Negociador diz que usou religião para acalmar homem que fez refém no Rio
O negociador do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que intermediou a libertação do refém na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, Zona Sul do Rio, na noite deste domingo (17), admitiu que em alguns momentos a vítima realmente correu risco de morte.
Segundo ele, o desequilíbrio emocional do sequestrador dificultou a negociação, já que Carlos Alberto de Souza Júnior, de 35 anos, é esquizofrênico e demonstrava grande oscilação de temperamento, como mostrou o RJTV.
“Houve momentos que ele ameaçou realmente o refém”, contou o sargento Santos. “Eu tentei acalmá-lo, porque no momento que eu o encontrei, ele encontrava-se muito nervoso. A primeira medida que a gente tenta fazer é diminuir o estresse do tomador. Também ressaltei o fato de ele estar dentro de uma igreja e ele informou que era católico, aí nós fomos desenvolvendo o assunto e pegando esse elo de confiança”, lembrou Santos, que negociou por cerca de uma hora.
Na manhã desta segunda (18), a igreja funcionou normalmente e o comentário entre os fiéis foi o sequestro da noite anterior. Por volta das 16h30, Carlos Alberto e outro homem assaltaram funcionários e clientes de uma farmácia da região. Na saída, os dois foram surpreendidos por PMs. Segundo testemunhas, os policiais que estavam dentro de uma cabine que fica a cerca de 200 metros da farmácia viram a ação dos bandidos e o tiroteio começou. Os tiros atingiram duas lojas. Um dos bandidos conseguiu fugir.
Carlos Alberto tentou entrar num taxi, mas o motorista reagiu. “Estava parado no sinal, ele bateu no vidro e eu pensei que seria informação que ele queria. Quando baixei o vidro ele apontou a arma”, disse o taxista, lembrando que agarrou a arma e depois de um puxão do assaltante teve a mão ferida.
Em seguida, Carlos Alberto entrou na igreja, onde acontecia uma missa. Ele teria subido no altar e rendido o padre. Enquanto fiéis tentavam se proteger, Eduardo Almeida, ministro da eucaristia, ficou ao lado do padre e acabou sendo mantido refém. “Só pedi a deus e agradeci a Deus pelo dom da vida e pedia muito pela minha vida e pela vida dele”, afirmou Almeida.
Segundo os investigadores, Carlos Alberto não tem antecedentes criminais. O pai do sequestrador disse que o filho faz uso de medicamentos para tratar esquizofrenia e que nos últimos dias estava muito agitado. “Infelizmente hoje ele surtou e aconteceu o inesperado, que nem a família e nem ninguém esperava isso acontecer”, contou uma amiga da família.
Delegada estava na igreja
Valéria Aragão, titular da Delegacia de Combate aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DCPIM), estava entre as fiéis que foram surpreendidas na igreja. Em conversa com agentes, ela ouviu relatos de que o pai do jovem e a irmã estavam no local e poderiam ser utilizados na negociação. Os familiares contaram que o jovem faz tratamento contra esquizofrenia há mais de 10 anos e faz uso de bebida alcoólica.
Ele é apontado pelos parentes como uma pessoa agressiva, apesar de não ter antecedentes criminais. Durante a ação, Carlos Alberto repetia que o comparsa teria sido morto e, por isso, pediu a presença de jornalistas na igreja para que sua integridade física fosse preservada. "Tudo foi pensado e feito para que transcorrese da maneira mais segura possível", minimizou a delegada.
‘Houve um certo desespero’
A confusão na Igreja ocorreu durante a missa. A jornalista Eva Barros, de 75 anos, contou que estava sentada na frente do altar quando o padre foi rendido. "Eu vi ele [o autor do sequestro] passar com a arma na mão em direção ao altar e o padre levantou as mãos para o alto. O rapaz encostou a arma na cintura dele [do padre] e o levou para trás do altar. Depois, largou o padre e pegou o ministro da eucaristia", contou.
Segundo Eva, os primeiros policias entraram na igreja segundos depois do homem armado. "Os policiais começaram a gritar para ele jogar a arma no chão. Depois começaram a mandar todo mundo sair", disse a idosa. Após a retirada dos policiais da patrulha, agentes especializados da Polícia Civil e do Bope comandaram a situação.