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Carandiru: júri segue com depoimento de oficial

Após sessão de quase 15h nesta quarta, segunda fase do julgamento entra no penúltimo dia.

Continua nesta quinta-feira o depoimento dos réus da segunda fase do julgamento do massacre do Carandiru, em São Paulo. A sessão de quarta-feira durou 15 horas e se estendeu até a madrugada desta quinta. Dezoito dos 25 réus se recusaram a responder a perguntas da promotoria.

Sargentos e soldados da Polícia Militar invocaram o direito de ficar calados. O promotor Eduardo Olavo chegou a apelar para que eles dessem sua versão. "Os jurados têm de ouvir a versão da tropa, e não só dos oficiais", disse. Mas o pedido não fez os réus mudarem de opinião.

Até o fim da sessão, que acabou por volta das 2h30, apenas quatro oficiais haviam prestado depoimento. Na retomada do julgamento, às 13h desta quinta-feira, deve falar aos jurados o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Guiar (Rota) entre novembro de 2011 e setembro de 2012.

Após o último depoimento, o quarto dia do júri dos policiais militares acusados de matar 73 dos 111 presos no massacre do Carandiru, em outubro de 1992, vai ser dedicado à leitura das peças do processo por parte dos sete jurados do caso. Segundo o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, a sexta-feira será dedicada à fase de debates, quando a acusação e a defesa vão dispor de três horas cada para apresentar seus argumentos. A previsão é de que a sentença seja proferida entre a noite desta sexta-feira e a madrugada de sábado.

Reação – Na quarta-feira, entre os réus que aceitaram falar, estava o coronel Valter Mendonça, o mais graduado entre os PMs acusados das mortes. Ele foi o responsável por liderar a entrada dos homens da Rota no segundo andar do pavilhão nove do presídio, onde ocorreram os assassinatos em julgamento nesta fase. Os jurados também ouviram o major Marcelo González Marques, que ainda está na ativa: ambos afirmaram que a ação da polícia foi uma reação à violência dos presos.

Segundo os oficias, os detentos teriam disparado e agredido os PMs, o que contraria testemunhos dos presos e laudos periciais, que comprovaram que não houve registro de tiros disparados na direção dos policiais. Mendonça também afirmou que chegou a ser ferido com um golpe de estilete.

Outro oficial ouvido na madrugada desta quinta-feira foi o tenente-coronel Tenente Edson Pereira Campos. Ao ser perguntado por sua advogada por que estava sendo acusado por 73 mortes, Campos respondeu: “gostaria que a senhora me respondesse, pois busco essa resposta há mais de vinte anos".

Antes dele falou o tenente-coronel Carlos Alberto dos Santos, que negou que a tropa tenha promovido um massacre. "É humanamente impossível matar 73 pessoas em quinze minutos de operação. Não sei por que estamos sendo acusados disso", disse.

Em abril, no primeiro júri do massacre, 23 réus foram condenados a 156 anos de prisão cada por treze mortes ocorridas no primeiro andar do pavilhão. Foram doze anos de prisão para cada homicídio.

A expectativa do Ministério Público é de que a mesma fórmula que determinou a sentença no primeiro julgamento prevaleça nesta segunda fase, e que cada réu seja condenado a doze anos de prisão por cada uma das 73 mortes, o que pode totalizar 876 anos de prisão por réu.