Alguém comentou comigo que eu só trazia contas, foi o clique que eu precisava para inovar e começar a escrever cartas para os idosos.” É dessa forma que o voluntarioso carteiro e também escritor Jorge Silva Araújo, 34 anos, contribui para mudar a realidade dos moradores da Casa dos Velhos Bezerra de Menezes, em Ituiutaba, interior de Minas Gerais. “Muitos deles se sentem abandonados ou acabam sendo esquecidos pelas famílias no asilo.”
Em dois anos de ações solidárias, Araújo escreveu mais de 1.700 cartas aos residentes. Nos primeiros quatro dias de cada mês, um envelope é endereçado para cada interno da entidade. O carteiro se sente tão à vontade com os idosos, que costuma escrever contando sobre situações que vivencia no seu dia a dia.
Entre os assuntos, a fuga diante de um cachorro bravo, a esmola que dá para um pedinte na rua e relatos de um trabalho social que desenvolve com crianças doentes aos finais de semana.
O asilo, que existe há 50 anos e abriga 39 idosos atualmente, fica em festa com a chegada do carteiro – nem tanto pelas correspondências, mas pelo carinho, atenção e afeto que os moradores recebem.
Carteiro humaniza as relações
“Eu não tenho condições de abraçar o mundo, mas o que eu puder fazer para ajudar, eu faço. Hoje eu sinto que minha profissão foi humanizada. Quando eu chego para entregar cartas no asilo, não dizem mais que o carteiro chegou, mas sim, o Jorge”, declara, orgulhoso, Araújo.
A Casa dos Velhos Bezerra de Menezes conta com 24 funcionários, contratados entre fisioterapeutas, enfermeiros, técnicos em enfermagem, cuidadores de idosos, cozinheiros e uma diretoria composta por seis voluntários. “O que os internos mais querem é companhia, alguém que possa dar-lhes atenção. Tanto as cartas do Araújo, quanto as leituras realizadas por outros voluntários no asilo, ajudam e muito nessa questão”, enfatiza Paulo César de Oliveira, 56 anos, presidente da instituição.
Com cartas redigidas até janeiro de 2015 e projetos voltados para a criação de uma horta comunitária e a entrega de donativos a entidade, Araújo revela que aprende muito mais do que ensina. “Gosto de servir de inspiração para as outras pessoas e o que aprendo com elas é gratificante. Não há preço que pague.”