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Filha de morta por linchamento lamenta ausência da mãe

Filha lamenta Dia das Mães sem morta por linchamento: 'Queria ela aqui'.

(Foto: Reprodução/TV Tribuna)

Yasmin falou sobre a falta da mãe, morta por espancamento

A estudante Yasmin Maria de Jesus, de 12 anos, não poderá abraçar sua mãe neste domingo (11), Dia das Mães. Ela é uma das filhas da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, que morreu na segunda-feira (5) após ser espancada em uma comunidade de Guarujá, no litoral de São Paulo. A jovem relembra momentos e revela que iria fazer uma surpresa a Fabiane.

A dona de casa foi linchada no dia 3 de maio e morreu após ficar dois dias internada no Hospital Santo Amaro. Fabiane foi atacada por uma multidão depois da publicação de um retrato falado em uma página no Facebook de uma mulher que realizava rituais de magia negra com crianças sequestradas.
Yasmin completa 13 anos em junho e fala com carinho sobre a mãe. Dias antes de Fabiane morrer, a estudante havia sido escolhida como a melhor aluna de sua classe, no colégio onde estuda. “Eu não esperava quando me contaram. A diretora disse que eu fui a única a conseguir 80% nas notas e todo mundo começou a me aplaudir. Logo que eu cheguei, fui contar para a minha mãe. Ela adorou, me deu parabéns e já foi falar para a minha avó”, relembra.

Fabiane havia concluído o Ensino Fundamental recentemente e gostava de se aperfeiçoar, tanto que fez cursos profissionalizantes. A filha lembra que ela queria ser técnica em Turismo ou comissária de bordo. O marido Jaílson Alves das Neves confirma essa vontade. “Quando a gente falava em viajar, ela sempre se animava. Queria ir para a casa da minha irmã no Mato Grosso. Ela tem irmãs no Rio de Janeiro, queria viajar para lá”, comenta.
Mas não eram apenas essas as paixões da dona de casa. Além da família, Fabiane gostava de pintar panos de prato e ensinou Yasmin a seguir seus passos. “Ela me ensinou a fazer bordados. Eu aprendi com ela. Tenho pintado junto com as minhas primas”, destaca.
No entanto, todas as boas lembranças não são capazes de apagar a dor que a jovem sente com a perda da mãe, que deve aumentar neste domingo. “Eu amo ela. Sinto que amo a minha mãe demais. Eu queria muito que ela estivesse aqui também”, lamenta.
Para comemorar o Dia das Mães, Yasmin iria apresentar uma surpresa para Fabiane, um cartaz com poesias, como a dona de casa gostava. “Mãe eu te amo e sempre vou te amar, como a lua pelo sol e a terra pelo mar", escreveu.

Missa
Centenas de pessoas participaram na noite deste sábado (10) de uma missa em memória à Fabiane. A cerimôna aconteceu na Igreja São João Batista, no bairro Morrinhos, bem próximo ao local da agressão, e contou com cerca de 300 pessoas. Todos que participaram da missa usavam uma fita preta na roupa, representando luto. Alguns vestiam camisas com uma foto e os dizeres ‘Fabiane – A dor da inocência’.
A mãe dela, o marido e as filhas Yasmin e Ester, de um ano, estavam presentes e se emocionaram durante todo o tempo. "Está sendo muito difícil para todo mundo. A mãe dela está muito abalada, a Yasmin também. Hoje me senti um pouco mais aliviado. A saudade bateu, pude chorar um pouco e lembrar dela. Ela era muito amada por nós e por muitas pessoas da comunidade, tanto que vocês viram a quantidade de pessoas que estiveram aqui hoje", diz Jaílson. Em um dado momento, todos cantaram uma música que a dona de casa gostava, o que provocou uma grande comoção entre os presentes.

5° suspeito
A foto e o nome do último suspeito identificado até o momento pela Polícia Civil de Guarujá foram divulgados pelo delegado responsável pelo caso na noite desta sexta-feira. Abel Vieira Batalha Junior, de 18 anos, teve a prisão temporária decretada e já é considerado foragido. A polícia não sabe se ele ainda está na cidade onde a agressão ocorreu, mas acredita que não tenha deixado a região da Baixada Santista. A mãe do suspeito foi ouvida e uma bermuda do rapaz foi recolhida para auxiliar nas investigações.

Quem são os presos
Na manhã de sexta-feira (9), um dos cinco suspeitos identificados pela polícia por meio de vídeos do momento do crime se entregou. Jair Batista dos Santos, de 35 anos, chegou à delegacia ao lado do advogado, por volta das 12h, e foi direto prestar depoimento sobre o caso. Sua prisão temporária foi decretada. Segundo a polícia, ele nega participação no crime, contradizendo o resultado das investigações.

Os outros três suspeitos presos são Lucas Rogério Fabrício Lopes, de 19 anos, Valmir Barbosa, de 48, e Carlos Alex Oliveira de Jesus, de 23. Segundo a polícia, os três confessaram participação no linchamento da dona de casa.

Oliveira de Jesus foi preso na tarde de quinta-feira (8). Ele aparece em um vídeo segurando a vítima pelos cabelos. Ele disse que não chegou a golpear Fabiane, já que foi segurado por duas primas.
Lopes foi preso na madrugada de quinta-feira, após denúncia anônima recebida pela Polícia Militar. O rapaz é suspeito de ter passado por cima da dona de casa com uma bicicleta. Ele passou a madrugada na Delegacia Sede de Guarujá. Em depoimento à polícia, se disse arrependido. "Peço desculpas à família, estou muito arrependido. Desculpa mesmo. A gente vê a nossa mãe em casa, nossa tia, e imagina que poderia ter sido com elas. O que pesa mesmo é a consciência", afirmou.
Barbosa foi detido na terça-feira (6) no bairro Morrinhos, a mesma região onde a vítima vivia e foi atacada. Segundo a polícia, Barbosa foi reconhecido após as imagens do linchamento terem sido entregues à polícia. Ele alegou que tem filhos e que participou da ação por acreditar que as acusações à vítima – de que ela sequestrava crianças para rituais de magia negra – fossem verdadeiras. "Aconteceu e aconteceu. Não posso fazer mais nada", disse o suspeito.
O dono da página Guarujá Alerta, que divulgou o boato que levou ao espancamento e à morte de Fabiane, prestou depoimento na terça-feira (6). Segundo o advogado Diego Scarpa, seu cliente está sendo muito ameaçado. "São ataques injustos, estão atacado ele de forma injusta. Em momento algum, será comprovado que meu cliente postou ou incitou a população", defendeu.

Enterro
Centenas de pessoas acompanharam, na manhã de terça-feira, o enterro de Fabiane, que deixou marido e dois filhos – um de 12 anos e outro de 1 ano. A cerimônia, no Cemitério Jardim da Paz, em Morrinhos, reuniu familiares e amigos, que não se conformam com a crueldade do crime.
O marido de Fabiane, Jaílson Alves das Neves, disse que não sente ódio dos suspeitos. “Para mim, a ficha não caiu. Apesar da brutalidade, não guardo ódio, não guardo esse sentimento ruim no coração. Espero que não aconteça com mais famílias. Essas pessoas que a agrediram e as que assistiram e não tiveram a coragem de salvar uma pessoa inocente não deram nem tempo de defesa para minha esposa. Quero que eles reflitam e que isso não aconteça nunca com a família deles”, explica.

Confusão
De acordo com o inquérito, o retrato falado atribuído a Fabiane havia sido feito por policiais do Rio de Janeiro, da 21ª DP (Bonsucesso), em agosto de 2012. Na ocasião, uma mulher foi acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua de Ramos, na Zona Norte da cidade.
Imagens de câmeras de segurança divulgadas na época mostraram uma mulher passando com a filha de 15 dias no colo e sendo seguida pela suspeita. A vítima estava levando o bebê para fazer o teste do pezinho em um posto de saúde. Ao sair da unidade, foi surpreendida pela sequestradora.