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Missionária que trabalhava com padre espanhol infectado morre vítima do ebola

Chantal Pascaline era uma das duas companheiras do religioso; outra freira, Juliana Bonoha, segue em observação.

A missionária congolesa Chantal Pascaline, de 47 anos, uma das duas companheiras dos religiosos espanhóis evacuados da Libéria nessa quinta-feira pelo surto do ebola, morreu neste sábado em Monróvia, vítima da doença, conforme informou a ONG para a qual trabalhava.

– A Ordem Hospitalar de São João de Deus informa a triste notícia do falecimento esta madrugada da irmã Chantal Pascaline por causa do Ebola no Hospital São José de Monróvia – relatou a organização religiosa à qual pertence o padre espanhol Miguel Pajares, o primeiro infectado pelo vírus repatriado para a Europa.

O estado de Pajares, de 75 anos, é estável. Ele chegou à Espanha junto com a freira Juliana Bonoha, com quem trabalhava no hospital da capital liberiana. A africana, de 65 anos, que tinha nacionalidade espanhola, está sem sintomas e em bom estado geral, segundo o Hospital Carlos III de Madrid, onde ambos estão internados.

A Ordem de São João de Deus, responsável pela ONG que gerencia o hospital, pediu ao ministério espanhol das Relações Exteriores a retirada urgente de Pajares, Pascaline e da freira guineana Paciencia Melgar, ambas pertencentes, como Bonoha, à Congregação das Missionárias da Imaculada Conceição, e infectadas pelo vírus. A diretora-geral da Saúde Pública espanhola, Mercedes Vinuesa, disse, no entanto, que o país só repatriaria os espanhóis.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou nessa sexta-feira uma emergência de saúde pública de alcance mundial e convocou a comunidade internacional a se mobilizar contra a epidemia de Ebola no oeste da África.

Em Genebra, o comitê de urgência da OMS se reuniu nessa quarta e quinta-feira e considerou de forma unânime que estão dadas as condições para declarar “uma emergência de saúde pública de alcance mundial”, segundo a diretora-geral da organização, Margaret Chan.

O comitê acrescentou, ainda, que diante de uma situação que se agrava, “uma resposta internacional coordenada é essencial para conter e fazer retroceder a propagação internacional do Ebola”.

DETERMINAÇÕES DE AUTORIDADES
A principal cidade da Nigéria, Lagos, está precisando de voluntários para ajudar no combate ao vírus do ebola, conforme as autoridades locais informaram neste sábado.

– Temos escassez de pessoal. Não vou mentir. Por isso estamos pedindo voluntários – afirmou o comissário encarregado da Saúde em Lagos, Jide Idris.

A cidade registrou nove casos confirmados de Ebola e duas mortes pelo vírus. O presidente do país, Goodluck Jonathan, declarou estado de emergência sanitária algumas horas depois que a Organização Mundial da Saúde decidiu classificar a epidemia como emergência de saúde pública de alcance mundial.

Já Guiné anunciou também neste sábado o fechamento de suas fronteiras com Serra Leoa e Libéria, em uma tentativa de frear a propagação do ebola, um vírus que matou cerca de 1.000 pessoas nos três países este ano.

– Nós provisioriamente fechamos a fronteira entre Guiné e Serra Leoa por todas as notícias que recebemos de lá recentemente – disse o ministro da Saúde do país, Rémy Lamah, afirmando que também fechou a fronteira com a Libéria.

Em uma das determinações mais rígidas até agora por um país do sudeste da África, a Zâmbia disse que vai restringir a entrada dos viajantes vindo de países afetados pelo vírus do ebola, além de proibir os zambianos de viajarem para esses países.

– Todas as delegações de qualquer um dos países afetados pelo ebola estão impedidas de entrar no Zâmbia até nova ordem – disse o Ministério da Saúde em um comunicado publicado em seu site neste sábado.

A declaração disse também que qualquer zambiano que chegar desses países seriam "cuidadosamente selecionados e colocados em quarentena", acrescentando que mais nenhuma viagem por zambiano para esses países serão autorizadas.

AMERICANO ESCREVE CARTA
Um dos dois americanos que estão sendo tratados pelo vírus do ebola nos EUA disse que está "melhorando a cada dia" em uma carta divulgada nessa sexta-feira.

"Estou melhorando a cada dia e agradeço a Deus por sua benção, já que lutei contra essa terrível doença", escreveu o médico Kent Brantly no seu quarto de isolamento no hospital da Universidade de Emory em Atlanta, onde ele está desde que foi transferido da Libéria para os EUA, no último sábado.

Brantly foi a priméria vítima confirmada do ebola a ser tratada nos EUA, e é um dos dois americanos trabalhadores de saúde infectados. A outra, Nancy Writebol, também está sendo tratada em Atlanta.

O médico contraiu ebola enquanto trabalhava em um hospital na Libéria para a organização de caridade Samaritan’s Purse, que divulgou a carta nessa sexta-feira:

"Uma coisa que aprendi é que seguir Deus normalmente nos leva a lugares inesperados. Quando o ebola se espalhou na Libéria, minha rotina no hospital se tornou mais e mais voltada para tratar o número crescente de pacientes do ebola. Segurei as mãos de incontáveis indivíduos quando essa terrível doença tirava a vida deles. Testemunhei o horror em primeira mão e ainda consigo lembrar cada rosto e cada nome.

Quando comecei a me sentir doente naquela quarta-feira de manhã, imediatamente me isolei até o teste confirmar o meu diagnóstico três dias depois. Quando o resultado deu positivo, lembrei um profundo sentimento de paz que estava acima de qualquer compreensão. Deus estava me lembrando do que ele havia me ensinado anos atrás: que ele vai me dar tudo que eu preciso para ser fiel a ele."