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“Olha lá, a nossa Madre Teresa de Calcutá. Se amanhã ele decidir se candidatar a deputado, já está eleito.” Quem fazia a brincadeira era um membro da delegação da Seleção Brasileira, apontando para David Luiz. Depois de ter corrido mais de 8km na vitória brasileira sobre a Colômbia, o zagueiro já havia pedido à Arena Castelão que aplaudisse o adversário James Rodríguez e já havia resolvido um impasse sobre como fazer para que uma bola fosse levada ao vestiário para ser autografada pelos jogadores. Estava bem no meio de mais um de seus espontâneos périplos pós-jogo, concedendo a oitava entrevista consecutiva – duas delas em inglês – e mantendo o mesmo olhar de interesse em cada uma delas, para não falar nos sorrisos e tapinhas nas costas de voluntários, seguranças e quem mais estivesse por perto. Tudo isso e o zagueiro, uma das pessoas mais famosas do país em tempos de Copa do Mundo da FIFA, ainda não havia nem tirado o uniforme.
E, então, durante a conversa com a FIFA sobre essa sua atitude gregária fora do campo, David parece que só corrobora a tal comparação feita em tom de brincadeira. Se viesse de um discurso de Prêmio Nobel da Paz, sua resposta não estaria fora de lugar. “Se tem algo com que eu sempre sonhei e que sempre tentei mostrar às pessoas é que, nesta vida, nós estamos todos na mesma; que todo mundo merece respeito e que nós somos todos iguais.”
É certo: qualquer um é capaz de olhar para um microfone e dizer frases bonitas. O ponto não é esse. No caso de David, não é preciso muito esforço para saber que não se trata só de discurso: basta observá-lo. Ou, ainda, escutar quanto os adjetivos escolhidos por seus companheiros para defini-lo vão ao encontro das suas palavras. “Ele é demais. É muito carinhoso, muito atencioso, independentemente de quem seja a pessoa. Não é todo dia que você encontra gente assim”, diz Hulk, em papo com o FIFA.com. “O mundo inteiro sabe o que ele significa dentro de campo – para mim, junto com o Thiago (Silva) forma a melhor dupla de zaga do mundo -, mas nós, que estamos convivendo sempre ao lado dele, sabemos também da grande pessoa que ele é.”
E ele ainda joga
Porque, claro, o aspecto humano de David Luiz vem acompanhado desse detalhe considerável para uma equipe de futebol: ele é um dos melhores zagueiros do planeta e um dos grandes nomes da Copa do Mundo até aqui. Marcou dois dos três gols brasileiros na fase de mata-matas, incluindo um golaço de falta diante dos colombianos nas quartas de final, quando foi eleito o Craque do Jogo Budweiser. “Foi bonito de ver. Claro que a gente comemora o gol pelo time todo, mas ficamos felizes demais de ver um cara como o David marcando de novo”, admite Hulk. “A comemoração dele, extravasando daquele jeito, mexeu com a gente.”
No final das contas, se trata disso: David Luiz consegue mexer com o time, para não dizer o país, todo. Na semifinal contra a Alemanha, com a equipe desfalcada de seu craque, Neymar, e de seu capitão, o companheiro de zaga Thiago Silva, David vai fazer isso formalmente: usando a braçadeira de capitão. Não que isso faça diferença. “Esse grupo é muito tranquilo de se lidar, porque são pessoas simples e humildes. Fica fácil liderar”, ele diz, talvez invertendo um tanto a ordem dos fatores. Parece que é a torcida e o time que já acham fácil, natural até, ser liderados e influenciados pelo comportamento do zagueiro.
Por isso é que a Arena Castelão entrou naquela espécie de catarse coletiva ao vê-lo “extravasando daquele jeito”, como Hulk define a comemoração do segundo gol: um urro ensandecido, seguido de corrida frenética em direção ao público, com direito até a uma voadora furiosa na bandeirinha de escanteio no meio do caminho. Tudo como deve ser para quem tem esse dom de saber se portar em cada situação; de saber a hora de ser Madre Teresa de Calcutá.