenção era ferir ou matar os policiais. Segundo o Fábio, ele tinha um perfil violento, pelo porte físico", explicou Luciano.
De acordo com a decisão judicial, "o suspeito foi apontado por acender e posicionar o artefato que tingiu o cinegrafista". O texto expedido pelo Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro diz ainda: "A prisão temporária deve ser decretada para a garantia da ordem pública, da futura aplicação da Lei Penal e da futura instrução criminal. Há evidente necessidade de se resguardar a instrução, a fim de que as provas sejam colhidas garantindo-se, ao final, a instrução criminal da causa, que merece integral apuração, dada a lesividade social para que os eventos violentos não mais se repitam".
Ao deixar a delegacia na tarde de segunda-feira, o advogado de Raposo, Jonas Tadeu, havia antecipado que tinha o nome, número de identidade e CPF do homem que acendeu o rojão que atingiu e matou o cinegrafista da TV Bandeirantes. "Eu passei para a autoridade policial o nome do rapaz que estava ao lado do Fábio. Ou seja, um dos acusados de ter arremessado o rojão. Eu apenas disse que tenho o nome da pessoa, a qualificação civil", disse o advogado.
Tadeu explicou como conseguiu as informações: "O Fábio Raposo não me deu o nome do rapaz. O Fábio conhece ele por codinome, e me passou uma pessoa que eu poderia chegar a ela, e essa pessoa me passaria o nome certo e a qualificação".
No domingo, ao ser detido e levado para a delegacia, Raposo declarou em depoimento não conhecer o homem que aparece nas imagens usando calça jeans e blusa cinza suada, mas disse que já o tinha visto em outras manifestações.
O perito Nelson Massini, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que analisou as imagens da TV Brasil, a pedido da Globo, disse que Raposo e o outro homem de blusa cinza agiram juntos.
Em um ponto do vídeo, quando a imagem fica distante e os dois se misturam a outras pessoas, a imagem é aproximada e congelada pelo perito. Então surge um ponto luminoso que, segundo o perito, é o artefato sendo aceso.
Quando perguntado se os dois rapazes estão juntos na ação, Massini respondeu que "na parte superior [do vídeo] se vê o outro participante numa perfeita integração [com Raposo]". "As duas pessoas estão aqui [no vídeo] integradas nessa ação. Eles estão juntos", afirmou o perito.
Em outro ponto, quando o homem de blusa cinza já está se abaixando, ele tem um objeto na mão. Segundo Massini, há uma faísca. "Nós observamos nessa extremidade [que] a chama já está presente. Então ele, nesse momento, já está com o artefato aceso, colocando no chão. [A imagem] é conclusiva. Ele acende num determinado instante, tem o tempo suficiente e aqui neste momento [a chama] já está acesa. Não há como contra-argumentar, dizer que não, que ele estaria colocando outro objeto. Não só é o objeto, que foi aceso com os dois, e é colocado por esse que está de calça jeans, já aceso, ao chão", explicou o perito.
Delação premiada
O advogado de Raposo disse que o delegado Luciano descartou o benefício da delação premiada para o suspeito preso. "Não está valendo. Mas isso vai ser uma discussão que eu vou levar para juízo", afirmou Jonas Tadeu.