O problema é quando eles acontecem com frequência e, pior, não são contornados pelos pais com a devida atenção e orientação à criança.
De repente, chega da escola a reclamação de que o filho mordeu o coleguinha pela décima vez. No outro dia, o drama é pela birra que ele fez no shopping. Depois, a briga é para que ele saia da frente da TV e vá tomar banho. Comportamentos como estes são comuns na infância. O problema é quando eles acontecem com frequência e, pior, não são contornados pelos pais com a devida atenção e orientação à criança.
Para o psicólogo Gustavo de Lima Bernardes Sales, coordenador do Núcleo da Criança e do Adolescente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, não dá para simplesmente “taxar” um comportamento de positivo ou negativo. “Existem muitas variáveis que contribuem para um determinado tipo de atitude. Pode ser por influência familiar, social, da escola ou da própria criança”, diz. No entanto, o que os pais devem fazer é observar de perto os motivos que levam os pequenos a adotar certas ações. “Esta não é uma tarefa fácil. Mas com uma linguagem simples e de caráter afetivo, os adultos devem criar mecanismos para que os filhos reflitam sobre os atos, além de mostrar a eles outras formas de se relacionarem”, alerta o profissional.
Outro ponto importante, destacado pela psicanalista Edna Maria Romano Wallbach, é a questão do exemplo que vem de dentro de casa. “Se os pais gritam ou falam palavrão, os filhos tendem a copiar o que veem”, esclarece. Sendo assim, para combater comportamentos negativos, o melhor mesmo é os adultos se vigiarem. Afinal, se o pai vive cruzando o farol vermelho no trânsito, como vai exigir que o filho não quebre as regras? Fica difícil.
Ainda com relação ao ambiente familiar, impor limites também é essencial para o bom desenvolvimento dos pequenos. “Mas com amor, sem xingar ou gritar”, afirma Edna. No caso de comportamentos considerados inadequados, a psicanalista orienta conversar com a criança, colocar no quarto para pensar ou, até mesmo, tirar dela algo que ela goste por um certo tempo. “Os filhos pedem limite. Quando isso acontece, eles se sentem cuidados e protegidos”, comenta.
Veja as dicas de especialistas para lidar com oito comportamentos comuns na infância:
Birra em locais públicos
Basta entrar no shopping e passar pela primeira vitrine de brinquedos para a birra começar. A criança se joga no chão e começa a dar aquele “show”. Infelizmente, não existe uma fórmula mágica para lidar com este tipo de conduta. Chamar o filho de canto ou tentar acalmá-lo são estratégias que podem funcionar em alguns casos, e em outros não. De acordo com a psicóloga Paula Pessoa Carvalho, especialista em comportamento infantil, esta é uma forma clássica de testar o limite dos pais. Como regra geral, ela orienta ignorar o chororô e, depois que a criança se acalmar, abaixar na altura dela e falar com calma que reprova a atitude. “Também é importante que os adultos não cedam à vontade dela. Digam simplesmente que não gostaram do comportamento e encerrem a conversa”, diz.
Tirar sarro dos amigos
Na escola, no condomínio ou até mesmo no ambiente familiar, sempre tem alguém que é alvo de piadas. No entanto, assim que identificado, o bullying deve ser combatido imediatamente pelos pais. De que forma? Explicando e demonstrando aos filhos valores como consideração pelas diferenças e respeito ao próximo. “Mais uma vez, passamos pela questão do exemplo. Se, na família, a criança convive com pais que fazem fofoca e falam mal dos outros, é possível que ela faça o mesmo”, comenta a psicanalista Edna.
Bater ou morder os coleguinhas ou os pais
Seja na disputa por um brinquedo ou porque é contrariada, muitas vezes, a criança reage com um tapinha ou com uma mordida. Em algumas ocasiões, a agressividade pode ser considerada um ato de defesa, mas, em boa parte do tempo, é uma forma de chamar a atenção. O fato é que tanto os pais como os educadores precisam orientar os pequenos de maneira correta. “Simplesmente dizer que aquilo não foi legal não é suficiente. Além de explicar que atos assim podem machucar o outro, é necessário que os adultos entendam as razões da agressividade”, aconselha Sales. Nestes casos, o cuidador ou responsável deve agir como um mediador e mostrar outras alternativas de a criança solucionar um conflito, sem usar de violência.
Exigir que os pais comprem tudo
“Eu quero” é, certamente, uma das frases que os pais mais ouvem dos filhos. No livro “A Criança do Século XXI: As Crianças Mudaram ou Foi o Mundo Que Mudou?” (editora Juruá, 2013), a psicanalista Edna Wallbach identifica que a busca pelo prazer imediato é uma das principais características no comportamento infantil nos dias atuais. “A criança tem de saber esperar, não pode ter tudo na hora que quer. Precisa aprender a lidar com a frustração”, explica a profissional. Desta forma, a melhor maneira de agir é explicar que não vai comprar o objeto naquele momento e que, em uma outra data, o filho poderá ganhar o tal presente.
Falar palavrão e xingar as pessoas
Ao serem contrariadas, muitas crianças reagem com palavrões ou xingamentos. Se o adulto tem o impulso de devolver a agressão, não vai colaborar em nada para a mudança de comportamento dos filhos. Pelo contrário. Como eles agem muito pelo exemplo, é aconselhável que vivam em um ambiente em que haja respeito e no qual não sejam adotadas palavras de baixo calão. “Neste caso, ao invés de xingar de volta, o pai ou a mãe deve parar e dizer que aquela atitude o deixou magoado”, esclarece o psicólogo Gustavo Sales.
Passar muito tempo sozinho
Se o seu filho nunca quer ir à festinha com os amigos, passa tempo demais no quarto sozinho ou se recusa a ir à casa do colega de classe para fazer o trabalho de ciências, é hora de ligar o sinal de alerta. Introspecção em excesso e falta de socialização podem gerar sérios problemas de relacionamento no futuro. “As crianças precisam de interação”, afirma a psicóloga Paula Pessoa Carvalho. A profissional diz, ainda, que, nestes casos, é aconselhável que os pais estimulem atividades em grupo e a convivência com amigos. Além disso, é preciso sempre dialogar com o filho para entender os motivos pelos quais ele está se isolando.
Comer guloseimas em excesso
Qualquer tipo de compulsão, inclusive por comida, pode significar que algo está faltando àquela criança, de acordo com a psicóloga Paula Pessoa. O problema se agrava ainda mais pelos maus hábitos dentro de casa. Se os pais tendem a comer coxinha, lanche e chocolate diariamente, a criança também irá consumir isso. “É preciso ter mais cautela quanto à alimentação dos filhos, oferecer coisas diferentes, saudáveis, sentar com eles calmamente para fazer pelo menos uma refeição”, diz. Chamar a criança para colocar a mesa e ajudar a fazer o jantar, além de não facilitar o acesso a guloseimas, são boas tentativas para a mudança do comportamento. “Proporcionar uma alimentação adequada é também uma demonstração de afeto, ela percebe o cuidado que se está tendo com ela”, finaliza Pessoa.
Ficar tempo demais no videogame
Se a atividade que o seu filho mais faz durante o dia é assistir à televisão, navegar na internet ou jogar videogame, é bom ficar atento se não está havendo excesso. Edna Wallbach recomenda que os adultos observem de perto este tipo de diversão e, se preciso for, determinem horários do dia específicos para isso. “A criança está conectada ao mundo virtual cada vez mais cedo. Como não dá para proibir, os pais têm a obrigação de monitar e controlar o uso”, diz. Outra forma de combater esse comportamento é proporcionar às crianças outras brincadeiras e passeios ao ar livre. Se a coisa passar do limite, pode-se até guardar o computador ou o celular por um tempo.