Quem nunca teve medo de estar no centro de uma tragédia? De perder as pessoas que ama, de ficar cego, de enlouquecer...
Quem nunca pensou que está sofrendo um infarto para descobrir, momentos depois, que se tratava de um incômodo simples? Quem nunca pensou estar com câncer ao encontrar um nódulo ou mancha na pele que se descobriria, depois, ser fruto apenas do stress?
O medo é inerente ao ser humano, uma defesa natural… Se não fosse, nossa vida seria ainda mais frágil. Quem assistiu ao filme Fim dos Tempos, de M. Night Shyamalan (Aquele diretor do maravilhoso “Sexto sentido”), sabe o que pode acontecer se nosso senso de preservação deixasse de existir.
Quem nunca teve medo de estar no centro de uma tragédia? De perder as pessoas que ama, de ficar cego, de enlouquecer… Esses medos, que em menor ou maior grau carregamos conosco, são naturais desde que não nos paralisem. É normal ter mais receio após um assalto, mudar o percurso após um acidente. E é ainda mais natural ter medo de perder mais após uma perda inestimável.
Somos tão complexos que temos medo até da felicidade. Quem nunca comentou, após um acesso de riso, que teria raiva mais tarde? Quem inventou essa ‘compensação’ esdrúxula de que para ser feliz hoje é preciso pagar com a infelicidade no futuro? Ou que, para ter sorte na carreira é preciso ser infeliz no amor?
Quem já se olhou no espelho, de verdade, e se questionou: eu tenho medo de quê? O filme “Amor além da vida”, de 1998, defendia uma versão interessante e, para mim, inesquecível: o inferno era o reflexo dos nossos medos. O inferno da protagonista, que era muito ligada à família e não gostava de estar entre estranhos, era um mar de rostos desconhecidos e sua casa abandonada e em ruínas, onde ela vivia sozinha.
Como seria o meu inferno? E o seu? Eventualmente, volto a pensar nisso…
No angustiante “Vanilla Sky”, ao cair de um prédio, o personagem interpretado por Tom Cruise questiona: Não tenho medo da queda, tenho medo do impacto… E você? Eu tenho medo da queda, dos intermináveis segundos em que saberei o quão mais próxima do chão – e do fim – estarei.
Mas, deixando a sétima arte de lado, voltemos aos pavores cotidianos: eu tenho medo de barata, de insetos em geral, de escuro, de altura, de perder as pessoas que amo, de enlouquecer, de não ser boa o suficiente, de ficar na miséria, de não ser uma boa mãe (ou filha, ou esposa, ou amiga…). A lista é longa, por isso estou resumindo.
Mas, o que me faz achar que sou normal, com tantos medos assim? Talvez o fato de conseguir lidar com eles e de saber que não existe ninguém, de carne e osso, que nada tema. Eu sei que o medo só se torna preocupante quando nos paralisa. Sei, porque já fui paralisada por ele, mas, consegui juntar os fiapos de energia que restaram e voltar à tona.
Diante das perdas, do cansaço, quem resiste ao pensamento de entregar os pontos? No magnífico filme Melancolia (Sim, confesso… Sou apaixonada por cinema, mas, isso vocês já devem ter percebido) são mostradas várias facetas do medo, mas, a tristeza é retratada com maior fidelidade ao mostrar uma mulher se entregando.
É claro que, muitas vezes se render vai parecer o caminho mais fácil. Mas, enquanto a escolha não for essa, devemos nos olhar – sem medo de enxergar as respostas – e descobrir o que nos apavora. Porque isso é também o que nos move.
Agora, estou com medo de dirigir, mas, sabe qual a melhor parte de sentir medo? Conhecer suas artimanhas, sentir seu cheiro mesmo quando ele ainda está à espreita e ter a certeza, reconfortante, que é possível superá-lo.