Até o nascimento dos pequenos, os planos de férias contemplavam apenas o casal e suas vontades
Até o nascimento dos pequenos, os planos de férias contemplavam apenas o casal e suas vontades. Viagens radicais, trilhas, destinos românticos, passeios históricos. É de se esperar que isso mude com a chegada dos filhos, que inevitavelmente passam a pautar também as decisões do dia a dia.
E com as férias não é diferente. Será que eles vão gostar do lugar escolhido? Vão aguentar fazer o tour turístico completo? E se a gastronomia for inadequada para crianças? Mesmo com todas essas dúvidas e a impressão de que a viagem será uma grande confusão, ainda vale a pena incluir os filhos nos planos.
Sem negar que o casal merece um descanso para curtir o relacionamento a sós e que esses momentos devem existir na rotina dos pais, Hetyene Monteiro, chef de cozinha e autora do blog Viagem4Kids, faz coro com os que optam em levar os filhos em viagens.
“Viajar é muito positivo para a formação cultural das crianças e dos adolescentes porque os faz amadurecer e perceber que existem pessoas em condições de vida muito distintas. Eles saem daquele itinerário ‘de casa para a escola e da escola para a casa’ e descobrem um mundo diferente, com famílias diferentes”, acredita Hetyene.
Além disso, é um dos raros momentos do ano em que a agenda de toda a família coincide. “A rotina de todo mundo é muito corrida, por isso é a chance que os pais têm de curtirem seus filhos. Eles podem acordar, fazer as refeições e passear sempre juntos. Isso aumenta os laços afetivos”, afirma a pedagoga Michelli Rader.
Sem frescura
Valentina, de nove anos, e Joaquim, de sete, sentiram na pele esse choque cultural quando viajaram com os pais para a Índia. Lá, puderam ter contato com uma realidade de miséria que até então não conheciam. “Eles viram muitas crianças realmente necessitadas, pedindo dinheiro na rua. Depois disso, percebi que o senso de necessidade deles mudou muito”, lembra Hetyene.
Esse amadurecimento acontece porque os diferentes valores culturais aprendidos durante as viagens abrem a mente das crianças, justamente em uma fase em que elas estão formando suas opiniões e ideias a respeito do mundo. E para os adolescentes, os passeios enriquecem o repertório que adquiriram até aquele momento, além de ser uma ótima oportunidade de vivenciar algo que talvez tenham visto apenas dentro das salas de aula, como visitas a locais icônicos que marcaram a história do mundo.
Mesmo que qualquer destino ofereça essa troca cultural, cabe aos pais não ceder a todos os caprichos dos pequenos. Do contrário, eles podem acabar “dominando” o roteiro de viagem e aproveitando só as partes divertidas que podem ser pouco educativas.
Experimentar
Na hora de planejar o roteiro das férias, adultos podem fazer um acordo com os filhos. Um deles é o de visitar aquele parque de diversões tão esperado no fim da viagem, como um incentivo para que eles aproveitem os passeios que virão antes.
Outra dica é que os pais estimulem os filhos a experimentarem coisas novas, desde o lazer até a hora da comida. Se eles não gostarem de algum prato específico, vale ter um plano B para evitar o mau humor da fome, como um sanduíche clássico com batata frita. Mesmo assim, o importante é tentar.
Para onde ir?
Por mais que alguns pais tenham dificuldade de escolher um local para passear com a família, é preciso manter a mente aberta. Todo destino pode ter atividades interessantes para as crianças e para os adolescentes. Basta se informar sobre o destino cogitado e escolher as melhores atividades.
Se for a primeira viagem dos pequenos com os pais, Hetyene Monteiro aconselha que a escolha privilegie cidades brasileiras.
“Nossos filhos precisam ter contato com a própria cultura, para aprender a valorizar a natureza, o próprio país. As crianças de hoje vivem um dia a dia muito artificial, muito protegido, por isso é legal colocá-las em contato com paisagens diferentes. Em minha opinião, curtir uma praia, por exemplo, é melhor do que passar o dia inteiro numa fila de brinquedo”, observa Hetyene, que sugere lugares como Fernando de Noronha, em Pernambuco, e Bonito, no Mato Grosso do Sul.
Para outros países, vale o mesmo pensamento. É possível expor os filhos a passeios ricos em cultura, como museus, parques nacionais e teatros, que não precisam ser necessariamente chatos. Na Europa, em países antigos como França, Inglaterra, Itália, Espanha e Alemanha, não faltam oportunidades que combinam diversão, cultura e história.
Dicas práticas
O planejamento da viagem também deve incluir uma investigação sobre a estrutura do local em que a família vai ficar. “Com crianças menores, é ideal que o quarto tenha pelo menos um frigobar e um micro-ondas, dessa forma o preparo de uma mamadeira não se torna uma tarefa de outro mundo. Se a criança for maior, é interessante que o hotel ofereça uma equipe de recreação. Sem atrativos, como piscina e sala de jogos, eles ficam entediados e estressados”, pontua Renato Freitas, diretor da agência de viagens MXM Turismo.
Outra dica é checar o que estará em funcionamento durante o período escolhido para trabalhar a expectativa das crianças e dos adolescentes e evitar frustrações. Os pais não precisam montar um roteiro de viagem perfeito e à prova falhas, até porque na prática ele pode não funcionar, mas é preciso ter uma noção básica do que farão no destino.
Mas é importante ter em mente que grande parte da viagem vai acabar dependendo dos filhos, ou seja, o andamento das atividades depende deles. Pode ser que, em algum dia, acordem indispostos, cansados ou até mal humorados. Por isso, talvez seja preciso rever os planos com o passar dos dias, mas, claro, sem estresse.