Aos poucos, ruas de Porto Alegre são tomadas de turistas. França e Honduras se enfrentam no estádio Beira-Rio neste domingo (15).
Nem o frio e a garoa fina intimidam os turistas que vieram a Porto Alegre para conferir o primeiro jogo desta Copa do Mundo no Rio Grande do Sul, entre França e Honduras, neste domingo (15). Com camisas coloridas, em pequenos grupos, em famílias, enrolados em bandeiras, eles estão por todos os lados da capital. No Centro Histórico, os torcedores chegaram a transformar um dos pontos turísticos em QG francês. Com samba e caipirinha, o Chalé da Praça XV virou "maison bleu".
O movimento de desembarque de estrangeiros começou logo cedo, nas primeiras horas de sábado (14), no Aeroporto Internacional Salgado Filho. Os visitantes, em sua maioria, são franceses: cerca de 4,5 mil compraram ingressos para ver o time comandado pelo técnico Didier Deschamps em campo.
E eles parecem se sentir em casa em Porto Alegre. Depois de visitar o Mercado Público, onde atraíram olhares curiosos ao cantar a "Marselhesa", o hino da França, e tomar chimarrão no Acampamento Farroupilha, montaram seu refúgio no antigo chalé histórico.
Com samba, feijoada e caipirinha, os torcedores foram recepcionados em um evento capitaneado pela Federação Francesa de Futebol, com apoio da Aliança Francesa de Porto Alegre. Decorado com as cores azul, branca e vermelha, o lugar tem 750 mesas. A expectativa é que 1,6 mil franceses passem pelo QG. Há tradutores à disposição para auxiliar no atendimento. Folhetos com dicas de turismo sobre a cidade são distribuídos aos visitantes.
Contagiados pelo clima brasileiro e embalados pelo show de samba e chorinho, quatro franceses trocaram o vinho tinto pela caipirinha. “Forte", analisou Mayeul Smoos, ao lamber os lábios após o primeiro gole. "Mas saborosa”, completou ele, que pela primeira vez experimentava a bebida brasileira, preparada com cachaça e limão.
O estudante desembarcou em Porto Alegre na sexta-feira (13) com o amigo Quentin Guilluy. Fãs de futebol, os dois vão seguir os passos da seleção francesa pelo Brasil: depois de Porto Alegre, visitarão ainda Salvador e Rio de Janeiro, onde assistirão aos jogos da primeira fase do Mundial.
Empolgados em vivenciar a primeira Copa do Mundo, estão confiantes no desempenho dos "bleus". A ausência do craque Frank Ribéry, cortado por lesão antes do início da Copa, não diminui a empolgação dos torcedores. “A França não é só o Ribéry”, justifica Quentin.
Apesar das boas impressões, houve críticas a Porto Alegre. Para Quentin, em muitas situações foi difícil a comunicação, já que poucos falam inglês ou espanhol, tampouco francês. “As pessoas de Porto Alegre são muito legais e nos receberam muito bem. É um povo acolhedor. Mas que só fala português”, lamenta.
De Nantes, a cerca de 342 km de Paris, Patrick Duveau vestia uma camisa do Vasco da Gama, adquirida no Rio de Janeiro. Outro admirador do esporte, o francês mostrou que conhece o futebol brasileiro. “Fui ao Maracanã e o Vasco é um time de ‘força’, diferente do Fluminense, por exemplo”, opinou. Do Rio Grande do Sul, mostrou preferência pelo Grêmio.
Há pouco mais de um ano viajando pela América Latina, ele faz uma boa avaliação sobre a estada no Brasil e a recepção do povo. Após passar três meses no Norte do país, analisa que “muitas opiniões sobre o país são exageradas”. “A questão da insegurança por aqui não é esse monstro que todos pintam”, ponderou. Ele assistirá à partida entre França e Honduras com o filho Kevin Duveau.
O QG francês ainda motivou encontros entre os compatriotas. Recém-chegados a Porto Alegre, ainda ambientando-se à cidade, os jovens Thomas Boucher, Julien Jahan e Sophie Cormerais dividiram a mesa com Patrick e Kevin. Em comum, a torcida pelo Nantes. “Não vi muito ainda, mas as pessoas são ótimas, nos atendem muito bem e são simpáticas. Mas realmente, falta um segundo idioma”, pondera Sophie. “A comunicação fica um pouco prejudicada quando as pessoas só fala português”, lamenta.
Com a clientela numerosa e diferenciada, o proprietário do Chalé da Praça XV, Antoninho Martires Simonetti, não teve dúvidas: adotou a França como sua segunda seleção de futebol.
“Agora já sou francês”, brinca o empresário, que vai vestir as cores azul, branco e vermelho para ir ao Beira-Rio torcer pelos “bleus” neste domingo (15).
Hondurenhos visitam QG ‘inimigo’
A festa com samba e feijoada, entretanto, não foi dedicada somente aos franceses. Equatorianos, uruguaios, mexicanos e até hondurenhos, adversários da França neste domingo (15), prestigiaram o evento no Chalé da Praça XV.
Da Cidade do México, pai e filho estão em Porto Alegre para torcer pela seleção da América Central no Beira-Rio. Noe e Gerson invadiram o reduto francês, onde saborearam chope e prestigiaram o show de samba. O único lamento durante a visita foi o tempo instável. "A gente fala em Brasil e logo pensa em sol, samba. Uma pena essa chuva e esse frio", lamenta Gerson.