Menos de duas semanas separaram o primeiro clique de apoio à proposta de regulação da maconha no Brasil do discurso do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), em plenária, sobre o desafio que lhe fora então delegado: o de ser relator de um dos mais polêmicos e controversos temas colocados em pauta por iniciativa popular. Levado ao Legislativo após ter reunido, em quatro dias, 20 mil assinaturas no portal e-Cidadania, o pleito que abarca uso recreativo e medicinal da erva tem como autor um nome desconhecido – mas que promete fazer história, já que consultores do Senado apontam para um futuro em que a erva será legalizada, mas sua produção, comércio, posse e consumo estariam sob controle e fiscalização do Estado.
"Maconha não é para todo mundo, e um dos maiores obstáculos para o uso medicinal é a resistência aos efeitos psicoativos dessa droga", explica André Kiepper, o responsável pela evolução do debate. "Quero que a ciência evolua para que, quando eu precisar usar maconha por motivos de saúde, não precise viver os efeitos psicoativos que eu curtia aos 20 anos."
Usuário recreativo na época em que ainda cursava publicidade na Universidade Federal do Espírito Santo, Kiepper é um capixaba de 33 anos com fala articulada e voz grave que passam a seu interlocutor a impressão de estar lidando com um homem de perfil puramente técnico, sem muito espaço para espontaneidades. A impressão, no entanto, é desfeita logo no primeiro contato pessoal. André traz no rosto uma barba algo esparsa, óculos com aros superiores metálicos e roupas casuais: trata-se de um jovem adulto como muitos outros do Leblon, onde divide um simpático, mas sintético, apartamento com o irmão mais velho.