Fazer o planejamento tributário antes de colocar dinheiro em uma aplicação ajuda a melhorar o retorno do investimento.
Impostos consomem boa parte dos rendimentos de uma aplicação. Por isso, calcular de antemão quanto você pagará em tributos aumenta, e muito, as chances de obter ganhos maiores.
“O ato de guardar dinheiro tem que ser bem planejado para compensar o esforço do investimento”, aponta a superintendente de Investimentos do banco Santander, Sinara Polycarpo.
O primeiro passo para fazer o planejamento tributário dos investimentos, destaca a executiva, é saber se a aplicação é isenta de Imposto de Renda (IR) ou qual a alíquota (porcentagem) cobrada sobre os ganhos de capital.
Veja abaixo sugestões de especialistas financeiros ouvidos pelo iG para obter o melhor retorno dos investimentos levando em conta os tributos:
1. No longo prazo, renda fixa tem menos impostos
Grande parte das aplicações de renda fixa usa a tabela regressiva de tributação do Imposto de Renda, lembra o diretor da Easynvest Título Corretora, Amerson Magalhães. “É preciso definir por quanto tempo se deseja manter o dinheiro investido, pois quanto maior o prazo, menos imposto se paga”, explica.
Aplicações com menos de seis meses têm incidência de 22,5% de IR, que cai progressivamente com o tempo, até atingir a menor alíquota de 15% após dois anos (veja a tabela abaixo). Isso vale para investimentos como fundos de renda fixa de longo prazo, fundos DI, CDBs e títulos do Tesouro Direto.
É preciso também verificar se, além da alíquota sobre o ganho de capital, a aplicação tem o famoso come-cotas, cobrança semestral de impostos. Ela é aplicada, por exemplo, nos papéis do Tesouro e em fundos.
Em junho, os ETFS (fundos de índices) de renda fixa passaram a ser isentos do come-cotas (imposto semestral), podendo tornar-se mais competitivos frente aos fundos de investimento, que permanecem com a tributação e com o imposto regressivo.
Antes de optar por qualquer fundo, lembra Magalhães, é preciso considerar também a taxa de administração cobrada, que varia consideravelmente entre as instituições financeiras. Outras aplicações de renda fixa cobram taxa de custódia.
2. Economize com um plano de previdência adequado para seu perfil
No caso da previdência complementar, se o investidor costuma ter muitos gastos dedutíveis no IR (como saúde ou educação), compensa optar pelo modelo PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livre), que permite abater 12% do valor investido sobre o imposto a ser pago ao Leão. Em compensação, ao resgatar o dinheiro do plano, o IR incidirá sobre o todo valor acumulado.
O VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livre), por sua vez, não é dedutível na declaração do IR, mas pode representar uma vantagem maior no momento do resgate, já que a tributação só incide sobre o rendimento. “Alguns planos com prazo bem longo chegam a uma alíquota de apenas 10%”, lembra Sinara, do Santander. É preciso avaliar, ainda, a rentabilidade do plano.
Se o investidor estiver insatisfeito com a rentabilidade líquida (descontados impostos e taxas), pode fazer a portabilidade para outro plano sem precisar pagar nada por isso, e sem prejudicar o prazo do investimento, lembra a especialista.
3. Leve em conta as aplicações isentas de IR
Embora sejam minoria, os investimentos isentos de IR costumam levar vantagem na rentabilidade líquida. Algumas delas têm atraído um número considerável de investidores pela atratividade da isenção. As mais populares são as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio).
São títulos de renda fixa garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) em até R$ 250 mil. Os mais comuns são pós-fixados, normalmente atrelados ao CDI (que segue a taxa Selic). “Se esses papeis pagam o mesmo que CDBs, como 90% do CDI, eles levam vantagem na remuneração líquida pela isenção do imposto”, exemplifica Magalhães, da Easynvest.
No estoque da Cetip, LCIs, LCAs e Letras Financeiras (LFs) movimentaram em maio um volume 26% maior que no mesmo período do ano passado, de R$ 491,9 bilhões. Em compensação, o volume investido nos CDBs caiu 8% no mesmo período, para R$ 556 bilhões.
Com o novo pacote de incentivos de investimentos anunciado pelo governo em junho, outras aplicações ganharam a mesma vantagem. É o caso das debêntures de infraestrutura. “São aplicações de longuíssimo prazo e nenhuma liquidez, mas com ótima remuneração atrelada ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), mais 7% ao ano, sem IR”, lembra Sinara.
4. Aplicar em Bolsa pode gerar isenção
Ao investir no mercado de ações, também é possível se beneficiar da isenção tributária. A alíquota atual é de 15% sobre o lucro líquido na Bolsa, já descontadas as demais taxas, como corretagem e administração. Mas esse imposto só incide em operações de venda acima de R$ 20 mil.
“Quem opera na Bolsa pode se programar para vender até esse valor e ficar isento de pagar IR, o que é um belo incentivo”, sugere Sinara.
Magalhães lembra que, ao contrário dos investimentos em renda fixa, o investidor da Bolsa é responsável por apurar o imposto devido e recolher o valor para a Receita.
Também no pacote de isenções do governo, está o ganho de capital obtido pelo pequeno investidor (pessoa física) em ações de pequenas e médias empresas (PMEs), companhias com valor de mercado abaixo de R$ 700 milhões e receita bruta inferior a R$ 500 milhões.