Categorias: Economia

Empresas de turismo enfrentam dólar em alta fazendo promoções

Empresas de turismo enfrentam dólar em alta fazendo promoções

Mario Tama/Getty Images North America/AFP

Vista de Nova York, com a Estátua da Liberdade

Agências e operadoras de turismo estão recorrendo a promoções nos pacotes e ao “congelamento” da taxa de câmbio para não perder clientes devido à alta do dólar.

Com a valorização da moeda americana — que fechou a R$ 2,38 nesta segunda-feira e rondava os R$ 2,39 às 13h desta terça-feira–, as empresas de viagem estão negociando com companhias aéreas, hotéis e outros fornecedores para evitar o aumento expressivo do preço dos pacotes. Elas também afirmam que estão reduzindo a margem de lucro para evitar a baixa nas vendas.

"Naturalmente, se os valores continuassem os mesmos em dólares, haveria redução na demanda. Mas as operadoras estão usando a criatividade para lançar preços em reais próximos aos de três meses atrás, quando o câmbio estava mais baixo", afirma Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa).

Segundo Leonel Rossi Jr., vice-presidente de relações internacionais da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), os pacotes subiram cerca de 8% a 10%. "O dólar subiu em torno de 18% desde o início do ano, mas os pacotes não aumentaram 18% porque as empresas estão absorvendo essa diferença”, afirma.

A CVC, maior operadora do país, é uma das que oferecem câmbio reduzido: de R$ 2,23 para pacotes, passagens e outros produtos cotados em dólar. No mês de julho, a empresa congelou o dólar em R$ 1,99 para EUA, Caribe e outros destinos, o que gerou um aumento de 10% nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado.
Já a agência virtual Submarino Viagens congelou a cotação em um valor ainda mais baixo: R$ 2,19. O desconto vale até 31 de agosto e inclui opções para Barcelona, Montevidéu e Santiago, entre outras.
Outra grande operadora, a Nascimento Turismo, também vem negociando com fornecedores desde junho para não subir muito o preço dos pacotes.

O parcelamento sem juros em vários meses é outra forma de não afugentar o consumidor. “No momento em que o consultor de vendas mostra a diferença no final do pacote da família, podendo pagar em 10 parcelas, mesmo com a variação cambial, os clientes optam por manter o plano da viagem”, diz Cleiton Feijó, diretor comercial da Nascimento.

A Braztoa também afirma que vai lançar nos próximos dias uma campanha promocional conjunta entre os seus quase cem associados. Segundo Marco Ferraz, os preços mais baixos valerão para viagens na baixa temporada.

Internacional X Nacional

As viagens para o exterior correspondem, em média, a 30% das vendas das operadoras brasileiras, e a metade do faturamento. Segundo as entidades do setor, ainda não há números que mostrem o comportamento da indústria de viagens desde que o dólar começou a subir mais expressivamente, em meados de maio.

A agência Tour House, que comercializa em maior volume pacotes para o exterior, já está sentindo o baque. “Normalmente temos 20 cotações diárias. Nesses últimos dias, esse número caiu para umas quatro. Minha leitura é que com a subida do dólar e, principalmente, enquanto houver essa instabilidade, vai diminuir o número de viajantes para o exterior”, diz o presidente da empresa, Carlos Prado.
Ele afirma que está negociando com fornecedores um acordo para diminuição da margem de lucro, para reverter parte da retração.

A Nascimento informou que houve uma diminuição de 10% na procura para pacotes internacionais, principalmente para os EUA, e um aumento de 20% na procura de pacotes domésticos. Em julho, a venda de destinos dentro do país teve um aumento de 68% em comparação a julho de 2012.

Outras empresas dizem que a procura não foi afetada. É o caso da CVC, que afirma que as variações “não chegam a interferir nas vendas de pacotes, visto que os consumidores costumam planejar a viagem ao exterior com antecedência e preferem absorver essas diferenças no parcelamento”. Segundo a operadora, nas férias de julho Miami e Orlando, por exemplo, tiveram crescimento de 26% na procura em comparação com o mesmo período de 2012.

Para Leonel Rossi Jr., da Abav, o que mais assusta os consumidores é o dólar instável, e não a alta em si. “As pessoas não fecham negocio no momento, mas quando a moeda estabiliza, mesmo que num patamar maior do que era, elas se acostumam e vão viajar.”
Ele acredita que o turista vai “se ajustar” à nova realidade: “Ele diminui em 15% as compras, vai a um hotel quatro-estrelas em vez de a um cinco-estrelas, aluga um carro médio em vez de um grandão e está resolvido”, afirma.

Para Ferraz, da Braztoa, um efeito natural desse processo é que ocorra um aumento da procura por destinos nacionais. “Quem estava pensando em viajar para fora olha para o Brasil com outros olhos. Percebe que ficando aqui não está se vinculando ao câmbio.”
Mas ele afirma que a flutuação cambial não vai fazer o brasileiro desistir de ir para outros países. “Dos quase 200 milhões de habitantes do país, só 6 milhões viajam para fora atualmente. É um mercado que tem tanto para crescer que o câmbio subindo não vai segurar a população que quer viajar”, diz.