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João Ubaldo Ribeiro é sepultado no Mausoléu da ABL, no Rio

O velório foi interrompido na madrugada e retomado às 8h de hoje.

Marcelo Piu / Agência O Globo

João Ubaldo Ribeiro foi enterrado no Mausoléu da ABL

A despedida final a João Ubaldo Ribeiro começou às 10h no Cemitério São João Batista, neste sábado, para onde foi transferido poucas horas antes, diretamente da Academia Brasileira de Letras, na qual ocupava a cadeira 34 desde 1994. O escritor, morto na madrugada de sexta-feira após sofrer uma embolia pulmonar, recebeu o adeus de diversos artistas, amigos e colegas imortais da ABL no Salão dos Poetas Românticos da instituição, no Centro, desde o fim da manhã de ontem. O velório foi interrompido na madrugada e retomado às 8h de hoje.

O sepultamento, no Mausoléu dos Imortais da ABL, foi rápido, sendo concluído antes das 10h30m. Por debaixo do fardão de acadêmico, João Ubaldo estava com uma camiseta de sua terra natal, Itaparica, que, segundo a família, era o seu xodó. Antes de o caixão ser conduzido à urna, a esposa e os filhos fizeram uma última despedida e, em seguida, o cobriram o corpo com uma camisa do bloco Areia, no qual ele desfilava todos os anos no Leblon.

Às 8h, a ABL foi reaberta para o público render as últimas homenagens ao autor de "Viva o povo brasileiro", "Sargento Getúlio" e outros clássicos da literatura nacional. A esta hora, Manuela, filha do primeiro casamento do escritor (com Mônica Roters), que vive na Alemanha, já havia chegado ao local, muito emocionada. O enterro foi adiado para o dia seguinte da morte para que ela pudesse estar presente, segundo funcionários do cemitério.

Acadêmicos como Arnaldo Niskier e Nélida Piñon, além de leitores, parentes e amigos, chegaram cedo à ABL, onde, às 8h50m, teve início uma cerimônia religiosa.

Após a missa, celebrada pelo monsenhor Sérgio Costa Couto, da Capela do Outeiro da Glória, na sede da instituição literária, o acadêmico Domício Proença Filho, secretário geral da ABL, leu uma carta do presidente da casa, o acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti, que, por motivo de doença, não pôde comparecer. A mensagem começa lamentando a morte de João Ubaldo, segundo destacou, tão próxima à recente perda do poeta e acadêmico Ivan Junqueira, que faleceu no último dia 3:

“A casa está triste, a casa está chocada. João Ubaldo parte de surpresa e o luto é nacional”, afirma o presidente em um trecho de sua carta, que encerra com a seguinte frase: “Sentimos todos, acadêmico João Ubaldo, a falta que nos faz. Consola saber que seu nome entra para o Panteão da Academia Brasileira de Letras”.

No pátio da ABL estavam expostas várias coroas de flores que continuram chegando nesta manhã, e que em seguida foram transferidas para o São João Batista. Elas foram enviadas por editoras, secretarias da prefeitura, amigos e estabelecimentos frequentados pelo escritor, entre eles, o Boteco Belmonte. O governador Luiz Fernando Pezão também enviou coroa de flores.

O adeus de fãs anônimos
A enfermeira Valdeci Andrade Santos, de 48 anos, baiana da cidade Itamari, que mora no Rio há 32 anos, chegou na ABL às 7h30m deste sábado para prestar sua última homenagem a João Ubaldo. Ela contou que não leu as obras do escritor, mas o conhecia por ser um baiano famoso.

— Como os baianos tem um carinho muito forte pelos conterrâneos, me senti motivada a vir aqui para dar um último adeus. Os baianos são conhecidos por serem muito hospitaleiros, gostam de fazer amizades, são muito receptivos e esse carinho pelo povo nós carregamos pelo resto da vida. Você lembra que os alemães foram conhecer o índios no sul da Bahia ficaram lá e adoraram. Nós somos assim. Quando se trata de um conterrâneo a gente sente muito a perda dele, mesmo quando não o conhecemos pessoalmente — disse Valdeci.

O livreiro Sérgio Von Held, 53 anos, que trabalha na Letra Viva, também foi um dos que chegaram cedo ao local. Ele ficou ao lado caixão sozinho por algum tempo. Sérgio conta que trabalha com livros há 20 anos. Ele conversou com a esposa de João Ubaldo durante o velório. O livreiro disse que o pai dele também faleceu aos 73 anos e que aquele era o primeiro velório que comparecia desde então.

— Ele tem uma obra muito viva que já rendeu adaptações para televisão e o cinema. Isso permitiu que o trabalho dele fosse conhecido e admirado por muito mais pessoas, além daqueles que conheceram seus livros — comentou.