Caixinhas para empresários e dirigentes seriam uma das causas da inflação no futebol.
Tempos atrás, quando um jogador dava uma furada ou um lançamento para fora do campo, o torcedor mais irritado logo gritava dos alambrados. “Esse aí é mais grosso que papel de embrulhar prego!” No atual futebol brasileiro, não é raro ver este tipo de jogador recebendo salários astronômicos, de mais de R$ 100 mil mensais.
Além de criticar a gestão da maioria dos clubes, o consultor Antonio Afif põe o dedo na ferida e aponta para o problema das “caixinhas” que são costumeiras dentro do futebol. Para ele, estas aumentaram na proporção do crescimento das receitas no esporte nos últimos anos e inflacionaram os salários.
— Não sei se todo esse dinheiro dos salários chega à mão do jogador. Em muitos casos, pode haver pedágios, desde para aquele que controla a carreira do atleta até para o dirigente do clube.
Afif também considera que os clubes não souberam aproveitar o crescimento das receitas no futebol brasileiro, impulsionadas pela expansão da economia do país, entre 2008 e 2011.
— O futebol hoje é um esporte muito caro.
O consultor esportivo, Amir Somoggi considera que, com mais dinheiro, os clubes passaram a gastar mais. Isso provocou uma supervalorização de atletas medianos.
— Os dirigentes perderam a mão na administração. As receitas aumentaram e por isso eles estão gastando em uma proporção ainda maior.
E o que é pior, segundo ele, não há planejamento para potencializar o aumento de receitas com marketing. É muito mais difícil levantar recursos com jogadores que não têm apelo na mídia. Muitos acabam se tornando um peso financeiro, que o clube tem dificuldade de se livrar no fim da temporada, devido ao alto salário e à falta de retorno.
— É uma coisa esdrúxula. Os clubes não investem em projetos de valorização das marcas porque dizem não ter dinheiro. Então contratam jogadores medianos com salários altíssimos. Para isso pedem empréstimos no banco, gastam receitas antecipadas de patrocínio e TV e deixam o pepino para a próxima gestão.
Amir cita o Atlético-MG como um clube que não soube obter retorno com a contratação de Ronaldinho Gaúcho, apesar deste não estar entre os medianos.
— Mas a situação é similar. Se com Ronaldinho Gaúcho não houve trabalho de marketing, esse problema fica mais claro com jogadores de menor qualidade técnica.
Ele conta que o Corinthians é o clube que mais arrecada em marketing no Brasil, R$ 64 milhões anuais. Mesmo assim, para aliviar um pouco a folha, teve de emprestar para o Botafogo-RJ o atacante Emerson Sheik que, segundo a diretoria corintiana, recebia R$ 500 mil mensais.
— O Corinthians, para ter lucro, precisaria faturar o dobro em marketing. O mesmo acontece com o Flamengo, o segundo que mais arrecada. São clubes que vivem de dois ou três patrocínios, mas não têm um planejamento para fortalecer a marca.
Especialistas defendem a tese de que deve haver um teto salarial nos clubes. O Bom Senso F.C apoia o chamado Fair Play financeiro, para que a armadilha dos altos salários não se transforme em atraso nos pagamentos, algo que tem ocorrido em alguns grandes clubes como Fluminense, Atlético-MG, Vasco e Botafogo-RJ.
Mas a bola de neve das dívidas está crescendo, como constata Amir.
— Um clube de ponta gasta R$ 10 milhões por mês em salários. Um clube mediano gasta R$ 5 a 7 milhões e não tem quase nenhuma chance de ganhar título. É uma exorbitância.