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“Quase craques” encaram lado B do futebol em busca dos sonhos

Garotos se arriscam no exterior e veem as experiências como um presente do mundo da bola.

Arquivo Pessoal/Reprodução Facebook

Fábio Augusto e André Lamas são exemplos de jogadores que enfrentaram as dificuldades pelo sonho de jogar futebol

Todo garoto, quando criança, sonha ser jogador de futebol. Quem nunca vestiu a camisa de seu ídolo e saiu comemorando igual a ele ou fazendo uma defesa e gritando nome do goleiro do seu clube de coração?

A realidade é que para se tornar um jogador de futebol profissional o caminho é longo, a estrada é esburacada e poucos têm a sorte de chegar ao destino principal: o sucesso de ser um craque consagrado.

E é nesse ponto, entre a busca pelo sucesso e a racionalidade da hora de parar, que muitos jogadores acima dos 20 anos se encontram. Continuar atrás do sonho de ser um craque reconhecido ou desistir e pensar em outra profissão?

André Lamas é volante respira futebol dentro e fora de casa, é irmão de Bruno Lamas, uma das revelações do Santos. Aos 23 anos, após passar por América de Rio Preto, Corinthians, Palmeiras e até jogar no futebol da Ucrânia e Hungria, foi buscar seu espaço no Al-Shahaniya, do Qatar. Para ele, o que interessa é viver de futebol:

— Muitas vezes a gente não tem uma definição do que vai acontecer. Viver do futebol, ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, é uma missão muito difícil. A maioria das pessoas olham só para as histórias de sucesso e acabam esquecendo da maioria que acaba ficando pelo caminho. Vou fazer o que puder para ter sucesso nessa carreira. Dar certo ou não é meio relativo. Eu vivo isso!

Caso parecido vive Fabio Augusto. Aos 24 anos, o meia-atacante está sem clube, mesmo com passagens pelo Palmeiras, por times da Europa, como Parma e tendo enfrentado craques como Alexandre Pato e Marcelo. Mas, de qualquer maneira, o que importa para ele é investir no sonho.

— Enquanto há oportunidades, não se pode desistir. Com o decorrer do tempo as coisas ficam mais difíceis, mas se estiver com autoconfiança e bem fisicamente não se deve desistir do sonho.

Carlos Bernardo tem 29 anos e, por mais que tenha jogado com Thiago Motta, da Inter de Milão, e o goleiro Rubinho, nunca levou o futebol como profissão. O que interessava era a diversão. Mas segundo ele, hoje em dia, tem muito garoto que se engana com sonho de ser jogador.

— Dependendo da idade, o auxilio dos pais é fundamental, porque todo mundo acha que joga muito, que pode jogar profissionalmente, e não é assim não. Por isso os pais têm que estar perto para dar uma brecada. Hoje em dia tem muito moleque metido a boleiro que não sabe nem dar um passe, e só para falar que é jogador, fica tentando até ficar velho, sendo que nunca teve condição nenhuma de jogar bola.

André e Fábio dizem acreditar que para um jogador ter sucesso na carreira é preciso uma junção de fatores, entre eles, a qualidade, empresários e também a sorte. O volante afirma que o que vale também é o momento do clube e a boa relação com elenco e torcida.

— Os empresários abrem muitas portas no sentido de conhecer muita gente. Mas se o cara não corresponder dentro do campo, não há quem faça milagre. O talento, sem dúvida, é o mais importante. Depois vem um pouquinho de cada coisa. Até sorte o cara tem que ter. O momento do time. O jeito do técnico. O humor dele… A forma com que é visto pelo grupo. O que quem assiste ao jogo pensa de você, tudo conta.

Fábio Augusto revelou que um jogador sabe a hora de parar com o futebol e que é neste momento em que o jogador coloca na balança se vale à pena insistir no sonho, ou sustentar a família, já que muitos garotos têm uma vida financeira instável.

— Muitos garotos vêm de situação financeira baixa, percebem que o futebol não está dando dinheiro e buscam o sucesso em outras profissões. Muitos têm qualidade, porém acabam parando por não ter como sustentar suas famílias vivendo do futebol.

Muitos especialistas e comentaristas encaram as peneiras como uma forma errada de avaliar o talento de um garoto, já que é pouco tempo em campo e infinitos meninos em um busca de um sonho. Esse também é o pensamento de Carlos Bernardo, que é professor de Educação Física.

— Acho as peneiras uma forma praticamente impossível de avaliar alguém. Em uma peneira pouco se toca na bola, cada um quer fazer a sua parte, aparecer do seu jeito, rola nervosismo e futebol mesmo é oque menos se joga. A não ser que o moleque seja um gênio e consiga acabar com o coletivo sozinho no meio de outros 21, acho muito difícil conseguir avaliar corretamente um jogador em uma peneira.

André Lamas conta que o futebol brasileiro no Qatar é muito bem visto, já que tivemos jogadores com muito sucesso por lá, como é o caso do Felipe, que está atualmente no Vasco, e Emerson Sheik, que fez fama e fortuna, jogando na terra do Petróleo.

— Com certeza a participação do Emerson aqui foi marcante. Lembram dele a todo momento. Fez muitos gols e conquistou títulos. O Felipe, que está no Vasco hoje, também foi um que se destacou dando passes para o Sheik balançar as redes.

Sheiks, Ronaldinhos e Fenômenos ficam todos os dias pelo caminho no futebol, por conta de fatores determinantes. Para os jogadores que ainda insistem no sonho de fazer do mundo da bola sua profissão, o que vale, mesmo se tudo der errado é a experiência de ter dado a cara à tapa, como diz André:

São experiências que guardarei para o resto da vida. Lugares diferentes, novas culturas, pessoas de todos os tipos. O futebol me proporcionou tudo isso. Sigo atrás desse sonho. Luto por isso e enfrento as aventuras atrás dele. Sempre tentando levar tudo com alegria. Acho que isso é muito importante.

Fábio pensa ainda mais longe e garante que não vai sossegar enquanto não vestir a camisa da seleção brasileira no torneio esportivo mais importante do mundo:

— Meu maior sonho é jogar uma Copa do Mundo.