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Dia do Trabalho: com desemprego em queda, muda a pauta de reivindicações

Mas o comportamento do mercado de trabalho, aquecido e carente de profissionais, tem provocado transformações e dado um tom diferente à data.

Agência Brasil

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Era tradição. Durante décadas, o 1º de Maio foi marcado por protestos e reivindicações. Mas o comportamento do mercado de trabalho, aquecido e carente de profissionais, tem provocado transformações e dado um tom diferente à data.
Marcados por protestos e greves, os anos 1990 foram trágicos para o emprego no País. Cerca de 3 milhões de vagas desapareceram com as crises econômicas, segundo o economista Jorge Mattoso. Há pouco mais de dez anos, o cenário começou a mudar e as reivindicações passaram do desespero por mais oportunidades de trabalho aos pedidos por melhores condições e divisão de lucros.

Desde 2002, os níveis de desocupação foram caindo gradativamente até o chamado pleno emprego. Hoje, apenas 5% da população se encontra desempregada em março deste ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O País fechou o mês com 1,214 milhão de pessoas desocupadas, número 11,6% menor que em março de 2013.
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, apesar da retração deste início de ano, em parte atribuída a Copa do Mundo e as eleilções, esse freio não é deve ser motivo para anunciar uma crise estrutural. “Ainda estamos em uma situação confortável em termos de emprego, os grandes efeitos já foram computados”, diz. Mais que isso, a ascensão da chamada classe média emergente abriu oportunidades de mercado que não voltarão a se fechar tão cedo. “Essas pessoas ainda carecem de produtos e serviços adequados e continuam com potencial de consumo. Esse mercado ainda tem demanda de empresas e empregos. Ainda temos espaço para continuar avançando.”

No universo sindical, as reivindicações mudaram. Além de empregos, sindicalistas cobram do governo um pensamento sustentável, mirando o longo prazo. “Sabemos que o momento não é dos mais fáceis, mas as políticas de prazo curto podem acabar criando problemas conjunturais no futuro”, aponta João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical.
O sindicalista comemora a aproximação entre empregados e empregadores. “Hoje estamos mais próximos dos patrões, as negociações estão mais fáceis e o diálogo é mais direto”, comenta. Ainda há um desafio no horizonte. “Hoje precisamos superar essa expectativa de desemprego e cobrar as mudanças, que garantam principalmente a redução da rotatividade.”

Essa é uma das principais preocupações de Roberto Reis, engenheiro de 31 anos que trabalha na mesma montadora desde os 15 anos. “Neste momento, estamos nos sentindo inseguros, porque sabemos que há dúvidas sobre como o ano vai ser”, diz.

No setor automobilístico, como em todos os outros mercados, tem sido difícil conquistar melhores postos de trabalho. Não só por conta da instabilidade do momento, como também pelas altas exigências profissionais. “Vi muitos colegas voltando a estudar em busca de mais qualificação. Vejo cada vez mais pós-graduandos e mestrandos trabalhando em posições que já foram ocupadas por técnicos.”

A necessidade de maior qualificação profissional é central em qualquer mercado. A globalização das operações e rapidez dos avanços sociais e tecnológicos têm obrigado profissionais a correr atrás do conhecimento. E, mesmo assim, as empresas ainda não têm conseguido preencher seus postos com candidatos prontos. “A exigência está cada vez maior”, aponta Henrique Gamba, gerente da Talenses, que trabalha com recrutamento de executivos. “Até o inglês, por exemplo, que é primordial entre executivos atualmente é uma exigência difícil de atender”, pontua.

Jovens e mulheres quebram paradigmas de liderança

A chegada dos mais jovens está estabelecendo novas culturas no mundo corporativo. Muito tempo de casa, por exemplo, já não é o melhor dos indicativos. “Antes, o candidato canguru, que pula de uma empresa para outra, era mal visto. Hoje, quem fica muito tempo no mesmo lugar é tido por acomodado”, conta. “Esse é um dos efeitos da Geração Y no mercado de trabalho.”

Outro efeito é na mudança no estilo dos gestores. Agora, o líder conciliador, que respeita as diversidades e, principalmente, está aberto à inovação é sonho de consumo de todo empresário. “Aquele perfil de executivo alfa, que é agressivo e competitivo, não tem mais espaço. Este perfil de liderança chega a ser considerado ridículo”, aponta Alessandra Ginante, vice-presidente de Recursos Humanos da Avon.

Na esteira da mudança de perfil, cada vez mais mulheres têm alcançado cargos mais elevados. Esse é o maior desafio para elas, na visão de Alessandra. “Mesmo que já tenhamos ocupado o mercado de trabalho, precisamos preencher mais cargos de gerência, diretoria e presidência”, diz. “O copo meio cheio mostra que já evoluímos muito, mas o copo meio vazio mostra que ainda tenho um longo caminho a percorrer.”

Os avanços são notáveis, mas ainda há que se igualar salários e oportunidades. “Precisamos de políticas sólidas de diversidade nas empresas, precisamos de práticas fluidas em todos os níveis das empresas e também precisamos respirar uma cultura de aceitação e aproveitamento das diversidades.”