Ele jamais desconfiou do romance.
Os irmãos Nelson e Milton Resende Duarte, moradores de Copacabana, se viram protagonistas de uma novela. A mãe, Adeiza Rezende, guardou por mais de 50 anos um segredo: o pai deles não era quem imaginavam, mas, sim, Hans Stern, o bilionário fundador da joalheria H.Stern, que tem 180 lojas espalhadas pelo mundo.
A verdade foi revelada há quatro anos e meio, após a morte de Hans. Milton Duarte, o ex-marido que criou os dois, já estava morto. Ele jamais desconfiou do romance. Os novos futuros milionários agora brigam na Justiça com outros quatro filhos do joalheiro pelo direito à herança, conforme divulgou o colunista Maurício Dias, da revista "Carta Capital".
“Ela deu uma bola nas costas do marido. Aliás, duas. Minha mãe já era casada quando engravidou da gente”, brinca o dentista Milton, 52 anos, que trabalha no Méier e é curador do irmão Nelson, de 54 anos, que sofre de problemas mentais. A mãe é viva e mora nos Estados Unidos com o sexto marido.
O romance de Hans Stern, alemão naturalizado brasileiro, e Adeiza durou cinco anos e começou por acaso, em 1953. Na Praça Mauá para fazer compras, ela, com 19 anos, recebeu cupom que dava direito a brinde da H. Stern. Quando foi buscá-lo, foi recebida por Hans, à época com 31 anos.
Adeiza já era casada, o joalheiro, não. Hans se casou quando Nelson já era nascido. “Ele era galanteador. Minha mãe contou que se apresentava como Johnny e adorava presenteá-la com flores”, conta Milton.
O dentista, com consultório improvisado em casa no Méier, ainda aguarda o desfecho do processo judicial sobre a partilha da herança, que corre em segredo de Justiça.
Os exames de DNA já foram feitos e comprovam que os dois são irmãos de Ronaldo, Roberto, Ricardo e Rafael Stern, herdeiros de Hans. “Primeiro tivemos de provar que não éramos filhos do Milton. O exame mostrou que a chance era de 0,0001%. E do Hans, de 99,9%”, contou Milton.
Religião evitou a exumação
A luta pela comprovação do parentesco foi demorada. Primeiro, os quatro filhos registrados por Hans não quiseram ceder material para o exame de DNA. A Justiça determinou a exumação do bilionário, mas ela não aconteceu.
“Meus irmãos decidiram fazer o teste na véspera da exumação, que é proibida pelo judaísmo, a religião deles”, conta Milton, que contratou o escritório de advocacia Zveiter para cuidar do caso. Toda essa saga potencializou o bom humor do dentista. No Carnaval, ele se fantasiou de Hans.
Comprou um relógio dourado no camelô por R$ 60, óculos iguais aos do pai, pintou o bigode de branco e parou para cumprimentar os funcionários da loja da H. Stern em Ipanema. “Tenho que me divertir com o caso, ora. Ou você acha que eu vou chorar depois de tudo isso ?”, brincou.