Político é investigado por seu envolvimento com o doleiro Alberto Youssef em negócios suspeitos no Ministério da Saúde.
Diante das pressões tanto da oposição como, nos bastidores, de integrantes da base governista, especialmente do próprio PT, o deputado André Vargas (PT-PR) — investigado por seu envolvimento com o doleiro Alberto Youssef em negócios suspeitos no Ministério da Saúde — deverá se licenciar do cargo de vice-presidente da Câmara dos Deputados. O afastamento será discutido hoje, mas desde ontem deputados aliados do governo estão conversando com o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), para encontrarem a solução adequada.
O que desencadeou a reação foram as notícias de que Vargas e Youssef, preso no último dia 17 na Operação Lava-Jato da Polícia Federal, trocaram mensagens comprometedoras negociando contratos suspeitos. Numa delas, o doleiro diz a Vagas que os negócios suspeitos iriam garantir a “independência financeira” dos dois. Em outra, o doleiro diz que precisa de ajuda para resolver problemas financeiros, e o deputado afirma: “Vou atuar”.
Em conversas reservadas, temendo o efeito das denúncias em ano eleitoral, petistas tentam isolar a ação de Vargas, para mostrar que, se houve alguma irregularidade nos negócios com o Ministério da Saúde, não foi cometida com o aval do partido. O assunto ainda está sendo debatido nos bastidores, mas há entre os deputados da bancada do PT um consenso: Vargas terá que se explicar diante do teor das mensagens com o doleiro. Além disso, dizem petistas, não haverá, no partido, complacência com qualquer erro, diferentemente do que aconteceu com os condenados do mensalão.
Na semana passada, depois da denúncia da divulgação de que ele usou o jatinho do doleiro para viajar de férias com a família para João Pessoa, Vargas primeiro se manifestou por nota e, na quarta-feira foi à tribuna da Câmara pedir desculpas aos colegas. Ao falar, no entanto, acabou mudando a versão inicial que tinha dado ao jornal “Folha de S.Paulo”, sobre o pagamento dos custos, o que já gerou reação da oposição, que anunciou representação contra ele no Conselho de Ética da Casa.
No fim de semana, a pressão aumentou depois que as mensagens trocadas entre Vargas e o doleiro foram divulgadas pela revista “Veja” e pela TV Globo. Ontem, os líderes dos três partidos da oposição — PSDB, DEM e PPS — defenderam o afastamento de Vargas da vice-presidência da Câmara até que a Casa possa concluir as investigações sobre o envolvimento dele com o doleiro.
Segundo os líderes Antônio Imbassahy (PSDB-BA), Mendonça Filho (DEM-PE) e Rubens Bueno (PPS-PR), Vargas deve se licenciar da vice-presidência para garantir a isenção nas apurações. Os três partidos reforçaram que entrarão no Conselho de Ética com representação por quebra de decoro parlamentar, contra Vargas. A estratégia de petistas também é pressionar Vargas a se licenciar e, assim, tentar evitar as representações no conselho.
— É absolutamente indispensável que ele se afaste. A coisa se agravou bastante. Já estava complicado e ficou mais grave. É uma questão de natureza moral, o mínimo que se espera é que ele se afaste, para evitar constrangimentos e não comprometer mais a imagem da Câmara — disse Imbassahy.
— Não vejo outra saída, não tem sentido ele permanecer na função enquanto durarem as investigações. Eu não vejo sentido que ele permaneça na função — afirmou Mendonça Filho.
Para Bueno, embora Vargas tenha discursado e pedido desculpas na tribuna e tentado se explicar, a divulgação de outras mensagens trocadas entre Vargas e Youssef, pela revista “Veja”, impõe que ele peça licença do cargo até que tudo seja apurado.
— Diante das inúmeras acusações de envolvimento do vice-presidente da Câmara com o doleiro preso, o seu afastamento do cargo é o melhor caminho para dar condições à Mesa Diretora de apurar com isenção as denúncias que pesam contra ele. O discurso de pedido de desculpa agora já não basta. É preciso um gesto mais efetivo, como o licenciamento do cargo, para que a Câmara não se contamine com o cipoal de denúncias contra Vargas — disse Bueno.
Sugundo a representação, o uso da aeronave pode configurar recebimento de vantagem indevida, ato incompatível com o decoro parlamentar e punível com a perda do mandato, conforme o inciso II do art. 4º do Regimento Interno da Câmara. Para o vice-líder do PSDB, Nilson Leitão (MT), Vargas não tem mais condições de permanecer no mandato.
— A cada dia surgem mais elementos que comprovam a ligação dele com o doleiro preso. E a explicação que deu não convenceu.
Na operação Lava-Jato, Youssef é suspeito de lavagem de dinheiro, remessa ilegal de dólares e financiamento ao tráfico de drogas. As suspeitas, segundo a PF, são de que ele e Vargas sejam sócios no laboratório Labogen. O Ministério da Saúde informou que não tem contrato com o laboratório. O GLOBO procurou a assessoria de imprensa de Vargas, mas não obteve retorno. O líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), não retornou as ligações.