“As empresas, que estão lendo sobre o caso, podem repensar o modo de atuar, se vão patrocinar ou não”, alerta Gustavo
O vôlei vive um momento de crise com a CBV (Confederação Brasileira de vôlei) na mira depois que o canal ESPN divulgou que empresas de pessoas de dentro da entidade recebiam ilegalmente por contratos de publicidade. Os atletas dizem se sentir traídos diante desse cenário e, além de exigirem apuração dos fatos, temem pelos contratos com atuais e possíveis novos patrocinadores da modalidade.
A cada Superliga alguns times enfrentam problemas com os patrocinadores. Nesta temporada, o atual campeão RJ Vôlei ficou sem a verba da OGX, perdeu jogadores e não conseguiu repor um patrocínio do mesmo valor até o final da participação no torneio nacional, com a eliminação nas quartas de final. A preocupação dos atletas é que essa situação ainda piore.
“A temporada está acabando e, para a maioria das equipes, é hora de ir atrás dos patrocinadores. E as empresas, lendo todas essas matérias que estão saindo, podem repensar o modo de atuar no vôlei, se vão patrocinar ou não”, alerta Gustavo, campeão olímpico e mundial com a seleção e jogador do Kappesberg Canoas em entrevista exclusiva ao iG.
Para o veterano, o escândalo ainda não afetou a relação com as empresas, mas é melhor ter cautela. “Acho que ainda não chegou, ainda está tudo muito aberto (as investigações sobre as acusações dos contratos da CBV). Aquele patrocinador que sempre investiu vai continuar investindo e aquele que é novo pode se interessar porque o produto é bom, mas é um momento de ter cuidado. A gente tem conversado muito e tem que ter um cuidado muito grande com o que a gente fala, faz e comenta nas redes sociais para não afastar qualquer possível patrocinador”, explica.
Gustavo, que também atua nos bastidores do time do Canoas e participa, por exemplo de reuniões com empresas. “A gente tem que vender o nosso produto, que é o voleibol, e ele é um baita de um produto, da melhor maneira possível e ainda atrair mais patrocinadores”, afirma o central.
E por sair em defesa do esporte que ele diz se sentir traído diante das denúncias recentes. “Isso está manchando o que o voleibol construiu, de ser um exemplo. O vôlei sempre foi visto como um esporte limpo. Agora ver esse escândalo realmente me deixa perplexo e bastante indignado, com um sentimento de traição. A gente dá o nosso melhor e ainda vê que tem gente, se for comprovado, que está levando dinheiro por fora”, desabafa.
Ele não foi o único. Atletas se manifestaram nas redes sociais e também mostraram indignação. "Ta de brincadeira só quero ver o que vai acontecer com esse dinheiro!! Gente ficando rica as custas dos nossos joelhos,ombros e tornozelos!!", escreveu Murilo, da seleção brasileira e do Sesi no dia 10 de março em seu Twitter.
Entretanto, para Gustavo, ainda não é o momento de agir. O central faz parte, ao lado de William, levantador do Sada Cruzeiro, Bruninho, ex-RJX e Murilo e Lucarelli, ambos do Sesi, da comissão de atletas. Eles não têm poder de voto, mas participam de algumas reuniões na CBV. “A gente tem conversado muito nesses últimos 10 dias e é um momento muito delicado e a gente espera que se resolva da melhor maneira possível e seja feita justiça. Mas a gente vai esperar um pouco mais até tomar uma atitude para ver o desenrolar disso tudo. Não vamos tomar nenhuma atitude agora”, fala.
Na sexta-feira, dia 14 de março, foi divulgado o pedido de renúncia de Ary Graça, que era presidente licenciado da CBV desde que assumiu o comando da FIVB (Federação Internacional de vôlei). “Ele vai tentar se defender de todas as acusações. O Marcos Pina e o Fabio Azevedo também já saíram, que também foram acusados, e agora o Ary. Temos que investigar a fundo isso e punir os culpados”, falou Gustavo.
Marcos Pina e Fabio Azevedo estão supostamente envolvidos no escândalo e as duas empresas as quais eles faziam parte receberiam, cada uma, R$ 10 milhões por comissões nos contratos de publicidade da CBV.
Novos nomes já apareceram na confederação. Em novembro do ano passado, os ex-jogadores Renan dal Zotto e Leila foram convidados para integrar o comitê gestor da Superliga. Em janeiro deste ano, Radamés Lattari, ex-técnico da seleção, também passou a integrar a diretoria da CBV.
“Trabalhei com Renan e Radamés e sei que são pessoas do bem. Acho que vai ser uma bela de uma mudança e que vai fazer com que a gente melhore. Temos que colocar gente na confederação que esteja realmente engajada com o voleibol e que tenha isso como paixão como a maioria de nós, jogadores e dirigentes, para recolocar o esporte no lugar que ele merece, como exemplo para o Brasil”, analisa o central.