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Alagoas, um pedaço do Brasil

Novo livro de Maurício Gonçalves traz histórias de uma terra marcada por contrastes

O jornalista José Maurício Gonçalves vai lançar “Histórias de Alagoas, um pedaço do Brasil” na VI Bienal Internacional do Livro, neste domingo. Será no stand da Viva Editora, no Centro de Convenções, em Jaraguá, às 18h. Publicado com o apoio cultural da Organização Arnon de Mello e da Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal), este é o segundo livro de uma trilogia que se propõe a observar uma terra de contrastes: com cenário de cartão postal e o maior índice de homicídios do país.

Se a primeira publicação, “Histórias de Alagoas, empreendedores do desenvolvimento sustentável” (lançada no dia 11 de outubro, pelo Sebrae) mostra bons exemplos, este segundo livro escancara a realidade de uma banda podre que emperra qualquer desenvolvimento do Estado, seja ambiental, social ou econômico. É uma vida de antíteses, como bem realça a capa ilustrada por Wado (tão brilhante desenhista quanto músico).

“José Maurício Gonçalves escolheu o jornalismo para conversar com o leitor sobre o mundo – e sobre os mundos que habitam Alagoas. No país das contradições, Alagoas é o cúmulo. Píncaro do paradoxo. Beleza e injustiça de mãos dadas. Crise conjugal inimaginável, infindável. Terra de extremos, Alagoas”, acentua o jornalista, escritor e crítico Fernando Coelho.

O trabalho contou com a orientação e incentivo da diretora da Edufal e coordenadora da Bienal do Livro, professora Stela Torres Lameiras, que assinou o prefácio, transformado-o num capítulo de apresentação, com lições de lingüística, análise do discurso e destaque para a importância científica do jornalismo.

“São matérias que podem ser vistas para além da informação e nas quais Maurício sabe usar, com maestria, o que Sege Halimi, em Les Nouveaux Chiens de Garde (1997), chama de ‘relicário do poder’: são aqueles poucos segundos de liberdade, dos quais o jornalista faz uso para uma espécie de dissidência, saindo do fato em si, para se expressar mais “livremente”, revelando mais do que a informação: sentindo-a, sobretudo. É um momento singular no qual, tomando de empréstimo a visão bakhtiniana, pode-se afirmar que se vê a alma do falante”, analisa a professora Stela.

Para a professora de Comunicação Social da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Magnólia Rejane, o autor faz um casamento singular da apuração com uma linguagem fluente e criativa. “O desejo de ser objetivo não o tornou simplista, mas o inspirou a escrever com uma emoção genuína. Esse viés afeta sua expressão verbal de forma poética, tocando o coração dos leitores, assim como preconizava Gabriel Garcia Marques a respeito da missão do jornalista. Portanto, essa prática jornalística também pode ser caracterizada como literária na forma e no conteúdo. Cabe ressaltar que ele não cria ficção, não inventa, não delira. A matéria prima dessa arte narrativa é a realidade; o produto é noticioso e a finalidade de cada uma dessas 14 reportagens é informar e formar nova leitura crítica, fugindo das fórmulas de compreensão esclerosadas pelo senso comum”.

O jornalista Lelo Macena, colega de trabalho na Redação da Gazeta de Alagoas, comentou: “É assim, com o espírito da aventura, com o fascínio pela descoberta, pela busca da história ainda não contada, seguindo ao pé da letra o que sugeriu o mestre Marcos Faerman, que esse cabra medonho se lança em suas reportagens. O resultado dessa investida apaixonada se constitui em muitos dos principais textos da imprensa alagoana de todos os tempos. São narrativas cheias de sensibilidade, além de descrições que só poderiam ser feitas a partir do olhar humanizado de quem vê além, de quem enxerga no homem simples do povo, no herói anônimo do cotidiano, o personagem principal da trama”.

Segundo o historiador Douglas Apratto, Maurício atua bem tanto na inovação e na coragem nas abordagens que faz na imprensa quanto na qualidade da informação que presta. Seu fazer jornalístico vai além da busca do tema, da redação e da transmissão da notícia. “Há nele um feeling de pesquisador e acadêmico. Uma salutar inquietude com os desacertos e a miséria que o cerca. Há um comprometimento cidadão com o presente e o futuro. Tenho esperança, e quase certeza, de que este livro, mais que uma iniciação do seu autor, é a confirmação de uma carreira de criador que vai unir o Jornalismo a duas disputadas e apaixonantes vizinhas, a História e a Literatura”.

Em resenha que será publicada no Caderno Saber deste sábado, Fernando Coelho comenta o seguinte: “José Maurício encara o desafio de percorrer as trilhas desta terra – do sertão aos grotões – determinado a descrever instantâneos do lugar, das pessoas e de suas relações em episódios particulares que reescrevem a trajetória do Estado. O resultado de suas imersões em rondas investigativas por veredas e vielas permitiu a confecção de verdadeiros documentos para a compreensão de alguns capítulos recentes da história de Alagoas”.

A coordenadora da VI Bienal Internacional do Livro destaca ainda a importância do jornalismo impresso. “É por esse ângulo que vejo a pertinência de divulgar as matérias de Maurício, que busca construir um jornalismo de qualidade, narrando o fato que presencia, colocando-se como cidadão diante deles, indo além da informação, contando a versão do fato e imprimindo um estilo peculiar, dando espaço ao ser-sujeito que habita a alma do jornalista. Tudo isso nos faz ver a importância da imprensa escrita, por mais que as novas mídias invadam todos os espaços. Só a escrita cuidadosa do jornalista, capaz de dizer o que viu, o que ouviu e ousar revelar, ainda, o que sentiu, pode contribuir para a preservação do impresso”, acrescenta Stela Lameiras.

No prefácio de “Histórias de Alagoas, empreendedores do desenvolvimento sustentável”, Enio Lins pontua: “Ler-se-á, adiante, o texto mais literato do jornalismo alagoano nos tempos em andamento. Lírica, no sentido literal de cheia de sentimento e vibração, a prosa de José Maurício Gonçalves tem aqui e ali, como toda conversa de boa qualidade, um tico de poesia. E de um regionalismo sem exageros e sem saudosismos, atento ao vernáculo praticado popular e cotidianamente em Alagoas”.

Neste segundo trabalho, “Histórias de Alagoas, um pedaço do Brasil”, Stela Lameiras completa: “A escolha lexical, em muitos trechos das matérias selecionadas para este livro, têm um quê de poesia, em meio à dureza das cenas narradas”.

Serviço: Lançamento do livro “Histórias de Alagoas, um pedaço do Brasil”
Autor: José Maurício Gonçalves
Onde: Stand da Viva Editora, no Centro de Convenções, em Jaraguá
Quando: Domingo, dia 3, na VI Bienal Internacional do Livro

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