Pesquisa aponta que 26,7% das amostras de sorvetes analisados estavam impróprias para o consumo.
Pesquisa realizada no Laboratório de Microbiologia dos Alimentos da Faculdade de Nutrição (Fanut) da Ufal demonstrou que 26,7% das amostras de sorvetes analisados estavam impróprias para o consumo. A pesquisa resultou em dois trabalhos de conclusão de curso, graduação e especialização, das nutricionistas Keine Mendonça e Ana Paula Bulhões, respectivamente, sob orientação da professora Ana Cristina Lima Normande e co-orientação da professora Thaysa Barbosa, ambas da Fanut.
Em sorveterias localizadas nos bairros da Ponta Verde, Pajuçara, Gruta, Farol e Jacintinho foram coletadas 45 amostras de 100 gramas de sorvetes de vários sabores, entre frutas e com base láctea. Nas amostras foram analisadas a temperatura de armazenamento dos produtos no momento da coleta e a presença dos coliformes a 45ºC, Salmonella sp e estafilococos.
Entre os resultados obtidos ficou constatado que 100% dos sorvetes eram mantidos em temperaturas inadequadas. "A recomendação é que fiquem a -12ºC, mas quando fizemos a análise, eles estavam entre -4ºC e -9ºC", relata Ana Cristina Normande, coordenadora do laboratório.
Além disso, 12 amostras possuíam índice de coliformes acima do limite estabelecido pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), revelando condições higiênico-sanitárias inadequadas e risco potencial ao consumidor.
A pesquisa foi elaborada com o objetivo de chamar a atenção dos consumidores para o armazenamento e consumo dos alimentos, além de treinar funcionários dos estabelecimentos na implantação de boas práticas para a garantia da segurança do produto.
Essa foi apenas uma entre as atividades desenvolvidas pelo laboratório na área de cadeias produtivas de alimentos, cujos parceiros foram o Banco do Nordeste, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e o Sebrae.
Conforme Normande, as análises são realizadas com intuito de solucionar questões de higiene e adequação dos alimentos às normas vigentes, a partir de medidas simples. "Em uma universidade como a nossa, localizada em um Estado pobre como Alagoas, temos que buscar soluções simples, já que muitas de nossas empresas dificilmente teriam condições financeiras de resolver os problemas a partir de metodologias complexas", relata Normande.
O trabalho foi apresentado no 2º Congresso Brasileiro de Alimentação Coletiva, ocorrido no fim do ano passado, e também submetido para publicação pela Revista Panamericana de Saúde Pública, sob o título "Condições higiênico-sanitárias de sorvetes comercializados no sistema self-service".
Outros alimentos analisados
Pensando sempre em formas de orientar os consumidores e empresas na conservação e garantia da qualidade de alimentos, já foram feitos estudos microbiológicos em sururu, polpas de frutas, leite cru, coco verde, ostras e águas minerais, sempre articuladas com alguns dos parceiros citados acima. É a partir destes recursos que também é possível financiar pesquisas próprias dos integrantes, como o trabalho de análise dos sorvetes.
Para análise das ostras, o Sebrae convidou o laboratório para monitorar a qualidade do alimento cultivado nas cidades de Barra de São Miguel, Coruripe, Porto de Pedras, Maceió e Barra de Camaragibe.
Conforme Normande, os produtores são orientados para o manuseio e manutenção corretos dos produtos, mas o poder de mudança da realidade de contaminação dos alimentos fica limitada pela falta de empenho do poder público em algumas áreas. "Os resultados demonstram diversos problemas com as ostras, causados principalmente pela presença de coliformes fecais disseminados pelas águas das chuvas no inverno e pela falta de saneamento básico nas cidades", relata Normande.
Como resultados destas pesquisas e visando à promoção à saúde, o laboratório pretende confeccionar cartilhas com procedimentos simples para o consumo dos alimentos, com o objetivo de fazer com que consumidores fiquem cada vez mais exigentes na compra dos produtos e adquiram hábitos adequados na manipulação dos alimentos no ambiente doméstico. Essas cartilhas serão confeccionadas com recursos do Pró-Saúde e distribuídas aos usuários das unidades básicas de saúde de Maceió.