O final era previsível. Mas ainda assim o roteiro se repetiu e animou o público na Arena Pernambuco. Taiti em campo na Copa das Confederações é sinônimo de carisma, incentivo da torcida, pixotadas, lances engraçados… E também goleada. Contra o Uruguai não foi diferente. Mesmo com sua equipe reserva, a Celeste fez sua parte, venceu por 8 a 0 na noite deste domingo no Recife e garantiu a esperada classificação para a semifinal da competição. Depois da baba, no entanto, vem a pedreira. O adversário na próxima fase será o Brasil.
– Ô Uruguai, pode esperar, a sua hora vai chegar! – gritava a torcida após o fim do jogo.
Teve de tudo na Arena. Golaço, pedido de ajuda ao juiz, pênalti defendido pelo goleiro Gilbert Meriel e até jogador do Uruguai sendo expulso. Com Suárez, Cavani e Forlán poupados, quem aproveitou foi Abel Hernández. Com quatro gols no jogo, o atacante do Palermo saiu do zero para a vice-artilharia da Copa das Confederações.
A cena mais bonita, no entanto, veio no final: quando o juiz apitou, os jogadores do Taiti sairam do banco com bandeiras do Brasil às costas e ainda exibiram uma faixa com os dizeres: "Obrigado, Brasil". Mesmo com três derrotas e 24 gols sofridos, a simpática seleção da Oceania conquistou o país. Deu volta olímpica e tudo para se despedir. Com simpatia e um eterno sorriso no rosto, deixou o gramado como se era esperado: ovacionada de pé pelos pernambucanos.
Ao Uruguai, segundo colocado do Grupo B com seis pontos, caberá uma difícil missão. Repetir a Copa do Mundo de 1950 e surpreender o Brasil fora de casa mais uma vez. O confronto pela semifinal será realizado na próxima quarta-feira, às 16h (de Brasília), no Mineirão, em Belo Horizonte. A delegação celeste deve embarcar para a capital de Minas Gerais na tarde da próxima segunda.
Gol relâmpago, ‘Olé’ e Hernández matador
Não deu nem para respirar. Bastou o jogo começar e o Taiti pegar na bola pela primeira vez para a Arena Pernambuco vibrar. Em uma cena incomum no futebol profissional, os gritos de ‘Olé’ para a amadora seleção da Oceania começaram antes de o relógio marcar um minuto. Tão rápido quanto o tempo que o Uruguai precisou para abrir o placar. Após escanteio da direita, Scotti escorou na primeira trave e Abel Hernández apareceu livre para fazer 1 a 0. Vaias e protestos? Só mesmo contra a Celeste, já que o gol relâmpago só serviu para aumentar ainda mais o apoio ao Taiti.
A cada roubada de bola, tentativa – quase sempre frustrada – de ataque ou defesa do goleiro do Taiti, manifestações positivas. Havia até quem gritasse pedindo para o juiz ajudar os taitianos. A cada troca de passes uruguaia, vaias e mais vaias. Do banco, o trio Suárez, Cavani e Forlán assistia a tudo inquieto. Os atacantes pareciam loucos para aproveitar a oportunidade de enfrentar uma defesa frágil. Suspenso, o capitão Lugano vibrava ao lado da família na arquibancada. Em campo, Hernández se consagrava.
– Ei, juiz, ajuda o Taiti – brandava a arquibancada.
Sem seus principais titulares, o Uruguai até dava muitos espaços para o Taiti. Tocava a bola diversas vezes sem ameaçar o frágil adversário. Mesmo tendo apenas 37% da posse de bola no primeiro tempo, a equipe da Oceania finalizou quatro vezes ao gol. Duas delas com Vahirua. Mas o lance que levantou mesmo a Arena nasceu dos pés de Chong Hue. O camisa 13 deu uma arrancada pela esquerda, passou pela defesa e chegou a driblar o goleiro Silva, mas saiu com a bola pela linha de fundo.
A essa altura, Hernandez já havia marcado o segundo após belo chapéu em Jonathan Terau e Peréz tinha anotado o terceiro aproveitando o rebote de uma cabeçada na trave. No último minuto, ainda saiu o quarto gol: Hernández, de novo, em belo passe de Gargano.
Pênalti defendido e expulsão explodem a Arena
Se Hernández brilhava na frente, Scotti destoava atrás. Primeiro o zagueiro desperdiçou um pênalti sofrido por Aguirregaray. Atônito com o erro, sequer tentou o gol no rebote após a defesa estabanada de Meriel. A reação da torcida foi tão forte que o lance acabou valendo praticamente o segundo "gol" do Taiti na competição. Logo em seguida, Scotti conseguiu o improvável. Fez falta, recebeu o segundo cartão amarelo e foi expulso diante de uma seleção amadora. Deixou o campo vaiado.
Não demorou muito e um zagueiro do Taiti também foi para o chuveiro mais cedo após falta pela direita. Mas Ludivion sentiu todo o carinho da torcida brasileira por sua seleção. Durante a rápida caminhada até o centro do campo, foi aplaudido de pé pela Arena Pernambuco. E retribuiu com sorrisos e acenos.
Os minutos se passaram e o Uruguai fechou a goleada em 8 a 0. Ao todo, Hernández marcou quarto vezes, sendo um de pênalti, e chegou à vice-liderança da competição atrás apenas de Fernando Torres, da Espanha, que tem cinco. O botafoguense Lodeiro também deixou sua marca. Assim como Suárez, que entrou no fim do jogo e ainda teve tempo de marcar duas vezes – o suficiente para chegar aos 35 gols pelo Uruguai e passar o companheiro Forlán na artilharia histórica da seleção. Só faltou mesmo um gol do Taiti para fechar o jogo com chave de ouro.
Aos taitianos, os aplausos e a reverência do povo brasileiro. Aos uruguaios, o aviso: contra o time de Felipão, Neymar, Fred e Cia, a história será bem diferente.