Executivo da Yoki foi morto em maio de 2012 por Elize Matsunaga.
A Polícia Técnico-Científica de São Paulo concluiu o laudo da exumação do corpo do executivo da Yoki, Marcos Matsunaga. Os peritos responderam 11 perguntas do juiz, 54 da defesa da ré e três da promotoria sobre as causas e circunstâncias da morte, conforme documento obtido com exclusividade pelo G1.
O G1 teve acesso aos resultados. De acordo com a perícia do Instituto Médico-Legal (IML), o tiro que matou Matsunaga foi dado em distância "maior que 40 centímetros", conforme o laudo número 0851/2013, assinado pelo médico-legista Ruggero Bernardo Felice.
O documento ainda informa que o avançado estado de putrefação do corpo comprometeu avaliação de quesitos que apontariam se ele apresentava reações vitais ao ser esquartejado. "Sugerimos correlação com dados de histórico, necroscópicos, de local e balística (…) antes de qualquer conclusão diagnóstica", alerta nota de exame que integra o laudo.
Matsunaga foi morto por sua mulher, a bacharel em direito Elize Matsunaga. Ela confessou ter dado o disparo e está presa. Após balear o marido no apartamento onde o casal morava com a filha, em 19 de maio de 2012, na Zona Oeste da capital paulista, ela esquartejou o corpo dele.
O corpo de Marcos foi exumado em 12 de março e deverá ser enterrado novamente em 15 de maio, no Cemitério São Paulo. A exumação tinha sido autorizada pelo juiz Adilson Paukoski Simoni após solicitação dos advogados Luciano Santoro e Roselle Soglio, que defendem Elize. Eles contestaram o resultado do laudo necroscópico feito no ano passado que indicava indicava que Matsunaga havia sido esquartejado ainda vivo. Para os defensores, a vítima havia morrido logo após o disparo.
A defesa considera que o novo laudo é favorável à ré. “O Marcos morreu do disparo da arma, segundo laudo. Só não pode se precisar o tempo porque o médico-legista que fez o laudo necroscópico deixou de realizar os exames necessários”, disse a advogada Roselle Soglio, defensora de Elize e que também é especialista em perícias criminais.
Para o defensor da família de Marcos, o primeiro documento é o mais confiável. “Qualquer laudo complementar e nova perícia seria inconclusiva à mercê dessa situação [do estado de putrefação do corpo], que prejudica o resultado”, disse Luiz Flávio Borges D’Urso.
No documento, os peritos respondem 11 perguntas feitas pelo juiz. Entre os pontos, ele questiona quanto tempo Matsunaga permaneceu vivo após ser atingido na cabeça. "Pela exumação, é impossível precisar este tempo demorado", informa o laudo. Na sequência, o magistrado obtém a resposta de que Matsunaga foi atingido a distância superior a 40 centímetros.
O magistrado questiona ainda se o sangue encontrado nos cortes indica que a vítima estava viva quando foi desmembrada. Os peritos respondem que a presença de sangue verificada pode ter "ocorrido após a secção de vasos calibrosos mesmo depois da morte".
Entretanto, o laudo ressalta que o importante não é esse sangue, mas aquele que ficou infiltrado nos "tecidos da borda lesada que delineia a reação vital", segundo o texto. O documento informa, na sequência, que não é possível determinar por qual parte do corpo começaram os cortes.
O magistrado perguntou ainda: "há outros sinais vitais, ou seja, de que a vítima ainda estava viva quando dos cortes efetuados no corpo?". Os peritos citam o estado do cadáver como um dos complicadores para análise. “A avançada putrefação impediu a identificar qualquer tipo de reação vital”, respondem os legistas no documento.
Por fim, o juiz indaga: "A eventual existência de sangue nos pulmões deveu-se exclusivamente ao movimento do diafragma da vítima, ou pode, em casos que tais (inclusive com degola) ser proveniente de outra causa?".
Os peritos apontam que o tiro pode ter causado a presença de sangue nos pulmões. "O sangue encontrado nos brônquios provavelmente resultou em aspiração enquanto a vítima permanecia inconsciente. O sangue pode ter sido originado do trauma da fossa anterior do crânio lesado pelo projétil, que tem comunicação com as vias aéreas", escreve a perícia.
No ano passado, o legista Jorge Pereira de Oliveira, do IML em Cotia, escreveu no laudo necroscópico que Marcos morreu por asfixia porque aspirou o próprio sangue quando teve o pescoço cortado.
Quando o primeiro exame foi feito, a cabeça de Marcos ainda não tinha sido encontrada. Por isso, não era possível descobrir que a vítima tinha sido baleada. Além disso, o perito acreditava que a vítima era branca.
Ainda no laudo da exumação, a maneira como o disparo foi desferido, e o que ele causou, foram temas recorrentes nos questionamentos do juiz, dos advogados e da promotoria. O documento conclui que o tiro foi dado de cima para baixo, a uma distância de, no mínimo, 40 centímetros. “Não havia elemento de pólvora no segmento craniano (confirmado até pela microscopia), portanto o disparo foi de média a longa distância”, disse o perito.
No primeiro laudo, o necroscópico, a informação era de que o disparo tinha “características de tipo encostado”. “Esse laudo mostra que o tiro foi acima de 40 centímetros. Mostra que Marcos perdeu a consciência após o tiro. Marcos morreu após o tiro”, disse Luciano Santoro, também advogado de Elize.
“A qualificadora da crueldade não mais se sustenta. Laudo prova que Elize falou a verdade e não cortou Marcos em vida. Ela disse que atirou a média e longa distância e isso se confirmou. Esse laudo tirou o fato de que o crime teria sido premeditado porque o tiro teria sido encostado. Marcos não foi esquartejado vivo, mas morto. Mostra que o trabalho anterior foi mal feito e que Elize sempre falou a verdade”, avalia Santoro.
Para o defensor da família Matsunaga, a distância pesa menos do que as outras provas. “Se foi a 10, 20 ou 40 cm não muda a versão real que o laudo trouxe. No sentido que ela deu um tiro de cima para baixo, que caracteriza surpresa”, afirma D’Urso.
O laudo da exumação é baseado no "exame complementar anamatomopatológico" número 0474/13, que avaliou tecidos de cinco partes do corpo. O exame microscópico apontou ausência de sinais vitais em todos os cinco.
No exame, os peritos ressaltam que as conclusões do exame devem ser consideradas a partir da condição das amostras do cadáver. "A contaminação pós-mortal é significativa, o que dificulta a nálise de métodos colorimétricos", aponta trecho do exame.
"Sugerimos correlação com dados de histórico, necroscópicos, de local e balística haja vista o aspecto extremamente focal deste achado e a grande contaminação pós-mortal do material, antes de qualquer conclusão diagnóstica", afirma a médica-legista Maria Teresa de Seixas Alves.
O laudo da exumação será entregue agora para a Justiça, que abrirá prazo para o promotor José Carlos Cosenzo e os advogados Luciano Santoro e Roselle Soglio se manifestarem. Como o juiz Adilson Simoni está em férias, esse documento deverá ser analisado pela juíza Lizandra Maria Lapenna.
Após essa etapa, um dos magistrados terá de decidir se irá submeter Elize a júri popular pelo assassinato e marcar uma data para o julgamento. Funcionários do Fórum da Barra Funda informaram que o resultado do exame teria chegado na quarta-feira (24).
O Ministério Público quer que Elize cumpra 30 anos de prisão em regime fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe -vingança movida por dinheiro-, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e meio cruel). Para a Promotoria, Elize premeditou o crime e matou o marido para ficar com o dinheiro do seguro e da herança.
Os defensores de Elize contestam o meio cruel. Alegam que sua cliente só esquartejou Marcos após matá-lo com um disparo. Eles defendem que esse tiro foi dado a esmo, depois de uma discussão em que a acusada teria sido agredida. Elize tinha descoberto fazia pouco tempo que Marcos a traia com uma garota de programa.
Ela também é acusada de ocultação de cadáver, por ter abandonado os membros, o tronco e a cabeça do marido em pontos diferentes da Estrada dos Pires, na Grande São Paulo. A Polícia Civil ainda investiga se Elize teve a ajuda de outra pessoa para cometer o crime. Exame de DNA mostrou sangue de outro homem no quarto de Marcos.
A viúva de Marcos está presa preventivamente em Tremembé, no interior de São Paulo, a espera dessa decisão. Atualmente com 31 anos, ela ainda não viu a filha, que está com mais de 1 ano. A guarda da criança está provisoriamente com os avós paternos.