Instalado há uma semana em uma cela individual na penitenciária de Francisco Sá, no norte de Minas, o goleiro Bruno Fernandes não pode sequer acompanhar a Copa do Mundo que muitos torcedores diziam ser o Mundial em que ele fecharia o gol do Brasil.
Bruno foi transferido justamente durante a Copa e perdeu o direito de assistir televisão, como ocorria na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH. Não cometeu nenhuma falta disciplinar: na nova unidade prisional o sinal de TV é inexistente.
Nesta quinta-feira (26), o goleiro recebeu a primeira visita desde que trocou de unidade prisional. Como é habitual, a cada transferência o preso fica 10 dias sem receber parentes, para se adaptar às regras do local. O advogado Tiago Lenoir conta que Bruno se apega à ideia de "superação" para voltar a jogar bola.
— Não é nem sacrifício, ele diz que são situações a serem superadas para poder voltar a trabalhar. Ele não está assistindo aos jogos, já que aqui não pega sinal de TV, e não comentou nada sobre os jogos. Estava muito emocionado, espera que as coisas melhorem. Quando saiu da Nelson Hungria, não deixaram pegar rádio, TV, cobertor. Ele pediu ao agente para pegar a Bíblia, foi só isso o que trouxe.
Foram 6h30 de viatura, na companhia de cinco detentos, para percorrer os 435 km entre Contagem e Francisco Sá. Agora Bruno está a 901 km de distância do Maracanã.
O goleiro, condenado a 22 anos de prisão pelo sequestro, morte e desaparecimento do corpo de Eliza Samudio, fica o dia todo em uma cela individual e tenta uma autorização de trabalho externo para retornar aos gramados. Ele tem contrato assinado com o Montes Claros, clube da 2ª divisão mineira. A transferência é justamente parte da estratégia para poder treinar no Montes Claros.
— Ele disse que a higiene na cela é melhor e que está sendo tratado como um preso qualquer. Ele tinha medo de ter problemas de adaptação, mas comentou até que a comida é boa. Logo uma comissão vai avaliar se ele pode trabalhar internamente, já que aqui começa do zero. Nada do que ele tinha lá vale automaticamente [ultimamente, Bruno trabalhava na construção de blocos de concreto em Contagem].
Volta aos gramados
Em fevereiro deste ano, Bruno assinou contrato com o Montes Claros Futebol Clube, que joga a segunda divisão estadual. Esse era um dos motivos do pedido de transferência para o Norte de Minas.
Entretanto, apesar da transferência concluída, a Justiça mineira negou no último dia 12 o pedido de trabalho externo feito pela defesa do goleiro Bruno Fernandes sob alegação de que não há condições para o cumprimento do contrato de Bruno com o time de Montes Claros
Segundo o juiz da Vara de Execuções Criminais de Contagem, Wagner de Oliveira Cavalieri, a lei prevê uma série de medidas de segurança para impedir fugas ou indisciplinas, com isto, seria necessário que o goleiro tivesse escolta diária até o trabalho.
Além disso, o Ministério Público já havia se posicionado contrariamente ao trabalho externo uma vez que o goleiro foi condenado à prisão em regime fechado.