Enquanto os black blocs preservam sua identidade usando máscaras de vários tipos, a Globo tenta manter a integridade física de suas equipes recorrendo à camuflagem. Na quinta-feira (19), alguns repórteres da emissora que foram às ruas de São Paulo cobrir o protesto do MPL (Movimento Passe Livre) usaram microfone sem canopla (o cubo com a logomarca do canal), roupas casuais — geralmente os repórteres se apresentam de terno e gravata — e capacete de proteção.
Foi assim, praticamente disfarçado, que o repórter Bruno Tavares acompanhou de perto a depredação de concessionárias de veículos e agências bancárias. A matéria foi exibida na íntegra no Bom Dia São Paulo desta sexta-feira (20).
Na noite anterior, o Jornal Nacional mostrou imagens das manifestações e dos atos de violência, com narração do repórter César Galvão a bordo do Globocop. Já o ataque de um grupo de criminosos contra turistas num bar no centro da capital paulista foi narrado pelo âncora William Bonner. Nenhum repórter apareceu em campo.
Já no Jornal da Globo, o repórter Roberto Paiva usou microfone identificando a Globo. A matéria foi gravada quando os manifestantes tinham deixado a região onde aconteceu o vandalismo, e havia policiamento no local. A Globo também usou produtores não identificados com câmeras semiprofissionais para registrar de perto a violência dos ataques.
A Globo passou a camuflar eventualmente suas equipes na cobertura de manifestações após ameaças sofridas por seus profissionais nos protestos de junho de 2013. Carros de reportagem foram atacados e repórteres viraram alvo de xingamentos.
Ainda sobre os protestos no feriado de Corpus Christi em São Paulo, a Record colocou o repórter Jean Brandão para fazer a narração dos acontecimentos no Jornal da Record. No link montado numa avenida de São Paulo, sem a presença de black blocs, ele pôde usar tranquilamente o microfone com a logomarca do canal.
No SBT Brasil, o repórter Fábio Diamante apareceu em matéria gravada no calor da manifestação. Ele acompanhou o vandalismo com microfone identificando a emissora e usando capacete azul com a inscrição ‘imprensa’. O repórter Bruno Tavares, da Globo, até apareceu por alguns segundos na matéria do SBT, aturdido ao testemunhar uma concessionária sendo atacada.
No Jornal da Cultura, a repórter Luiza Moraes apareceu num link em frente de uma das concessionárias destruídas. Nas imagens captadas durante o quebra-quebra foi mostrado um veículo de reportagem da TV Gazeta de São Paulo sendo atacado por um mascarado. O carro teve alguns vidros quebrados.
É temerário para a sociedade que jornalistas sejam obrigados a trabalhar disfarçados — usando itens de proteção comuns em cenários de guerra — para levar a notícia à população. A liberdade de manifestação não pode ameaçar a liberdade de imprensa.
Independentemente da linha editorial da Globo ou de qualquer outra emissora, o trabalho das equipes de TV é fundamental para garantir o acesso à informação por milhões de pessoas nos quatro cantos do país. Terrorismo contra os jornalistas interessa apenas a quem prefere uma imprensa manipulada, que sirva aos interesses de certos grupos ideológicos.