E, na maioria das vezes, esse ritual de proteção é feito bem longe do estádio, onde eles querem que elas fiquem.
Desde o início da Copa, as mães dos juízes de futebol têm sentido suas orelhas queimarem… Ter filho árbitro é garantia de ser xingada. Mas ser mãe também significa pensar em primeiro lugar na cria. “Fica tranquilo, mamãe está aqui” é o mantra que Célia Sebastiana Costa, de 51 anos, mentaliza toda vez que o filho Daniel Victor Costa e Silva, de 23, profissional mais jovem do quadro de árbitros da Federação do Rio, entra em campo. E, na maioria das vezes, esse ritual de proteção é feito bem longe do estádio, onde eles querem que elas fiquem.
— Às vezes me falam: “Você é árbitro? Coitada da sua mãe!”. Mas em campo não escuto nada, fico concentrado. Se não fizer isso, não apito o jogo — declara o rapaz, que está acostumado a responder positivamente quando lhe perguntam: “Trouxe a sua segunda mãe para o jogo?”.
A tática é recomendada para evitar que os árbitros se enervem com possíveis xingamentos durante a partida. E chega a ser ensinada no curso de formação dos nossos futuros Arnaldos Cezar Coelho.
— Aviso aos alunos que eles devem levar uma mãe fictícia para o campo e preservar a de casa. Tem que abstrair a arquibancada — diz Glauco Cruz, diretor da Escola de Arbitragem Futebol 7, que funciona na Vila Olímpica do Salgueiro, no Andaraí.
Regra clara e seguida à risca nas casas de Delba Maria e Seilma de Castro, respectivamente, mães dos juízes Thiago Medeiros e José Waldson, que também contam como driblam os bocas-sujas de plantão e dão uma goleada de amor.
51 anos, de São João de Meriti, mãe do árbitro Daniel Victor Costa e Silva
“Foi Wilson, pai de Daniel, que o incentivou a fazer o curso de arbitragem. Meu filho sempre fez escolinhas, queria ser jogador de futebol, e foi fazer faculdade de Educação Física. Eu fiquei tranquila com a decisão dele de virar juiz. Não fiz drama. Gosto de futebol, mas me preocupo com a questão da violência fora do campo. As brincadeiras por ele ter escolhido essa profissão acontecem mais em família. Nunca tive problema algum ou fui xingada por estranhos pessoalmente. No jogo que fui ver, um primo dele ficava gritando na arquibancada “Prestem atenção nesse árbitro ladrão”, só para ver qual seria a minha reação. Eu só ri. Agora, com a Copa do Mundo sendo realizada aqui no Brasil, fico sonhando de vê-lo apitar numa final. Para isso, sei que precisaria torcer contra o Brasil. Mas se tiver que escolher entre ele e a seleção brasileira, prefiro ver meu filho em campo”.
“Nunca fui a um jogo apitado por ele. Mas, se estiver lá e ele errar, vou reclamar com ele depois. Do mesmo jeito que, se eu tiver na arquibancada e alguém xingá-lo perto de mim, vou descer a mão no torcedor. Como não quero fazer escândalo, eu não vou. Não fico torcendo quando ele vai apitar um jogo. Nunca o acompanhei nas partidas, não fui na formatura dele, mas também nunca interferi, não. Sei que é um gosto dele, é um sonho dele. Waldson sempre lutou sozinho. Como sou evangélica, peço para Deus fazer a vontade dele, que é chegar numa Copa do Mundo. E ele vai, em nome de Jesus!”.
Delba Maria da Silva
49 anos, de Vaz Lobo, mãe do árbitro Thiago Medeiros
“Eu dou muita força a para o meu filho. Não vou ao estádio porque lá ele não pode ficar comigo mesmo. Minha nora vai a todos os jogos e me representa. Eu o entrego na mão de Deus e digo: “Vai com Deus e Nossa Senhora”. Rezo sempre antes das partidas para não acontecer nada de violência, que é a única coisa que me deixa tensa, mais do que qualquer xingamento direcionado a mim. Fico feliz porque ele está fazendo aquilo de que gosta. Não sou eu que vai esquentar a cabeça. Não entendo muito de futebol, mas sei o que cada juiz tem que fazer. Como sou mãe de um, meu jeito de olhar as partidas mudou. Lembro que errar é humano. A gente olha para a arbitragem com mais carinho. Ele se formou em dezembro do ano passado e na formatura pediram para as mães se preparem, ficarem tranquilas. Eu tenho muito orgulho dele!”