Candidata do PSB usa frase-chavão de Campos, de quem pouco falou no programa. Aécio volta a renegar aliados para dizer que encontrou Minas em dificuldade. Dilma tenta reforçar lado pessoal.
O terceiro dia de propaganda eleitoral presidencial na televisão teve a estreia da candidata do PSB, Marina Silva, oficializada esta semana no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como substituta de Eduardo Campos. O primeiro programa da ex-senadora teve dois minutos de críticas à nova política e uma breve menção ao político morto na semana passada em acidente aéreo.
“O Brasil quer ter um novo rumo. Isso todo mundo sabe. Algumas coisas precisam mudar, e isso é urgente”, disse Marina, que garantiu ter em mãos um plano de governo com propostas reais, mas que não foram apresentadas. “Não são promessas repetidas, não são peças de propaganda. São compromissos com o Brasil de verdade”, continuou, novamente sem esboçar mudanças efetivas.
O programa basicamente sintetizou o tom usado por Marina nos últimos anos, em especial desde as manifestações de junho passado, quando passou a se apresentar como líder de uma forma de política desconectada dos meios tradicionais e dos partidos hoje existentes. “Queremos e podemos unir o Brasil. Para isso é preciso dialogar. Os grupos que estão há vinte anos no poder não conseguem mais dialogar. Eles estão dividindo o Brasil numa guerra.”
O breve programa de Marina não tratou Campos como protagonista. As duas primeiras inserções do PSB, na terça e na quinta-feira, haviam basicamente compilado imagens de arquivo do ex-governador de Pernambuco ao longo dos últimos quatro anos, à espera da oficialização da chapa de Marina. Desta vez, porém, o político foi citado pela nova titular da chapa apenas na frase transformada em bordão após sua morte: “Podemos fazer a mudança. Não vamos desistir do Brasil.”
Já a líder nas pesquisas, a candidata à reeleição Dilma Rousseff, do PT, voltou a apostar na exibição de características pessoais. A equipe de campanha mostrou cenas e depoimentos de Dilma na cozinha e com o neto. O programa teve início com um depoimento da presidenta a respeito do grande esforço físico e psicológico que exige o exercício do cargo. “Você não pode fraquejar, porque muita coisa depende de você estar ali”, afirmou, em meio à exibição de cenas de viagens por todo o país e de uma rotina de trabalho que vai até tarde.
Fazendo a conexão entre traços pessoais e profissionais, o vice-presidente Michel Temer gravou depoimento afirmando que se impressiona com a capacidade da presidenta de resolver problemas e de “crescer” em momentos de dificuldade. “Estive com a presidenta Dilma em todos os momentos de seu governo. Isso me deu a possibilidade de conhecer uma grande líder e uma grande mulher.”
Trechos dos programas anteriores foram exibidos mostrando obras que estão sendo realizadas pelo país e alguns dos principais projetos do atual governo, como o Pronatec e o Minha Casa, Minha Vida. Voltou à cena também o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reexibido em vídeo em que pede que a população confie no segundo mandato da presidenta. “Quero falar com você que está em dúvida em votar de novo na Dilma. E eu digo a você: vote sem nenhum receio”, diz o petista, avaliando que seu segundo mandato foi muito melhor que o primeiro, o que também se dará com a sucessora.
O tucano Aécio Neves também apostou na trajetória pessoal ao longo de seus quatro minutos de programa. Porém, com enfoque é diferente: enquanto a presidenta já é conhecida e tenta valorizar aspectos desconhecidos de sua vida, o senador mineiro tem buscado se apresentar ao eleitor. O vídeo fez uma breve apresentação de sua biografia e mostrou os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves como exemplos de vida.
Ao narrar sua trajetória como governador de Minas, entre 2003 e 2010, Aécio novamente rifou aliados ao dizer que encontrou o estado numa situação “difícil” e “grave” – ele sucedeu Itamar Franco, então no PMDB, e Eduardo Azeredo, do PSDB. “Era preciso agir rápido para resgatar a confiança das pessoas no governo e no seu próprio futuro”, disse. “Não fiz um governo de um partido ou de uma aliança de partidos. Fiz um governo com as melhores cabeças, com todos aqueles que tinham contribuições para dar.”
Não é a primeira vez que Aécio coloca aliados em situação difícil. Este mês, ao ser entrevistado pelo Jornal Nacional, o tucano foi cobrado sobre a participação entre seus colaboradores de Azeredo, réu no processo do mensalão do PSDB. A procuradoria-geral da República diz que o ex-governador foi participante ativo do esquema de desvio de verbas do governo mineiro para abastecer o caixa de sua campanha à reeleição. Ao responder à questão feita ao vivo, Aécio preferiu renegar o aliado: “Ele está me apoiando. Não é o inverso. É um membro do partido que tem a oportunidade de se defender na Justiça. Mas eu não prejulgo.”