Nesta sexta-feira, uma missa será realizada na igreja da Candelária em memória das vítimas. Em seguida, está prevista uma passeata para lembrar o crime e condenar a violência policial
Um grupo de aproximadamente 50 pessoas realizou na noite desta quinta-feira ato de vigília em lembrança aos 20 anos da chacina da Candelária, quando cerca de 70 crianças e adolescentes foram caçados nas proximidades da igreja situada no centro do Rio de Janeiro por um grupo de extermínio formado por policiais militares e civis. Oito delas morreram. O ato contou com a presença de parentes das vítimas, que alertaram para que crimes semelhantes não voltem a acontecer.
Quatro policiais militares foram condenados pelo crime, ocorrido em 23 de julho de 1993. Três deles – Marcus Vinicius Borges Emmanuel, Nélson Oliveira dos Santos e Marcos Aurélio Dias Alcântara – cumpriram parte da pena, e estão em liberdade. Já Mauricio da Conceição, que era conhecido como Sexta-Feira 13, faleceu.
Irmã de Wagner dos Santos, um dos sobreviventes, Patrícia Oliveira ressaltou que pouca coisa mudou nos últimos 20 anos, especialmente em relação à violência policial. Ela lembrou que, nesse período, outras chacinas aconteceram.
“A juventude segue sendo exterminada. O governo não tem interesse em fazer nada pelas crianças de rua. Nunca perguntam o que precisa ser feito, não consultam ninguém”, afirmou.
O irmão de Patrícia mudou-se para a Suíça em 1994, após sofrer um novo atentado, na Central do Brasil. Até hoje mora no país europeu. Baleado no rosto, ficou com sequelas, e teve que passar por várias cirurgias reparadoras. Ao contrário de outros parentes de vítimas do crime, ela disse não ter mais medo de se expor, apesar de já ter sofrido ameaças há alguns anos.
“Não me permito mais deixar de fazer alguma coisa por medo de policiais. Muitas das mães têm medo ainda, até porque são muito discriminadas”, comentou.
Patrícia reclamou da falta de apoio do governo estadual para a realização de eventos que lembrem a chacina. Segundo ela, o secretário estadual de Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, havia prometido que o Estado ajudaria que o ato acontecesse. Nenhum auxílio governamental, no entanto, foi concedido, segundo Patrícia.
“Não é interesse do Estado, o governo nunca se importa com isso. Eles têm responsabilidade nisso. Hoje, o governador é o (Sergio) Cabral (PMDB), mas quem cometeu o crime foi um agente do Estado”, destacou.
Nesta sexta-feira, uma missa será realizada na igreja da Candelária em memória das vítimas. Em seguida, está prevista uma passeata para lembrar o crime e condenar a violência policial.