Farah alega legítima defesa, que não premeditou e que estava 'alterado'. Maria do Carmo, amante do médico, foi morta em janeiro de 2003 em SP.
O médico Farah Jorge Farah, de 64 anos, confessou, na manhã desta quarta-feira (14), diante dos jurados no Fórum da Barra Funda, ter assassinado a amante Maria do Carmo. Ele repetiu a versão de que matou em legítima defesa, de maneira não premeditada e em "estado alterado".
"Só no domingo [dois dias depois do assassinato] me dei conta de tudo que aconteceu", disse. "Eu queria morrer, talvez ainda queira", completou.
Farah é julgado desde segunda-feira (12). Ele é acusado de matar e esquartejar a amante em 24 de janeiro de 2003. Ela tinha 46 anos quando foi morta. O médico foi condenado em abril de 2008 a 13 anos de prisão, mas o julgamento foi anulado pela Justiça. À época, a defesa alegou que laudos que atestavam que o ex-médico era semi-imputável (tinha compreensão parcial de seus atos) não foram levados em consideração pelos jurados..
Nesta manhã, o depoimento de Farah foi marcado por referências religiosas e divagações. Tanto que o juiz pediu por diversas vezes que ele fizesse "um esforço de memória" e chegou a se levantar para ficar próximo do acusado: "vim aqui para ficar mais perto do senhor para deixa-lo mais tranquilo", disse o magistrado.
Farah explicou que matou a amante depois de ela o ameaçar com uma faca e ameaçar sua família em sua clinica médica. Ao falar de seus pais, ele chegou a desligar o microfone por um momento, aparentemente chorando.
Segundo o réu, a vítima vinha em sua direção com a faca quando ele "não pensou duas vezes em se defender". O acusado reiterou que não se lembra da seqüência da luta, mas que eles "se atracaram". Ele afirmou que não lembra de ter esquartejado a mulher nem de ter se desfeito das partes do corpo.
Não sei se fiz, mas não fiz voluntariamente, premeditadamente, com maldade", disse. Segundo o relato, ele teria acordado dois dias depois, em sua clinica, "todo sujo de sangue e com cortes".
Emocionado, ele relatou as condições em que acordou. "Eu vi sacos de lixo, sangue para cá, sangue para lá, e quando eu fui apalpar eu vi que era um corpo que estava lá", contou. Nesse momento, ele relatou que ligado para seus pais, e tido um outro apagão que o impediria de lembrar o que aconteceu com os sacos. "Eu não estava no meu normal, eu fiquei no meu não normal com flashs. Eu não sei precisar o que fiz. Não me recordo [de ter retirado] os sacos", alegou.
Sedativo Dormonid
Segundo a perícia do caso, a vítima Maria do Carmo tinha resquícios de dormonid, um forte sedativo, no seu corpo. A acusação usa esse fato como prova de que a ação foi premeditada e que a vítima não teve chance de se defender por conta do sedativo.
Farah disse não se lembrar de ter aplicado o anestésico. "Se eu fiz o dormonid, eu faço isso tão rapidamente, eu fiz naquele estado. O estresse é tão grande", afirmou.
Sobre sua clínica, que havia sido fechada pela Vigilância Sanitária, ele argumentou que ela estava em reforma no período. Segundo o réu, ele não fazia cirurgias durante a época da reforma. Farah negou categoricamente acusações de que ele não esterilizava seus equipamentos direito.
Abusos sexuais
Testemunhas de acusação alegaram nos depoimentos de terça-feira (13) que o cirurgião havia abusado sexualmente delas. O réu chamou as acusações de "mentira deslavada".
Ele disse que sempre fez as cirurgias sozinho, mas fazia "questão da companhia de secretarias, familiares do paciente".
Como em outros momentos do depoimento, Farah tentou ressaltar seu "lado terno" para defender que não "precisaria" abusar sexualmente das vítimas. Ele já havia dito que sua "ternura" poderia ter sido razão para a "obsessão" de Maria do Carmo.
"Para mim o mais importante no relacionamento a dois é a satisfação mútua, principalmente do outro", disse quando questionado sobre as acusações.
Ele admitiu, porém, que teve "algum desentendimento" com pacientes. "Alguém que não gostava da cirurgia, que flertava e eu não respondia", afirmou.
O médico também admitiu que tinha "amizades coloridas" e que no decorrer dessas "amizades" a mulher pedia para ele realizar uma cirurgia e ele realizava.