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Desafios para a casa do futuro

"O Google nasceu por conta do conhecimento, não da IBM. E quando a onda era social, foi a vez do Facebook, não do Google. Portanto, temos isso a nosso favor e precisamos ver como as coisas se desenrolam."

Divulgação

Fechaduras, lâmpadas, banheiras, e eletrodomésticos inteligentes, controladas por smartphones serão comuns

A casa do futuro – completa, com ajudantes robóticos e eletrodomésticos automatizados – é há muito tempo um tema frequente na ficção científica, mas o mundo da tecnologia está determinado a transformá-la em realidade. Em breve, qualquer coisa, de produtos para o jardim a acessórios para o banheiro, será controlada por um simples toque no smartphone. Antes de colocar o pé em casa, o morador poderá desligar o sistema de segurança, ligar o chuveiro e começar a pré-aquecer o forno. O conceito de colocar sensores em objetos do dia a dia e conectá-los à internet, muitas vezes chamado de a "internet das coisas", está cozinhando em fogo baixo há muitos anos. Entretanto, o anúncio em janeiro de que o Google pagou US$ 3 bilhões pela Nest, uma fabricante de eletrodomésticos ligados à internet, colocou uma espécie de selo de qualidade nesse mercado nascente.
"O Google está mostrando que a internet das coisas não é uma tendência passageira", afirmou Jason Johnson, executivo-chefe da August, uma empresa que fabrica fechaduras inteligentes controladas por um aplicativo para smartphones. "Esse é um setor legítimo e estou empolgado que grandes empresas o estejam levando a sério.”

Até o momento, muitos dos maiores avanços foram feitos por empresas pequenas. A SmartThings, uma iniciante de Washington, D.C., vende um kit de pequenos sensores que monitoram os níveis de umidade e detectam movimentos. A Canary, uma empresa de Nova York, trabalha com um sistema de segurança por vídeo que envia alertas sempre que nota uma mudança drástica na temperatura, na qualidade do ar, nos movimentos, entre outros. E, conforme sugere o acordo com o Google, grandes empresas já estão se posicionando para também se tornarem parte desse cenário crescente. Muitas empresas de TV a cabo, incluindo a Time Warner Cable e a AT&T, oferecem sistemas domiciliares conectados que incluem eletrodomésticos e lâmpadas. Até mesmo a Staples, a rede varejista, vende produtos como lâmpadas que são controladas por um aplicativo para smartphones.

A Apple, que não quis se pronunciar para esse artigo, também parece ter algum interesse na área. O sistema AirPlay da empresa permite que o iPhone se transforme em um controle remoto, por exemplo. Além disso, eles criaram patentes de softwares que controlam aparelhos secundários, o que poderia incluir uma série de produtos domésticos.

Capitalistas de risco também estão pegando essa onda e investiram quase US$ 500 milhões em produtos conectados e empresas do setor, desde o início de 2012. A motivação por trás de todos esses produtos é óbvia: o mercado global para produtos domésticos conectados pode chegar a US$ 40 bilhões nos próximos cinco a sete anos, afirmou Gene Munster, analista da Piper Jaffray. Porém, há mais que apenas dinheiro em jogo. Trata-se da chance de conseguir um lugar na nova onda tecnológica e, possivelmente, se tornar um nome familiar entre os produtos para o consumidor, talvez o equivalente da nova geração da Apple, ou da General Electric. Todavia, para que isso seja possível, cada um dos novos competidores precisa superar uma série de dificuldades para atrair a atenção no mercado instável dos consumidores.

Uma parte considerável da excitação inicial em relação aos produtos conectados com a internet foi direcionada aos produtos que podem ser vestidos, como relógios inteligentes ou sensores para a prática esportiva. Esses aparelhos muitas vezes acompanham os níveis de atividade física ou medem os sinais de saúde, exibindo os batimentos cardíacos ou os níveis de pressão sanguínea. Contudo, à medida que as capacidades aumentam e os preços caem, as possibilidades para aparelhos inteligentes também se expandem para outras áreas. Agora, existe uma demanda para os produtos em questão.

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– Cientisfa acredita que nossa privacidade pode estar em risco

Um dos desafios é que custa caro criar uma casa conectada. Ao menos por enquanto, os produtos "inteligentes" custam muitas vezes mais que os tradicionais. Por exemplo, o detector de fumaça e monóxido de carbono da Nest custa US$ 129, ao passo que muitos dos outros custam US$ 40 ou menos. A Nest estima que seu termostato de US$ 249 seja seu produto mais popular, mas ele está presente em menos de 1% das casas americanas.

Muitas pessoas também se mostram relutantes com a possibilidade de adicionar mais aplicativos e serviços digitais em suas vidas. Além disso, muitos dos produtos que já estão no mercado não são plenamente compatíveis, já que muitas empresas brigam para se tornar o serviço dominante. Isso sem falar nos dados que são gerados por muitos desses aparelhos – um grande número de informações. Alguns usuários podem achar que os alertas e notificações frequentes são sufocantes ou difíceis de entender.
Benjamin Norman/The New York Times
Adam Sager, CEO da Canary, empresa de segurança por vídeo: promessa de controle remoto da casa

Ainda assim, muitas empresas creem que a gama ampla de produtos e a riqueza dos dados possíveis sejam um bom argumento de vendas e que, com o tempo, os consumidores irão superar isso. A ideia de digitalizar determinadas partes da vida pessoal "atraiu um movimento de pessoas que gostam de criar métricas para todas as coisas e analisar cada aspecto de suas vidas para melhorá-la", afirmou Cédric Hutchings, executivo-chefe da Withings, uma empresa que fabrica produtos médicos e monitores de sono conectados à internet e que, segundo os fundadores, tem "crescido rapidamente nos últimos cinco anos".

Aparelhos inteligentes também precisam enfrentar temores acerca de segurança e privacidade. Um hacker poderia, teoricamente, alvejar uma fechadura inteligente ou um sistema doméstico de segurança, por exemplo, e muitas questões foram levantadas acerca dos dados coletados pelos produtos e que podem ser utilizados pelas empresas que os fabricam. A August, empresa que está trabalhando para criar as fechaduras inteligentes, não fará envios até ter certeza de que o sistema está completamente livre de falhas. Embora a empresa diga que dezenas de milhares de pessoas fizeram pedidos, ela está retardando o lançamento do sistema para realizar uma rodada de testes vigorosos feita por pesquisadores de segurança, que buscarão falhas de segurança no software.

Apesar de todas as dúvidas, a indústria de tecnologia continua confiante acerca das possibilidades. A compra feita pelo Google deixou isso claro, e o acordo deixou arrepiados empresários e iniciantes que concorrem – a maioria longe dos holofotes – por um espaço no mercado crescente. "Este é o ano da virada", afirmou Alex Hawkinson, fundador e executivo-chefe da SmartThings. "Uma afirmação tão contundente quanto essa por parte das grandes empresas de tecnologia faz todo mundo começar a pensar sobre o espaço. Os grandes nomes estão começando a acordar para a oportunidade e é provável que ela se acelere."

Entretanto, Hawkinson afirmou que embora a novidade da compra feita pelo Google o tenha deixado igualmente animado e perplexo, ele acredita que tem uma boa chance, assim como qualquer outro empreendedor. "O Google nasceu por conta do conhecimento, não da IBM. E quando a onda era social, foi a vez do Facebook, não do Google. Portanto, temos isso a nosso favor e precisamos ver como as coisas se desenrolam."