Depois das acusações de truculência, das bombas de fabricação caseira e dos coquetéis molotov, os manifestantes que têm saído às ruas do Rio de Janeiro começam a recorrer a outro tipo de arma contra a polícia. Um vídeo publicado no último sábado no YouTube tenta convencer policiais a aderir ao movimento, na linha do grito “PM fardado, você também é explorado”, ouvido na cidade e em São Paulo. O vídeo usa algumas imagens que falam diretamente ao coração dos policiais, as mais fortes delas o enterro de militares mortos em confronto e um contra-cheque com o valor líquido de 1.484 reais.
Se a “isca” vai funcionar não se sabe. Mas o recurso ao apelo a uma categoria diretamente envolvida nos conflitos urbanos da última semana, particularmente no Rio de Janeiro, traz a inevitável lembrança de outra onda de protestos, a marcha dos bombeiros em greve, que se espalhou pelo Brasil e provocou tumultos também em Salvador.
O movimento dos bombeiros produziu alguns “heróis”, como o cabo Benevenuto Daciolo, que em 2011 comandou uma invasão ao Quartel Central dos Bombeiros. O episódio ficou marcado como um ponto de virada na relação da população do Rio com os grevistas: depois do uso do Batalhão de Choque e do lançamento de bombas para dispersar a multidão no quartel, o governador Sérgio Cabral chamou os bombeiros de bandidos, e parte da população passou, então, a desfilar com fitinhas vermelhas para manifestar apoio às reivindicações salariais da tropa.
Daciolo comandou um movimento semelhante em 2012, e em seguida vários dos líderes da greve lançaram-se candidatos nas eleições municipais com a bandeira dos direitos dos militares e servidores da segurança pública. A aparição do cabo com algum papel de destaque nas manifestações de agora é questão de tempo.
Estratégia – Uma reunião entre policiais civis e militares e a cúpula da Secretaria de Segurança do Rio vai definir uma nova estratégia do estado em relação às manifestações. Assim como em São Paulo, a avaliação é de que os episódios recentes – o último deles o lançamento de bombas de gás lacrimogênio na Quinta da Boa Vista, para onde foi deslocado o protesto que seguia para o Maracanã – só fez crescer a visibilidade e a força dos grupos de jovens.
A Polícia Militar negou, em uma entrevista coletiva no início da noite de domingo, que tenham sido feitos disparos ou lançadas bombas dentro do parque. Os manifestantes, no entanto, insistem em afirmar que os policiais dispararam os artefatos no interior da Quinta da Boa Vista, assustando famílias e crianças que frequentam o local, uma das principais áreas de lazer gratuitas da Zona Norte.