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Após visita, deputado alemão constata: "Violência é parte do Brasil"

Membro de comissão que avalia segurança durante a Copa, Stephan Mayer confia que a segurança de turistas estará garantida.

Getty Images

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Durante uma semana, o deputado Stephan Mayer esteve visitando o Brasil como integrante de uma delegação da Comissão Permanente de Assuntos Internos do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão). Juntamente com seis colegas, ele esteve no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, onde se encontrou com chefes de pasta, representantes da polícia e ativistas dos direitos humanos.

O tema central das conversas foram os planos de segurança e a situação geral no país seis semanas antes do início da Copa do Mundo. Em entrevista à Deutsche Welle, o político da União Social-Cristã (CSU) revelou suas impressões.

DW: Na sua opinião, será que eu, enquanto fã do futebol, posso viajar despreocupado para a Copa no Brasil, diante da recente onda de violência no país?

Stephan Mayer: Nas grandes cidades do Brasil, a violência infelizmente faz parte do dia a dia. Mas isso não tem nada a ver diretamente com a Copa do Mundo. Cerca de 50 mil pessoas continuam perdendo a vida de forma violenta no país, a cada ano: a maioria delas nas favelas, nos bairros pobres.

É preciso observar de forma diferenciada o que acontece nos locais que realizarão a Copa, nos centros das cidades, nos estádios e em torno deles, nos aeroportos, nos hotéis, nas Fan Fests. Estou certo que nesses locais vai se zelar pela segurança. É claro que cada torcedor também tem a responsabilidade de se comportar com cuidado e sensatez. No Brasil, nas cidades grandes, a pessoa não pode passear por toda parte. Mas onde os torcedores normalmente ficam, as pessoas podem ir tranquilamente.

A polícia brasileira não prima pela delicadeza. Inocentes têm sido mortos a tiros durante operações de segurança. Muitos dos agentes são, eles mesmos, criminosos. Como é que uma polícia dessas pode garantir a segurança?

Há muito tempo a polícia brasileira está precisando de uma reforma. Alguns departamentos policiais têm grandes problemas de corrupção, e parte são até mesmo integrantes do crime organizado. Mas eu prefiro não generalizar a questão. Obviamente os brasileiros têm plena consciência de que segurança é um aspecto importantíssimo da Copa do Mundo.

Eu fiquei com a impressão, sobretudo nas conversas com os secretários de Segurança Pública dos estados, que o governo sabe perfeitamente como os agentes policiais se comportam e os observa com olhos de águia. Ele sabe que resultaria em má imagem para o Brasil se ocorrerem excessos de violência policial, como na Copa das Confederações. Eu espero que, com as experiências do ano passado, as autoridades tenham aprendido a apostar mais em estratégias de distensão e, sobretudo, a não confrontar com violência os manifestantes pacíficos.

Tanto os brasileiros como estrangeiros que vivem no país costumam relatar sobre suas más experiências com a polícia. Quando alguém leva seus problemas até os agentes, eles geralmente só sacodem os ombros. O que os torcedores alemães com problemas podem esperar dessa polícia?

Os brasileiros sabem que estão no foco da atenção internacional. Estou seguro de que os agentes policiais destacados para as áreas da torcida também serão acessíveis aos torcedores alemães. Além disso, há igualmente instâncias a se recorrer, do lado alemão. Em cada local de jogos haverá um encarregado para os turistas alemães; os consulados gerais e a embaixada vão disponibilizar funcionários de contato. Todo torcedor vai dispor dos números de telefone a serem utilizados em caso de emergência.

O Brasil é o país do futebol, por definição. As pessoas lá já estão animadas com a Copa?

Para nós foi uma surpresa constatar que o entusiasmo no país ainda não é tão pronunciado assim. Só metade dos brasileiros se mostra ansiosa pela chegada da Copa – número que poderia ser bem maior. Vê-se pouca alegria pela Copa em público. Por exemplo, não há bandeiras nacionais penduradas nas janelas. Claro que tudo isso pode mudar, se o torneio favorecer a seleção brasileira. Caso – contrariando as expectativas – ela seja desclassificada cedo, isso certamente não vai ser positivo para o clima no país. Segundo muitos dos nossos interlocutores, nesse caso, para os brasileiros acabou-se a Copa.

Qual é o risco de que haja protestos durante a Copa do Mundo, como na Copa das Confederações?

Seguramente não se pode excluir a possibilidade de protestos. Pode ser, perfeitamente, que os brasileiros utilizem a Copa como plataforma para chamar a atenção a reivindicações totalmente justificadas. O Brasil continua apresentando sérias injustiças sociais: uma grande diferença entre pobres e ricos, sistema de saúde ruim, sistema de educação e ensino em estado deplorável. Os brasileiros têm o direito legítimo de se manifestarem e apontarem para essas injustiças.

Então, até que ponto o senhor consegue compreender e aceitar a crítica à Copa do Mundo?

Há vozes críticas, claro, segundo as quais os gastos relacionados à Copa são inteiramente exagerados, e que seria melhor investir essas verbas em outros setores. Muitos brasileiros têm relativamente pouco a ver com o torneio, a maioria não vai nem ter o prazer de conseguir ingressos para as partidas. Obviamente, eu aceito que eles não entendam que o governo se empenhe tanto financeiramente enquanto outras coisas são deixadas de lado.

O que a Copa vai trazer para o país?

O Brasil é o quinto maior país, a sétima economia do mundo. Os brasileiros querem e devem ser levados a sério. Eles têm a oportunidade de ganhar um destaque extraordinário com grandes eventos esportivos como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo ou as Olimpíadas. Essa enorme chance deve ser aproveitada.