Vereador foi assassinado em setembro de 2011. Acusada de autoria intelectual, Sânia Tereza busca a liberdade
Uma rajada de 13 tiros tirou a vida do vereador por Anadia, Luiz Ferreira, no dia 3 de setembro de 2011, no povoado da Tapera, em Anadia. O assassinato, que aconteceu há quase três anos, chocou os moradores daquele município. Desde estão, a família da vítima que ainda tenta se recuperar do mais recente crime político registrado em Alagoas, teme que a execução caia no esquecimento. Já a acusada de autoria intelectual, a ex-prefeita de Anadia Sânia Tereza luta incansavelmente pela liberdade.
A história mostra que crimes políticos são esquecidos por anos nos corredores e gavetas da Justiça alagoana, à espera de um dia serem, finalmente, julgados. Especialmente os que têm como acusado alguém com influência política e dinheiro para contratar bons advogados.
O cunhado de Luiz Ferreira, o advogado João Sapucaia, revela que a família espera que as autoridades coloquem os réus no Tribunal do Júri. O maior receio dos familiares é que, com os diversos recursos, o assassinato de Luiz Ferreira fique impune ou seja esquecido.
“Com tanta demora, resta trancar o coração e esperar que um dia se faça justiça. Luiz Ferreira era um homem de bem, que não tinha tempo nem para pensar em fazer o mal. É importante que a sociedade de Alagoas tenha em mente que a ex-prefeita e os demais são os responsáveis pelo crime. A viúva dele ainda sofre. É uma dor sem tamanho, que com o tempo só cresce. Há quase três anos aguardamos o julgamento desse caso. É preciso, mais do que nunca, que a justiça seja feita”, expôs Sapucaia.
Os advogados de Sânia Tereza aguardam que a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL) acolha os argumentos apresentados por eles e, dessa forma, conceda a liberdade à ré. Atualmente, ela é monitorada eletronicamente por uma tornozeleira e não pode se afastar dos limites do condomínio em que reside no bairro de Jacarecica, saindo apenas para prestar esclarecimentos à Vara de Execuções Penais. Enquanto esteve presa no Presídio Santa Luzia, a ex-prefeita apresentou problemas psiquiátricos o que contribuiu para justiça conceder a medida cautelar.
Especialistas alertam que os advogados da ex-prefeita vão ter trabalho para colocá-la em liberdade, já que o Ministério Público de Alagoas (MPE/AL) denunciou, com farto conjunto probatório, Sânia Tereza por homicídio e formação de quadrilha. O marido dela, Alessander Leal, que também foi denunciado, aguarda o dia do julgamento no presídio.
O procurador-geral de Justiça, Sérgio Jucá, tomou como base para a denúncia as investigações realizadas por uma comissão de delegados, que apontou, segundo o inquérito, que o vereador era um dos principais articuladores da votação que poderia afastar Sânia Tereza do cargo de prefeita. Os delegados encontraram, também, uma intensa troca de ligações entre os integrantes do grupo criminoso nos dias que antecederam o assassinato do vereador.
A viúva de Luiz Ferreira, a professora universitária Rita Luiza de Pércia Namé, revelou à imprensa ter receio de que os responsáveis pelo crime fiquem soltos, gozando da liberdade. A viúva diz ter certeza da participação de Sânia e dos demais acusados e, por isso, clama tanto por justiça.
Após o crime, familiares de Luiz Ferreira venderam a casa que ele possui há vários anos no centro da cidade de Anadia.
“Nós não conseguíamos sequer entrar na casa. Sempre foi uma dor sem tamanho ir a Anadia e ter essa lembrança. Então, decidimos colocar à venda”, revelou João Sapucaia.
Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério Público Estadual reforçou o entendimento de que há elementos suficientes nos autos que apontam a participação de Sânia Tereza e do marido no assassinato. Tanto que, destacou a assessoria do órgão, o casal foi pronunciado pela Justiça, fato este que foi celebrado pelos representantes do MPE.
De acordo com o Código Penal Brasileiro, a pronúncia só acontece quando o juiz responsável pelo caso encontra nas investigações elementos da participação dos acusados. “(…) independentemente do recurso apresentado pelos advogados, o Ministério Público mantém o entendimento que eles [Sânia e o marido] são os responsáveis pelo assassinato de Luiz Ferreira. E a prova de que o MP está certo das acusações é a pronúncia ofertada pela Justiça”, explicou a assessoria do Órgão.
Além de responder pelo crime de Luiz Ferreira, a ex-prefeita também é acusada de improbidade administrativa e corrupção em 11 órgãos federais e estaduais. À época do crime, ela foi, inclusive, investigada por ter comprado merenda escolar e combustível sem licitação. Os valores questionados pelos vereadores são na ordem de R$ 7 milhões.
O advogado e primo da ex-prefeita, Raimundo Palmeira, defende a tese de que sua cliente é vítima de um processo político que teria o interesse de prejudicá-la. Ele aponta como exemplo da ‘trama política’ a ausência do que considera como elementos concretos.
Diante disso, Palmeira promete buscar a soltura de sua cliente, alegando, nos diversos recursos apresentados à Justiça, que ela vem passando por problemas de saúde. “Não há nada que ligue a ex-prefeita ao crime. As investigações da polícia não vislumbraram outros suspeitos. Apenas uma linha de investigação foi seguida pelos delegados”, colocou o advogado.
Atualmente o primogênito de Sânia, Raymi Barros é vereador do PSD pelo município de Anadia.
Relembre o caso:
Após revelar em uma entrevista na rádio de Maribondo, que estava disposto a brigar pela prefeitura de Anadia, o médico e ex-vereador do município, Luiz Ferreira de Souza, foi vítima de uma emboscada e morreu após ser atingido por 13 tiros quando retornava ao município.
No dia 12 de setembro do decorrente ano, Sânia Tereza foi presa, quando a Polícia Civil deflagrou uma Operação de Força-tarefa na cidade de Anadia. Na ocasião, também foram presos o marido dela e um policial militar. No relatório entregue à Justiça, a polícia concluiu que o médico e parlamentar de Anadia foi morto porque representava um grande obstáculo para os interesses políticos da prefeita. Em 21 itens, foram relacionadas todas as provas técnicas e evidências durante as investigações que duraram quase dois meses.
Sânia, junto com seu marido, Alessander Leal, foram os autores intelectuais do crime, que foi planejado em agosto – Na época, a Polícia Civil divulgou fotos de todos os acusados e um organograma da quadrilha, dividido em dois núcleos: Arapiraca e São Miguel dos Campos
Com base em depoimentos, documentos, provas técnicas e laudos periciais, os três delegados que investigaram o caso indiciaram Sânia por homicídio qualificado e formação de quadrilha, além de apontar os outros seis acusados como parte do “grupo criminoso organizado”. Alessander Leal, marido de Sânia, é apontado como "coordenador da quadrilha" que executou Luiz Ferreira.