Era uma vez um advogado.
Era uma vez um advogado. Um belo dia ele entrou no Tribunal e se preparava para a defesa de alguns manifestantes que iam a julgamento, acusados de baderna enquanto realizavam protestos pelas ruas de Maceió. Durante o julgamento o magistrado interrompeu a sessão. O jovem advogado adormeceu e como todo recém-formado aspirava revolucionar a advocacia. Em seu sonho começou a imaginar a defesa perfeita…
– …Passiva ou ativamente, todos nós acompanhamos as manifestações iniciadas no Rio de Janeiro em junho deste ano e que ganharam força se espalhando por todo país. Precisar os efeitos de tais manifestações tem lá suas dificuldades. Em parte por que elas ainda continuam. De mesmo modo, a total ausência do poder público gerou o clamor de muitas vozes que querem coisas diferentes, porém de igual importância para os avanços desejados.
O gigante acordou? Não. Ele continua dormindo, deitado em berço esplêndido. Mas talvez – somente talvez – a ideia de um sono eterno tenha sido questionada por aqueles que conhecem o sacrifício de acordar cedo e por aqueles que, apesar da idolatria, procuram agora ‘entre outras mil’ a pátria amada.
É inegável que a ‘geração Facebook’ fez história. A inocência misturada ao otimismo da juventude levou milhares de pessoas às ruas, afagou a alma, reascendeu a chama da esperança, nos lembrou que somos capazes. Mais do que isso, nos lembrou que NÓS somos a transformação. Sim, é certo, não há progresso sem ordem; assim como, a dita ‘REVOLUÇÃO’ não pode simplesmente virar a pirâmide de cabeça para baixo. Pirâmide ‘de ponta cabeça’ não fica de pé.
‘Não é por R$ 0,20. Não, não é… Mas, como diria o camarada deles, ‘nunca antes na história deste país’ R$ 0,20 centavos valeu tanto. As manifestações se dispersaram, as massas se dispersaram. O clima esfriou. Mas os binóculos da sociedade continuam atentos e voltados aos três poderes e o nível de tolerância insiste em diminuir. Chegamos finalmente ao tempo em que a Ética está na moda? Tomara! A torcida é para que não dure somente uma estação.
Seria atrevimento dizer que aqueles poucos – os mesmos que nos parecem tantos e tão incrivelmente dispensáveis – vivem a era da ‘zona de desconforto’? Na terra dos marechais assistimos de camarote a estarrecedora chuva de denúncias que pairam sobre aqueles que na teoria – somente nela – carregam no nome o dever social e público. Compreenda-se de domínio de todos, gratuito, transparente.
Triste é a agonia do silêncio que nos mata. Da impotência que nos impede de gritar: ‘FARINHA EIS O SACO QUE VOS ESPERA’. Ou seria ‘farinhas’, no velho e bom plural? ‘A Farinhada’? E quem paga mesmo a conta?
Nessa guerra de classes e vaidade para quem torço? Torço pela DEMOCRACIA. Torço para mim e para você, e pelos nossos R$ 0,20 centavos, é claro. Quem disse que queremos saber quem está com a razão? Disso já sabemos faz tempo. Taturana, ratazana, tucano, bicho-preguiça; onda azul, vermelha e laranja, tudo junto e misturado; estrelinha ou meia lua… Ah, fala sério! Isso aqui não é o céu mano, tá ligado? Eu não moro no zoológico. Tem tanto fastasminha vagando que tem ‘nêgo’ achando que aqui é o paraíso. Só se for FISCAL, Mané. Chega de tico-tico e lero-lero. O que a gente quer é o nosso dinheiro de volta.
Depois do bate-boca Vossa Excelência, Dr. em burocracia, mestre em falácia, especializado em carro de luxo e roupa de granfino vai devolver a bufunfa? O maloqueiro vai subir pro ‘Cadeião’? Pára de economizar tinta. Usa logo essa caneta. Se o problema é esse eu presenteio com uma dúzia da melhor marca. Do contrário, o diagnóstico é simples. Médico cubano ou baiano diria a mesma coisa: ‘Meu filho, a doença é a de holofote e para esse mal a cura é… – Protesto! Grita o advogado acordando atordoado sem saber em que pé está o julgamento.
– Protesto Excelência! Repete o advogado, com a voz mais moderada, recompondo-se do susto. Mas o pleno ainda estava suspenso. O magistrado estava comentando, compartilhando e curtindo a nova página do Tribunal no Facebook.