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Caso envolvendo alagoana ganha destaque no The New York Times

Casamento bígamo entre brasileiros gerou crise entre judeus ortodoxos.

Isaac Brenkken/NYT

Casamento bígamo entre brasileiros gerou crise entre judeus ortodoxos.

O que era para ser uma tradicional festa de casamento terminou gerando uma crise entre judeus ortodoxos nos EUA. O casamento, que aconteceu em Las Vegas no dia 20 do mês passado, ganhou as páginas de um dos periódicos mais expressivos do mundo: The New York Times. Isso por que, separado da esposa há mais de sete anos, Meir Kin se recusa a conceder o documento de lei judaica que encerra o casamento com sua ex-mulher Lonna Kin. Mesmo assim, Meir renovou os votos com a alagoana Daniella Cristina Motta Barbosa, nascida em Arapiraca.

Sem a documentação, Lonna é considerada uma agunah (algo como mulher acorrentada, em hebraico). A falta do get impede Lonna de se casar outra vez ou de ter filhos da sua religião. Os homens judeus também são impedidos de ter mais de uma mulher, salvo com a permissão de 100 rabinos, o que não aconteceu com Meir, acusado de bigamia.

Dentro e fora das comunidades judaicas o que se discute principalmente é a regra de que só o marido pode conceder o divórcio. Um rabino de Nova York, Jeremy Stern confirmou ter conhecimento de somente outro caso semelhante, onde os noivos foram casados pelo mesmo rabino que realizou a cerimônia de Meir e Daniella, o rabino Tzvi Dov Abraham que viajou de Monsey para Nova York e depois Las Vegas, onde aconteceu a cerimônia religiosa. “— Não há dúvida de que estamos diante de uma grave violação da lei judaica.” declara Stern que continua: "A recusa em conceder o get é uma forma de abuso doméstico. As motivações incluem usar o divórcio como chantagem para conseguir dinheiro, tentar a custódia de crianças, forçar a mulher a voltar para o relacionamento."

No dia do casamento, rabinos e judeus ortodoxos, inclusive Lonna, se reuniram na porta da sinagoga para protestar contra a união de Meir e Daniella. Os manifestantes gritavam: “Bígamo! Tenha vergonha! Dê a ela o get!”

Meir, que também é brasileiro, nascido em São Paulo, filho de mãe brasileira e pai israelense, é médico, chegou a morar no México e também em Israel, até se radicar ainda bem jovem nos EUA. Mudou-se de Monsey para Los Angeles após o divórcio e, mais recentemente, para Las Vegas. Daniella também é médica, nefrologista, e trabalhava em uma clínica que pertence ao pai dela em Arapiraca. Daniella se mudou para os EUA pouco antes do carnaval.

“Ouvi dizer que ela se converteu à religião judaica. Tenho pena. O que mais me perturba é que essa mulher provavelmente não sabe onde está se metendo. Acho que ela não sabia de nada e, se quiser sair desse casamento, também vai precisar de um get,” pondera Lonna.

Lonna e Kin têm um filho de 12 anos. Kin pediu US$ 500 mil e a custódia do filho em troca do get. Lonna, uma corretora imobiliária de 52 anos e que tem outros quatro filhos do primeiro casamento negou, chamando de extorsão a proposta de Meir. Para conseguir o get do primeiro casamento ela abriu mão da custódia de um dos quatro filhos.

Ativa na internet, a campanha Free Lonna encontra alguns blogs anônimos contrários à sua versão. Eles defendem que o get está à sua disposição com o rabino Abraham.

— O problema é que esse rabino já foi denunciado por diversas autoridades nos EUA e em Israel. Incontáveis líderes dizem que não aceitam um documento de divórcio assinado por essa corte judaica em particular. E de acordo com as leis judaicas o get, para ter validade, tem que ser concedido incondicionalmente — reclama Lonna. — Eu estive com o rabino Abraham. Ele me pediu US$ 150 mil e que eu assinasse um acordo arbitrário que poderia reverter a custódia do Moshe (o filho do casal).