Elba Lúcia Lins Monteiro, de 47 anos, tem Síndrome de Down, cardiopatia, frouxidão dos ligamentos e, por volta dos 30 anos, tornou-se cadeirante.
Quando atividades corriqueiras, como amarrar os sapatos, começaram a dificultar a vida do gerente comercial Fábio Lúcio Bissoli, 35 anos, de São José do Rio Preto (SP), ele teve de rever seu estilo de vida para que seu peso não trouxesse problemas graves de saúde. Com determinação e foco, um ano e oito meses depois, Fábio emagreceu 76 quilos e agora é outra pessoa.
O desafio começou em outubro de 2012, quando o gerente comercial atingiu seu peso máximo: 168,5 quilos. Em uma família com histórico de obesidade, ele queria conseguir emagrecer sem cirurgias. “Chegou um ponto na minha vida que tive de tomar uma decisão. Tive duas situações limites, como não conseguir amarrar o cadarço sozinho, uma ação simples e rotineira. Outra situação que me marcou foi quando fui fazer uma viagem de avião e tive de pedir um extensor para o cinto de segurança. Foi extremamente constrangedor, todos em volta te olham, fora o desconforto do aperto na cadeira”, afirma.
Fábio conta que sempre foi acima do peso, e que a partir dos 10 anos, começou a engordar ainda mais, ano a ano, até chegar aos 30, na casa dos três dígitos na balança. Ele diz que tem na família parentes que optaram por fazer a cirurgia bariátrica, mas não era o que ele queria. “Engordei de forma gradual e constante, e aos 32 cheguei ao auge do meu peso. Um homem não engorda do dia para noite, ele engorda durante toda a vida. Se fosse para emagrecer, teria de ser assim”, diz o gerente comercial.
Sem cirurgia, Fábio procurou receitas milagrosas e remédios para tentar perder os quilos a mais, mas sem sucesso. A saída foi procurar uma vida mais saudável e, como gosta de esportes e atividades físicas, mas nunca tinha tempo para fazer algo regular, ele precisou se reeducar. Com a nova missão de emagrecer, ele descobriu o personal trainer e, em sua rotina, começou a praticar exercícios seis vezes por semana. “O personal é o cara que me doutrina e me motiva, e com uma nutricionista fiz uma reeducação alimentar. Com isso consegui perder peso, mas é muita determinação, sem falhar na dieta e nos exercícios”, diz.
O trabalho deu certo: um ano e oito meses depois, Fábio pesa 92 quilos, saindo da condição de obeso mórbido para sobrepeso. Foram 76 quilos perdidos – 12 apenas no primeiro mês. Para ele, o segredo de conseguir este feito é não se sabotar e não desanimar. “Se eu não quiser vir malhar é fácil, é apenas não vir. Mas, o prejudicado será você, não pode se enganar, o grande problema para o obeso é errar a primeira vez, porque muitos não conseguem voltar”, afirma.
Para não se sabotar, Fábio começou a saborear as pequenas conquistas no longo trajeto, como perder 12 quilos no primeiro mês, conseguir bons tempos nos exercícios aeróbicos, trocar de guarda roupa quatro vezes durante o desafio e comprar roupa em qualquer loja. “Hoje tenho prazer de entrar em qualquer loja e comprar uma roupa para mim, o que para muitos é uma coisa simples. Antes eu tinha de ir a lojas específicas para obesos. Esses foram meus prêmios, porque no começo é muito difícil. Um cara com o peso que eu tinha, ir malhar, não é fácil. Não conseguia correr um minuto na esteira”, afirma.
O desafio não para por aí, já que Fábio ainda pretende perder pelo menos mais três quilos, antes de fazer a cirurgia plástica, o que espera fazer no ano que vem. Com a cirurgia, ele pretende perder ainda mais seis quilos só de pele e, com isso, chegar ao peso ideal.
Malhação
Para o personal de Fábio, Alex Arroyo, a principal missão dele era conseguir manter seu aluno focado durante todo o tempo, já que, segundo ele, muitas pessoas acabam desistindo nas primeiras adversidades. “A maior dificuldade é trabalhar a parte motivacional, porque é um trabalho longo, então tem de motivar a cada aula, trazendo novas atividades. Uma pessoa que chega à academia com 160 quilos, não conseguir caminhar um minuto na esteira, é preciso ter várias opções para ele não desistir nas primeiras dificuldades”, diz.
Alex explica que com o respaldo da avaliação física e nutricional foi possível criar um cronograma de trabalho para manter Fábio sempre focado. O personal diz que já pegou alunos com a intenção de perder muitos quilos, mas nada comparado ao gerente comercial. “Não foi um desafio só para o Fábio, mas para mim também. Ele chegou com sérias limitações físicas e eu tinha de mostrar para ele que era capaz. As ferramentas nós tínhamos, mas a cabeça da pessoa de querer isso também é fundamental. No fim, a gente acaba virando amigo, o acompanhamento profissional é importante, porque é ele que vai dar equilíbrio na intensidade do exercício e não te prejudicar”, afirma.
Nutrição
Fábio não quis passar pela cirurgia bariátrica, primeiramente, por medo. Mas também pelo fato de a operação restringir muito sua alimentação, além de ter de tomar uma série de medicamentos. Foi aí que a nutricionista Simone Martineli da Costa entrou em cena.
Ela explica que o importante nestes casos não é uma dieta restritiva, mas sim fazer uma reeducação alimentar baseada nas preferências da pessoa. “O que sempre falei ao Fábio é que o importante é a reeducação alimentar, adaptar a rotina da pessoa e mudar hábitos para ter uma alimentação saudável, mas também na quantidade certa. Uma dieta restritiva acaba deixando a pessoa antissocial, e isso acaba desmotivando”, diz.
Depois de todo o sofrimento, Fábio afirma que atualmente se dá ao luxo de, nos fins de semana, comer um doce, uma picanha, tomar uma cervejinha, mas, sempre voltando para a rotina de alimentação. “Posso hoje comer um chocolate, mas não vou comer todo dia. Não fiz a cirurgia por medo também de perder o prazer em comer, de ir a uma churrascaria, optei por ir pelo lado saudável”, comenta.
Quase dois anos depois do início do desafio de emagrecer, Fábio se diz realizado e que sua vida pessoal e profissional melhoraram muito. Problemas de saúde, como pré-diabete, pressão alta e apneia do sono deixaram de existir. “Eu dormia muito mal, mas hoje durmo a noite inteira. Então isso são qualidades de vida que você conquista que não quer perder. A academia você acaba pegando gosto, hoje venho porque gosto, não porque é obrigação.”