As meninas que têm mais de 30 anos vão lembrar na hora, principalmente quem tinha irmãos ou primos mais velhos.
As meninas que têm mais de 30 anos vão lembrar na hora, principalmente quem tinha irmãos ou primos mais velhos. Eram eles que arracavam-lhes dos braços o boneco e, sem dó nem piedade, faziam-lhe um rasgo do pescoço até a cintura para, enfim, descobrir o segredo: o famoso punhal incrustrado no corpo do boneco do Fofão. Na verdade era uma haste que servia como base para a cabeça do brinquedo não pender para a frente. Mesmo assim, 30 anos depois da primeira aparição das bochechas mais famosas da televisão brasilera – lembrem-se que o Kiko é mexicano – ainda é o primeiro assunto que vem à baila quando se lembra do personagem criado por Orival Pessini para o programa infantil Balão Mágico, em 1983.
O punhal foi um dos pontos de partida para diversas teorias conspiratórias de que o Balão Mágico trazia até supostas mensagens satânicas em suas músicas, bastando ouví-las numa rotação diferente. Fanatismos à parte, o assunto aqui é Fofão, uma mistura de cachorro (as bochechas do São Bernardo), porco (o nariz) e urso (cabelos e mãos). A inspiração do criador, Orival Pessini, veio do filme E.T. sucesso de bilheteria no ano anterior.
Fofão veio da Fofolândia e, como veio de outro planeta não falava em seus primeiros dias na Terra. Quem o decifrava era a apresentadora Simony, então com seis anos de idade. O bonecão apenas grunhia. A popularidade aumentou e é claro que toda criançada queria ouvir a voz. As letras trocadas, o singular onde deveria ser plural e vice-versa, tornaram-se tanto marca registada quanto o charme do Fofão. "Apatralhado (sic)", era sua palavra preferida.
"O Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), ex-todo-poderoso da Rede Globo, pediu que eu criasse um personagem infantil para o Balão Mágico. Misturei palhaço, porco e ser humano. Eu mesmo faço as máscaras de meus personagens. Tenho um molde da minha cabeça em gesso", disse Pessini, hoje com 68 anos, em entrevista ao programa Agora é Tarde, da Bandeirantes, no início deste mês.
A parceria com a Globo durou até 1986. Seu balão alçou voo solo na Rede Bandeirantes no ano seguinte. Entre 1987 e 1989 foi produzido "TV Fofão", onde, além de apresentar, o personagem aparecia em outros quadros. Teve vários produtos licenciados além do controverso boneco já citado, que, inclusive, vendeu mais de 4 milhões de unidades: discos – lembrem-se que na época ainda não havia cd, muito menos iTunes -, quadrinhos, produtos alimentícios e até xampu para bebês. A idolotria chegou ao auge com um longa-metragem: "A Nave sem Rumo", de 89.
A perda gradativa de espaço para as crianças na programação da televisão aberta, vitimou o Fofão. Seus últimos suspiros foram entre 1994 e 1996, quando o TV Fofão ganhou um revival. Ele foi brigar por espaço num programa mais adulto, mas sem perder a inocência. Na TV Record tornou-se um dos alunos da Escolinha do Gugu, quadro já extinto pela emissora.
Apesar de longe da telinha, o Fofão ainda se apresenta em vários shows por cidades brasileiras. A cantora baiana Ivete Sangalo o recebeu em seu trio elétrico na última edição do Fortal, o carnaval fora de época de Fortaleza. "Ela sempre quis o boneco e ganhou o personagem de verdade", lembrou Pessini. Mas ele não esconde o desejo de voltar à ativa. Na mesma entrevista com Gentili, ele aparece caracterizado como o boneco e responde à pergunta. "Se alguém quiser, eu volto".
ATUALIZADO – Apesar de chegar à Terra antes da internet, o Fofão evoluiu e hoje pode ser encontrado nas redes sociais. Ele tem perfis no Facebook e Twitter . Em ambos, muitas fotos com fãs. O site oficial também traz outras informações.