PC abre novo inquérito para apurar envolvimento de autoridades e rituais macabros
O depoimento do suplente de vereador Eliseu Barbosa de Oliveira, o Júnior Barbosa, acusado de liderar um grupo de extermínio que atuava na Zona Sul de Maceió, levou a Polícia Civil a abrir novo inquérito para apurar denúncias graves contra mais de dez pessoas da região, além de integrantes da Justiça e do Ministério Público Estadual. Em mais de duas horas de depoimento, Júnior contou como atuava o grupo de extermínio, denunciou o envolvimento do deputado estadual Marcos Barbosa e a realização de rituais macabros em cemitérios.
Em entrevista coletiva à imprensa, na tarde desta quinta-feira, 21, o delegado-Geral de Polícia Civil, Carlos Alberto Reis, e o delegado Denisson Albuquerque, reiteraram que o grupo de extermínio foi descoberto a partir da morte de três garotos identificados como Ninho, Neguinho e Lúcifer. O sobrinho de Júnior Barbosa, que seria um ex-integrante do grupo e que teria ‘rachado’, temendo morrer, contou à polícia da sua participação nos crimes e do envolvimento dos demais integrantes. As denúncias haviam sido formalizadas em abril deste ano e desde então a polícia vinha investigando o caso.
À imprensa, Júnior contou que seu sobrinho fez as denúncias a mando do deputado Marcos Barbosa, em troca de R$ 100 mil e de representação jurídica. Relevou também que pensou em denunciar o esquema criminoso ao aparelho de Segurança Pública, mas não o fez anteriormente com medo de morrer. "Eu tinha medo porque o deputado tinha muitos contatos e muita influência na Justiça e no Ministério Público", afirmou.
Questionado sobre a atuação do grupo de extermínio, Barbosa contou que era representante da Zona Sul da capital, que abrange bairros como Trapiche, Ponta Grossa e Vergel. A ideia era tirar de circulação pessoas que causassem transtornos na região. Como exemplo, o suplente de vereador citou um jovem dependente químico, que teria sido internado algumas vezes para se livrar do vício, mas que fugia da internação e voltava a praticar roubos e perturbar os moradores do Trapiche. Esse garoto teria sido assassinado com o aval do parlamentar. “Tudo o que ocorria, tinha o aval do deputado. Ele sabia de tudo. Neste dia informei que iria fazer o que era preciso e ele respondeu: cuidado para não deixar rastro”, relatou.
Júnior ainda acusado o parlamentar de ligação com a família de Zé Moreno, que comandaria o tráfico na região. Cerca de 10 pessoas da região estariam envolvidas e além deles, integrantes da Justiça e promotores. Os nomes, no entanto, não foram informados para não atrapalhar as investigações: “Quem precisa saber os nomes, já sabe”.
Ele comentou que cerca de 15 crimes foram cometidos pelo grupo, mas ele teria participado de três destes homicídios.
Durante a entrevista coletiva, o Alagoas24Horas perguntou a Júnior Barbosa o que de fato ocorreu no dia da suposta agressão no presídio. Junior mais uma vez cita o deputado, afirmando que teria ouvido conversas entre os presos dando conta que o parlamentar ofereceu uma bonificação de R$ 15 mil para que fosse assassinado no presídio de forma violenta. Ele conta que foi colocado em uma sala separado dos demais presos e percebeu que Zé Moreno, acusado de liderar o tráfico na região da Levada, estava na cela ao lado. Por telefone, Zé Moreno teria questionado se era verdade que estavam oferecendo o valor citado por sua cabeça. A informação teria surgido a partir de uma conversa entre o filho de Zé Moreno (Caetano) e um contato do deputado, identificado como Idenilson Campos, o Gal. Após suposta confirmação, Zé Moreno, teria comentando que a morte deveria ser “de porrada”. A partir daí, ele teria desconfiado da atitude dos presos das celas ao lado, que pareciam amolar espetos e também ouviu conversas de que iriam matá-lo durante o banho de sol.
Júnior Barbosa afirma que tentou denunciar o fato ao agente penitenciário e ao militar que estavam de plantão, mas sem sucesso, porque estariam sendo coniventes. Barbosa afirma que foi necessário bater a cabeça contra a quina da parede da cela para ser encaminhado à enfermaria. Ele teria feito isso por duas vezes até que foi encaminhado ao Hospital Geral do Estado (HGE). O fato de ter provocado os ferimentos convenceu o diretor da unidade, que o colocou em contato com o promotor de Execuções Penais, Cyro Blater. “Eu não sou maluco, não tomo remédios e isso pode ser comprovado por especialistas. Fiz tudo isso temendo por minha vida”, disse.
A denúncia do acusado, teria resultado em uma inspeção do Bope e consequentemente na apreensão de 14 aparelhos celulares e diversos espetos.
O delegado Denisson Albuquerque aproveitou para informar que o fato de Barbosa não ter comparecido ao depoimento nesta semana foi por questões operacionais do sistema prisional e não por razões pessoais.
Outro detalhe que impressionou a imprensa na entrevista de Júnior Barbosa foi o relato sobre os serviços que supostamente prestava ao deputado. Segundo ele, em seis anos como administrador de cemitério ele teria realizado “todo tipo de serviço”, dentre os quais, entregar crânios para serem usados em rituais macabros e enterrar garrafas com "feitiçarias".
Ele conta que além de ceder os crânios para os rituais, chegou a costur nomes de adversários políticos como Ronaldo Lessa, Kátia Born e Cícero Almeida na boca de corpos que tiveram mortes violentas e ainda cedia arcadas dentárias para filhos de colegas que estudavam medicina.
Segundo Júnior, os coveiros que trabalhavam nos cemitérios sabiam e ajudavam a realizar o serviço a mando do deputado.
Segundo a Polícia Civil, serão designados novos delegados para apurar as denúncias efetuadas durante o depoimento de hoje e consequentemente aberto novo inquérito. O conteúdo do depoimento, equivalente a mais de duas horas, será encaminhado ao Gecoc, Procuradoria-Geral de Justiça, Tribunal de Justiça, Corregedoria-Geral de Justiça, ao juiz e promotor de Execuções Penais, Braga Neto e Cyro Blater, respectivamente.