Vejo-me sempre que posso nas noites de Anadia, seja em sonhos, ou até mesmo nos contos e histórias que a nossa terra amada produz.
Vejo-me sempre que posso nas noites de Anadia, seja em sonhos, ou até mesmo nos contos e histórias que a nossa terra amada produz.
Inebriado, encantado com o brilho e o clarão da lua, sou um confesso apaixonado por elas. Me explicando melhor, a lua, as estrelas, poesias, as músicas e os encantos da terra em que nasci.
Não foram poucas às vezes que ouvi os seresteiros, boêmios rua afora esplendorosamente a cantarem: “Acorda, vem ver a lua, que dorme na noite escura, que fulge tão bela e branca, derramando doçura, clara chama silente, ardendo meu sonhar”.
E assim, o passar do tempo foi encarregando-se de propiciar a trilha sonora, o roteiro a vivenciar e o deleite das paixões que a noite nos oferece.
E ela – sedutora envolvente arrasta-nos para seu seio, sua volúpia, seu brilho intenso, ao ardente amar. De certo não estou delirando, louco, apenas estou iniciando algo que devo contar.
Falar de amor nunca me causou embaraço, apenas sofro para descrevê-lo, narrá-lo, já que não tenho a posse da divina arte de escrever, mas submeto de vez em quando, assim mesmo com audácia, à sua leitura.
O inacreditável pode acontecer e, deixar marcas indeléveis na alma, no coração e, sendo assim…
A noite corria solta, um frescor misturado com o perfume das flores da caatinga invadiam o ar da pequena Piranhas, cidade do sertão alagoano; seus casarios coloridos ressaltados com o brilho da lua, que compunham o cenário perfeito para o amor.
Após descer e subir suas ladeiras, extasiar-me com sua beleza – que surge a cada mudança no olhar -, cheguei ao coração da cidade ouvi loas, prosas, poesias, o dedilhar das cordas do violão, a sofreguidão da sanfona, canções de amor.
O palatar de um bom vinho ajudou-me a enveredar por caminhos até então para mim desconhecidos. Um olhar fagueiro torpe a me enfeitiçar e bem ali, diante dos meus olhos estava uma linda mulher, alta, branca, olhos verdes a reluzirem, cabelos loiros soltos ao vento.
Vestia um belo exemplar de renda branca – uma obra fulgurante – que somadas às mãos de quem fez o vestido e o corpo, com certeza talhados, esculpidos por algo divino. Estonteante…
Algo me dizia que aquela noite seria especial. Ela, a noite sempre a me seduzir. Diante de todos e do mais belo cenário cinematográfico, o aspecto dos seus olhos a mim direcionados eclodiram no meu coração como o mais certeiro tiro.
Atingido, sangue a ferver, pulsar acelerado, a boca oca a te buscar, sem ter como esconder, as pernas cambaleantes, estava eu diante da musa e ela a me seduzir.
Uma brisa suave e perfumada nos apontava o caminho do rio e, como em um conto de fadas, de repente impulsionados por algo mais forte que nós, estávamos um próximo ao outro, sobre o reflexo da lua com o aveludado que se alongava pelo leito do velho Rio São Francisco, palco de tantas paixões.
Incontrolável, sem roteiro, surpreendente… Brotou naquele instante, no mais árido solo nordestino uma paixão avassaladora, ardente. Abaixo do céu, abrilhantado pelas estrelas, a lua como cúmplice e o leito do rio como alcova de amor.
A noite correu com medo de não ter como registrar um momento tão sublime, antes que a memória me falhasse, socorri-me da lua e, guardei só pra mim a deslumbrante imagem sua, ao vestir o escultural corpo que me preencheu, colocou-me em êxtase, completo de amor e gozo.
Guardei a lua, mas não somente ela, como também o escrito que encontrei em cima de uma mesa de um bar no centro histórico de Piranhas e, que agora acabo de transcrevê-lo, já que às minhas noites e os meus contos não se atrevem a sair da minha apaixonante terra Anadia.
(*) Ex-secretário de Estado e filho de Anadia