Três empreendedores de Maceió criaram o Piggo, plataforma que funciona como um "cofrinho eletrônico" para os consumidores
A falta de troco é um grande problema para os donos de estabelecimentos comerciais. Quando alguém paga a conta com dinheiro e o varejista não tem notas e moedas de pequeno valor, é preciso negociar. Uma das alternativas é ficar devendo para o cliente; a outra é enchê-lo de doces – a famigerada "bala de troco". De um jeito ou de outro, o consumidor nunca fica satisfeito. Uma proposta de solução para esse problema vem de Maceió: o Piggo, criado por três empreendedores da capital de Alagoas.
A startup a é comandada por Bruno Peixoto, 36 anos, Eduardo Peixoto, 36, e Jefferson Bezerra, 31. A inspiração para o negócio surgiu quando Bruno estava conversando com um empresário do ramo de bebidas, que estava prestes a aumentar o preço de um produto de R$ 8 para R$ 9. Com o reajuste, ele precisaria de muitas moedas de R$ 1 para o troco, porque a maior parte dos pagamentos seria feita com notas de R$ 10. "Como empreendedores, estamos sempre antenados, em busca de um problema para resolver. Após esse episódio, percebemos que esse poderia ser um bom segmento para atuarmos", diz Bruno Peixoto.
Os três começaram a desenvolver a plataforma em agosto do ano passado. Três meses depois, o Banco Central regulamentou a legislação dos meios de pagamento móveis no Brasil, algo que ainda não existia. Por conta disso, o lançamento do Piggo foi adiado. "Tivemos que dar um passo atrás, para nos ajustarmos à lei", diz Bruno. A startup planeja o lançamento oficial para daqui a um mês, com 30 pontos de venda parceiros em Maceió.
Jefferson Bezerra, Bruno Peixoto e Eduardo Peixoto, da Piggo (Foto: Divulgação)Até lá, os alagoanos correm atrás de estabelecimentos parceiros. Para usar o Piggo, o varejista deve se cadastrar e "colocar créditos" na plataforma – esse valor será usado para passar o troco aos clientes.
Por sua vez, o consumidor não precisa fazer nada para começar a usar o serviço. Para receber o "troco digital", os clientes só precisam fornecer, em estabelecimentos parceiros, o CPF e o número do celular. Logo depois, será enviada uma mensagem de texto para o telefone do consumidor, com um texto de boas vindas, o link do site do Piggo e um código de ativação. "Com esse código, o cliente se cadastra no site e poderá ver todo o dinheiro que recebeu, de uma forma parecida com o serviço da Nota Fiscal Paulista e iniciativas semelhantes pelo país", afirma Peixoto.
O saldo dos consumidores no Piggo pode ser usado para recargas de celular, doações a uma instituição de caridade de Maceió, repasse para outras contas Piggo e transferências para uma conta corrente. Nesse caso, a startup cobra uma comissão em caso de repasses inferiores a R$ 50.
Além da taxa em transferências, o Piggo cobra uma taxa de depósito sobre cada recarga realizada por parceiros. O dinheiro proveniente das duas operações serve para manter os custos de operação da empresa. Segundo Bruno Peixoto, o lucro propriamente dito virá de outros lugares. "Vamos ganhar com as comissões pagas pelas empresas de celular e outros serviços que ofereceremos no futuro." Ele afirma que um dos planos do Piggo é ampliar a oferta de opções de conversão. "Produtos como vale-presentes e milhas, por exemplo, estão no nosso radar."
A meta do Piggo é, até a metade do ano que vem, ter 300 mil usuários. A startup também planeja chegar a outras cidades brasileiras até lá.
Sem medo dos cartões
Ao mesmo tempo em que surge o Piggo, o uso dos cartões de crédito e débito se consolida no país. Com o dinheiro de plástico, nunca há troco – e se ninguém tem problema com troco, ninguém precisa do Piggo. Certo? Segundo Bruno Peixoto, não. Ele se baseia na pesquisa "O Brasileiro e sua Relação com o Dinheiro", feita pelo Banco Central com dados de 2013. De acordo com o levantamento, 51% dos brasileiros recebiam o salário em dinheiro vivo na época e 78% usavam cash como principal forma de pagamento. "Os números mostram que o dinheiro é muito presente na vida dos brasileiros e que há espaço para a nossa empresa."
O empreendedor reconhece que, no futuro, a tendência é que deixemos o papel-moeda de lado. Mas até lá, o plano da startup é deixar de ser apenas um "cofrinho" e se transformar em uma "carteira eletrônica". "Quando a situação mudar, desejamos ser um meio de pagamento digital e popular", afirma Peixoto.