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O não eu na lógica da modernização global

A crença no projeto da modernidade, ou seja, admiração pelo ideal de beleza.

Arquivo Pessoal

Cláudio Jorge

O contexto para compreendermos o advento dessa lógica modernizadora é a situação em que o período contemporâneo institui os novos referenciais e os problematizam diante da comunidade científica que, por sua vez, tenta reorganizá-lo para definir as bases ideológicas da dominação dos grupos marginalizados, precarizados e subalternizados. Ao mesmo tempo estabelece impressões e leituras diante de uma forma dolorosa de compreender o mundo, ou melhor, o eu e o não eu dá-se através de uma política cientifica através do afastamento definitivo dos não produtivos classificados como loucos na desordem do capital.

Um dos textos de Michel Foucault, na obra, Microfísica do Poder, faz uma denuncia ao olho do poder, construindo e identificando novas percepções de um momento que acabou indicando um mundo fragmentado e inundado por relações de poder que acabaram instaurando uma crise sobre os modelos de sociabilidade que, até então, vinham supostamente norteando os princípios éticos da ciência moderna.

A crença no projeto da modernidade, ou seja, admiração pelo ideal de beleza e ordem deixou de lado a necessidade de estabelecer diante dos vetores da racionalidade uma crítica que pudesse revelar a impossibilidade da neutralidade e do conhecimento científico com base no discurso da objetividade e imparcialidade. Assim, o Iluminismo que nos seus primórdios defendia o conhecimento científico como uma das garantias da emancipação do sujeito moderno, entrou em crise quando os críticos do projeto ideológico da modernidade questionaram o caráter estratégico da ciência, atribuindo à mesma uma relação direta com o saber/poder.

Foucault nos dá elementos para uma interpretação da importância que o poder representa para o silenciamento da loucura. Ora, ele se manifesta a partir do século XVII por uma necessidade de assepsia social proveniente do pensamento cartesiano, que, por sua vez, consiste em identificar, enquadrar e normatizar o não eu. O mundo ocidental desenvolve um projeto de docilização a partir do método cartesiano fundador da racionalidade técnica e instrumental atrelado ao mundo do trabalho que silencia e precariza aquele que resiste à normatização imposta pelos saberes e tutores vinculados ao capital.

Apenas um projeto puramente fundado na emancipação humana e a partir de uma perspectiva dos precarizados globais e históricos é que poderia identificar com precisão o teor das opressões no prelúdio desse novo século. Para Walter Benjamin (1994), era necessário pensar o tempo histórico não como uma relação de causalidade. Mas o contrário, desconstruir o continuum da história na esperança de salvar das ruínas os vencidos e silenciados. Dessa forma, Benjamin, compreendia que, o dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer.

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