Homem que deu tiros para o alto em protesto na Paulista é policial do Deic
O secretário da Segurança Pública do estado de São Paulo, Fernando Grella Vieira, afirmou nesta terça-feira (24) que o homem que deu tiros para o alto durante um protesto na segunda (23), na Avenida Paulista, é um investigador do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Segundo o secretário, o procedimento foi adotado porque um grande número de participantes do protesto se aproximou de um delegado quando ele fazia a prisão do manifestante Rafael Marques Lusvarghi, de 29 anos. O delegado e Lusvarghi brigaram e estavam no chão quando o investigador decidiu atirar para dispersar a multidão. Para Grella, a princípio, não houve nenhuma irregularidade no ato do policial.
"Esse fato é objeto de apuração, mas não há, a princípio, nada de irregular. Há dois indivíduos presos que pertencem aos black blocks. Eles estavam incitando o crime com material incendiário, com material para prática de atos violentos, incitando pessoas contra os policiais que estavam ali. Esse tiro [do investigador do Deic] foi de advertência, o que é uma ação de legítima defesa", afirmou o secretário da Segurança.
De acordo com Grella, o policial não pode ser incriminado pela atitude. "Legítima defesa exige várias ações. Uma delas que pode estar legitimada pela circunstância é essa [atirar para o alto]. Então, não se pode incriminar o policial neste momento, pelo fato de ele ter impedido que aquelas pessoas se voltassem e agredissem todos aqueles policiais que estavam lá", ressaltou.
Ainda segundo o secretário, as prisões dos black blocs ocorridas na segunda-feira foram as primeiras autuações em flagrante por organização criminosa e milícia privada para incentivar a prática de crime.
No local, policiais do Deic estavam cumprindo mandados de condução coercitiva. Ou seja, queriam levar à delegacia 22 pessoas que haviam sido intimadas a prestar depoimento na tarde de segunda, mas não compareceram.
Lusvarghi foi detido, segundo Grella, porque incitava pessoas contra a polícia e fazia depredação de patrimônio.
Esse foi o 11° ato contra a Copa em São Paulo. Pelo menos três pessoas foram detidas, entre elas Lusvarghi, que já havia sido levado ao 12° DP (Pari) após protesto no dia 12 de junho, data da abertura do Mundial na Arena Corinthians. A prisão do jovem ganhou repercussão, pois a polícia jogou spray nos olhos dele, mesmo quando Lusvarghi já estava dominado.
Para o governador Geraldo Alckmin (PSDB), a ação da PM durante a manifestação desta segunda-feira foi correta. "Acho que foi positiva, tanto é que nós não tivemos maiores incidentes. As coisas caminharam bem. A polícia tem o dever de agir para proteger a população, proteger o patrimônio e identificar aqueles que, de maneira reincidente, participam não de manifestação, mas de depredação e vandalismo", declarou.
Ativistas
De acordo com manifestantes, o policial do Deic chegou a fazer três disparos para afastar pessoas que criticavam a prisão de Lusvarghi. Ativistas afirmam que não havia motivo para a detenção do manifestante. O policial estava no veículo em que o jovem foi levado para o Deic.
Apesar do grande efetivo policial destacado para acompanhar o protesto, o tenente-coronel José Eduardo Bexiga, comandante da operação, disse que não sabia sobre os disparos e que tampouco havia sido informado sobre os disparos efetuados pelo policial civil. "Pergunta para a Polícia Civil", limitou-se a responder, ao ser questionado sobre o incidente.
Protesto sem vandalismo
O grupo começou a se concentrar por volta das 15h na Praça do Ciclista, no fim da Avenida Paulista. Ao contrário da ação policial durante o protesto convocado no dia 19 pelo Movimento Passe Livre (MPL), a Polícia Militar acompanhou de perto essa manifestação. Policiais da Tropa de Choque usaram o kit de proteção apelidado de "Robocop". Desde o início do ato, antes da caminhada, os policiais já cercavam o grupo.
Os manifestantes começaram a andar em direção ao Paraíso pouco depois do início do jogo Brasil x Camarões, às 17h. No caminho, o grupo foi vaiado por moradores de prédios da Avenida Paulista.
Milícia e danos
Antes do protesto, a Polícia Civil informou ao G1 ter identificado dois black blocs e 22 líderes do Movimento Passe Livre (MPL) como suspeitos de participar de depredações em duas manifestações neste mês na capital paulista. Os investigados podem ser presos temporariamente pelo crime de "constituição de milícia privada", de acordo com o delegado-geral Luiz Maurício Souza Blazeck.
O delegado afirmou ao G1 que as 22 pessoas convocadas a prestar depoimento no Deic na segunda-feira foram identificadas como líderes do MPL. Também foram chamadas duas pessoas suspeitas de serem black blocs. "São dois black blocs e 22 líderes do MPL investigados por participação nas depredações ocorridas em protestos agora em junho", disse o delegado-geral.