Mas braço armado do Hamas rejeita oferta de trégua e exige acordo completo sobre confronto.
O gabinete de segurança israelense, presidido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, aceitou nesta terça-feira a proposta de trégua apresentada pelo Egito. Netanyahu ameaçou ampliar as operações na Faixa de Gaza após o Hamas rejeitar o acordo e prosseguir com o lançamentos de foguetes. Desde que Israel anunciou a suspensão do bombardeio, esta manhã, pelo menos 30 projéteis foram disparados contra o país por "terroristas" palestinos, como disse o Exército no Twitter. Sirenes de alerta aéreo voltaram a soar em várias cidades israelenses.
— Se o Hamas não aceitar a proposta egípcia, como é o caso atualmente, Israel terá toda a legitimidade internacional para ampliar suas operações militares com o objetivo de restabelecer a calma — ameaçou Netanyahu durante um encontro com o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, em Tel Aviv.
Pela proposta egípcia, a trégua deveria entrar em vigor a partir das 9h da manhã (3h no horário de Brasília), depois de uma semana de ofensiva. A rádio militar israelense indicou que a resposta do gabinete de segurança, que reúne os principais ministros, foi apresentada alguns minutos antes do prazo fixado.
O braço armado do movimento islâmico palestino Hamas, as Brigadas Ezzedine al Qassam, que controla a Faixa de Gaza, no entanto, rejeitou a proposta, classificando-a de rendição, e exigiu um acordo completo sobre o confronto.
“Se o conteúdo desta proposta (de cessar-fogo) for exato, trata-se de uma rendição e o rejeitamos sem apelação”, indicaram as Brigadas em um comunicado. “Nossa batalha contra o inimigo se intensificará”, acrescentou.
O número de ataques israelenses chegou a 1.300 desde o início da operação "Limite Protetor", há oito dias, contra 900 projéteis disparados por Gaza. Ao menos 192 palestinos morreram e mais de 1.100 pessoas ficaram feridas. Hospitais de Gaza sofrem com a escassez de medicamentos e equipamentos, enquanto pacientes cruzam a fronteira com o Egito em busca de tratamento.
Apenas parte dos foguetes lançados pelo Hamas atingiu regiões urbanas de Israel. O Domo de Ferro, sistema israelense de interceptação de foguetes, teve até o momento êxito de 87%, segundo o jornal "Haaretz". Devido à eficiência do sistema e da imprecisão dos projéteis, os ataques do Hamas provocaram poucos danos em Israel.
ACORDO PREVÊ FIM DAS HOSTILIDADES MÚTUAS
O pedido para interromper as hostilidades foi feito um pouco antes de uma reunião de emergência dos ministros das Relações Exteriores da Liga Árabe no Cairo, convocada em caráter de urgência para discutir a ofensiva israelense na Faixa de Gaza.
A proposta de cessar-fogo egípcia teria como base o fim das hostilidades mútuas. Israel pararia com todo e qualquer ataque por ar e mar, além de estancar os preparativos para uma incursão terrestre. Ao mesmo tempo, todas as facções palestinas atuantes em Gaza deixariam de disparar foguetes e morteiros contra Israel.
As condições também incluem a reabertura dos postos de fronteira entre Israel e Gaza para a passagem de produtos e o relaxamento da proibição de ir e vir de pessoas. A oferta egípcia também incluía a abertura de negociações para a entrada de bens de primeira necessidade na região onde acontece o conflito. O país ainda havia sugerido receber nas 48 horas seguintes delegações de Israel e palestinos para iniciar discussões que ponham fim ao confronto.
Em sua primeira aparição desde o começo do confronto, na segunda-feira, o líder do Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, tinha admitido, em vídeo, os contatos para uma possível trégua. O governo israelense também havia confirmado, afirmando que o gabinete de segurança discutiria a proposta egípcia para encerrar a operação "Limite Protetor".
KERRY EXORTA TODOS OS PARTIDOS A ACEITAREM A PROPOSTA
No Cairo para participar do esforço de negociação, o secretário de Estado americano, John Kerry, exortou a todos os partidos israelenses a aceitarem a proposta.
— A proposta egípcia para um cessar-fogo e negociações oferecem uma oportunidade para acabar com a violência e restaurar a calma. Saudamos a decisão do gabinete israelense de aceitá-la. Pedimos a todos os outros partidos que aceitem a proposta.
Pouco antes, os Estados Unidos advertiram Israel contra qualquer incursão terrestre na Faixa de Gaza. É a primeira vez que os EUA fazem uma advertência pública contra uma invasão israelense à Gaza. Netanyahu afirma que uma incursão pode ser necessária para enfrentar o Hamas.
— Ninguém quer ver uma ofensiva terrestre à Gaza porque isso colocaria mais civis em risco — disse o porta-voz da Caca Branca Josh Earnest.
Apesar do aviso aos aliados israelenses, a Casa Branca não condenou as mortes de palestinos, dezenas deles crianças. O governo americano sustenta que Israel tem o “direito” e a “obrigação” de defender seus cidadãos contra os ataques de mísseis vindos de Gaza.
Os EUA também vinha pressionando pelo cessar-fogo. Na última sexta-feira, o governo americano reforçou, por meio de seu porta-voz, Josh Earnest, que poderia ajudar a alcançar um acordo utilizando a influência que tem na região. O presidente americano, Barack Obama, já havia telefonado para Netanyahu, oferecendo a mediação dos EUA para resolver a crise.
— Estamos interessados em levar adiante os passos que demos há um ano e meio, em novembro de 2012, para proporcionar um cessar-fogo e tentar voltar para a situação anterior — disse o porta-voz da Casa Branca.
Em 2012, as negociações do cessar-fogo foram mediadas com a ajuda do Egito, que na época era governado por Mohamed Mursi, membro da Irmandade Muçulmana, grupo com fortes ligações com o Hamas. A situação agora se inverteu. Mursi foi deposto e Abdel Fattah al-Sisi, um ex-general, preside o país. E a Irmandade passou a ser considerada um grupo terrorista.