Pessoas foram mortas durante a guerra contra o narcotráfico, nos últimos 20 anos.
O que a princípio parecem ser apenas pedras marrons espalhadas pelo terreno de um pequeno sítio em Tijuana, no norte do México, são na verdade restos humanos cobertos por pó e areia.
Eles pertenceram a um número ainda incerto de pessoas que foram mortas durante a guerra contra o narcotráfico, nos últimos 20 anos, e tiveram seus corpos dissolvidos em barris com ácido, soda cáustica e outros produtos químicos.
Eles ficaram ali, abandonamos em fossas por anos, até serem encontrados pelos familiares das vítimas, que mesmo assim seguem sem ter a confirmação da morte de seus entes queridos porque o que restou deles não permite realizar exames de DNA.
O autor de tal barbaridade é o ex-pedreiro Santiago Meza López, que foi preso em 2009 e confessou ter se desfeito de ao menos 300 cadáveres entregues a ele por um dos grupos que disputava o controle do narcotrático no estado mexicano da Baixa Califórnia, que fica próximo à fronteira com os Estados Unidos.
Desde 1990, Tijuana é uma das principais trincheiras da guerra entre o cartel de Sinaloa e um outro fundado pelos irmãos Arellano Félix – este último perdeu completamente sua influência na região desde então, segundo autoridades de segurança americanas.
Um dos chefes deste segundo grupo era Teodoro García Simental, conhecido como "El Teo" ou "El Tres Letras", que em 2008 deixou seu cartel para se unir aos rivais. Isso deu início a uma guerra pelo controle de uma rota de tráfico na região, em que morreram 3 mil pessoas e desapareceram outras 900.
Muitas delas acabaram dissolvidas nos barris de López, conhecido como "El Pozolero", uma referência a um prato feito com milho e carne de porco, mas que tem mais a ver com a capacidade do ex-pedreiro de se desfazer completamente de corpos humanos.
Ao ver as fotos das vítimas, ele disse não reconhecer nenhuma delas. O ex-pedreiro insiste que só recebia cadáveres – centenas deles – e que não matava as pessoas, só as dissolvia.
Até agora foram localizadas três fossas clandestinas, mas acredita-se que há outras ainda por serem descobertas. As autoridades mexicanas dizem que muitas das pessoas encontradas nelas foram vítimas da guerra do narcotráfico.
Fernando Ocegueda Ruelas foi uma delas. O estudante desapareceu em 2007, aos 23 anos, depois de ser levado por homens que se apresentaram como policiais.
Desde então, seu pai, Fernando Ocegueda Flores, não parou de procurá-lo. Foi ele quem encontrou os sítios onde trabalhava o "El Pozolero", depois de receber mensagens anônimas pelo endereço de email do grupo que criou, a Associação Unidos pelos Desaparecidos da Baixa Califórnia.
Num primeiro momento, Flores pensou que seu filho podia estar entre as vítimas dissolvidas pelo ex-pedreiro. "Mas não sei se ele está aqui nesta fossa, e não quero pensar nisso", afirma Flores.
"Parece que sim, porque é para aqui que os desaparecidos eram trazidos, mas, enquanto não tiver provas científicas disso, seguirei buscando por meu filho. Não me darei por vencido."
A associação de Flores já esteve em 80 terrenos em busca de restos humanos, e ainda faltam outros 50 para serem visitados.
A descoberta da fossa do "El Pozolero" fez com que muitos familiares das vítimas vasculhassem cada metro dos terrenos dos sítios onde ele trabalhava em busca de algum sinal de seus entes queridos.
Sem ter sucesso, muitos deles desistiram, enquanto outros seguem na busca, mesmo tendo dificuldades para tratar do assunto com as autoridades.
É o caso de Maria Alicia Ochoa. Seu marido foi sequestrado em um shopping em outubro de 2006 por um grupo de homens vestidos com uniformes policiais.
Desde então, não tem notícias deles. Ao questionar as autoridades sobre o caso, ela ouviu uma resposta frequentemente dada a familiares dos desaparecidos.
"Disseram: ‘Senhora, esqueça isso. Não vamos encontrar seu marido."