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Economia brasileira cresce 0,2% no 1º trimestre de 2014, diz IBGE

Agropecuária teve o maior crescimento, de 3,6%; indústria recuou 0,8%. Consumo das famílias teve a primeira queda desde o 3º trimestre de 2011.

A economia brasileira começou 2014 com uma expansão moderada ao registrar avanço de 0,2% no primeiro trimestre em relação aos três meses anteriores, com destaque para o desempenho da agropecuária. Em valores correntes (em reais), a soma das riquezas produzidas no período chegou a R$ 1,204 trilhão.

Os números foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (30).

Na comparação com o mesmo período do ano passado, o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 1,9%. No acumulado em quatro trimestres encerrados no 1º trimestre de 2014, a atividade doméstica cresceu 2,5%.

A despesa de consumo das famílias, que vinha puxando o crescimento da economia nos últimos anos, recuou 0,1% frente ao último trimestre do ano passado – a primeira queda desde o terceiro trimestre de 2011.

“Mais de 60% do PIB vem do consumo das famílias, e a gente continuou a ter crescimento positivo dele em relação ao interanual, em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Mas, em relação ao trimestre anterior, foi praticamente estável. Houve um recuo pequeno de 0,1%, que a gente considera estabilidade”, diz Rebeca Palis, gerente das Contas Trimestrais do IBGE.

Para ela, o encolhimento dos gastos dos brasileiros não tem relação direta com a inflação e, sim, com a redução do crédito e o aumento dos juros. "Apesar dos salários reais terem crescido bastante, a gente viu que o crescimento do crédito específico para as famílias desacelerou nesse trimestre. A gente estava com crédito com mais de dois dígitos, de crescimento em termos nominais, e agora está com crescimento de 7,3%, que continua positivo, mesmo tirando a inflação, mas já é um crescimento modesto em relação ao que a gente viu nos períodos anteriores”, afirma.

Rebeca diz ainda que as taxas de juros mais altas são outro fator de desestímulo ao consumo. “Se a gente comparar a Selic [taxa básica de juros da economia] média, neste trimestre ficou em 10,4%, e no primeiro trimestre de 2013, ficou em 7,1%”, completa.

Queda nos investimentos

A formação bruta de capital fixo, que representa os investimentos, sofreu queda de 2,1% em relação ao trimestre anterior (o último de 2013), confirmando o pessimismo de analistas. O número é o mesmo na comparação com o mesmo período do ano passado.

Segundo Rebeca Palis, do IBGE, no ano passado os investimentos contribuíram para o crescimento positivo do PIB, junto com o consumo das famílias. E, neste ano, três fatores fizeram com que os investimentos caíssem no primeiro trimestre: a redução das importações de bens de capital, a queda da produção interna de bens de capital e também da construção civil, especialmente na parte da infraestrutura (obras como as de construção de rodovias e geração de energia). "Vários setores que produzem bens de capital não tiveram desempenho muito positivo nesse primeiro trimestre”, explica. Os bens de capital são todos aqueles necessários à produção de outros itens, como máquinas e ferramentas.

A despesa da administração pública, que indica os gastos do governo, cresceu 0,7% em relação ao trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período de 2013, esses gastos tiveram expansão maior, de 3,4%.

Ao contrário do que ocorreu na comparação trimestral, o consumo das famílias cresceu a uma taxa de 2,2%, a 42ª alta seguida nessa base de comparação, com influência para o aumento da renda.

Quanto ao setor externo, as exportações de bens e serviços caíram 3,3%, enquanto as importações cresceram 1,4% em relação ao quarto trimestre de 2013. Na comparação anual, aumentaram tanto as exportações quanto as importações – alta de 2,8% e 1,4%, respectivamente.

Agropecuária cresceu mais

Nos três primeiros meses do ano, a agropecuária cresceu 3,6%, depois de recuar 0,5% no quarto trimestre de 2013. Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, o avanço foi menor, de 2,8%. De janeiro a março do ano passado, o setor havia mostrado expansão de 3,2%.

O setor de serviços também avançou, mas em um ritmo menor que o da agropecuária. Em relação ao quarto trimestre do ano anterior, o avanço foi de 0,4%. Nesse período, a atividade havia registrado alta de 0,7%. Já na comparação anual, o avanço foi bem maior, de 2%. No primeiro trimestre de 2013, a alta do setor fora de 0,3%.

Os serviços de intermediação financeira e seguros influenciaram positivamente o desempenho desse ramo da economia, ao crescer 1,2% frente ao trimestre anterior. Atividades imobiliárias e aluguel, transporte, armazenagem e correio também contribuíram. Por outro lado, a queda nos serviços de informação, de 5,2%, impediu que essa área da economia tivesse um resultado melhor.

Já a atividade da indústria recuou 0,8%, influenciada pela queda na construção civil, de 2,3%, e da indústria de transformação, que também teve baixa, de 0,8%. Em relação ao mesmo período de 2013, a indústria o resultado da atividade fabril foi exatamente oposta: alta de 0,8%. No primeiro trimestre de 2013, o setor havia crescido 0,6% e, no quarto, recuado 0,2%.

Esses números se referem ao último trimestre do ano passado. Nesta divulgação, os dados já consideram a alteração da pesquisa de produção industrial, que incorporou novos produtos, como tablets e biodiesel, e perdeu outros. Com isso, a série composta a partir de 2010 do PIB foi recalculada.

Poupança

A taxa de poupança ficou em 12,7% no primeiro trimestre de 2014 (ante 13,7% no mesmo período de 2013). Já a taxa de investimento nos três primeiros meses deste ano foi de 17,7%, abaixo do observado no mesmo período do ano anterior (18,2%).

Expectativas

O resultado deste trimestre confirmou as expectativas dos analistas, que estimaram um crescimento do PIB próximo de zero. A previsão do IBC-Br, que pretende ser uma “prévia” do PIB, mostrou uma expansão de 0,29% na atividade nesses três primeiros meses.

Para o ano de 2014, a previsão de economistas do mercado financeiro é de alta de 1,63%, segundo o boletim mais recente divulgado pelo Banco Central. A expectativa do ministro da Fazenda, Guido Mantega, é um pouco mais otimista, ficando entre 2,3% e 2,5%. Em 2013, a economia cresceu 2,5%, conforme revisão feita pelo IBGE nesta sexta-feira (30).